As memórias que o opositor russo Alexei Navalny— morto há quase dois meses em circunstâncias ainda pouco claras — começou a escrever após seu envenenamento, em 2020, serão publicadas em outubro, com o título de “Patriota”, segundo uma editora americana.
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“É a história completa da sua vida: a sua juventude, a sua vocação ativista, o seu casamento e a sua família, e o seu compromisso com a causa da democracia e da liberdade russas face a uma superpotência mundial determinada a silenciá-lo”, anunciou a editora.
O livro, que terá tiragem inicial de 500 mil exemplares, estará à venda mundialmente no dia 22 de outubro.
Iniciado logo após o seu envenenamento pelo regime de Vladimir Putin em 2020, do qual recuperou milagrosamente num hospital na Alemanha, Navalny expressa a sua “convicção total de que a mudança não pode ser resistida e que ela virá”.
Incluem correspondência da prisão e narram a sua carreira política, os numerosos atentados contra a sua vida e contra as pessoas mais próximas dele, e a campanha que ele e a sua equipa travaram contra o regime de Putin.
Para a sua viúva, Yulia Navalnaya, “este livro é um testemunho não só da vida de Alexei, mas do seu compromisso inabalável na luta contra a ditadura, uma luta pela qual deu tudo, incluindo a sua vida”.
“Compartilhar sua história não apenas honrará sua memória, mas também inspirará outros a defender o que é certo e nunca perder de vista os valores que realmente importam”, acrescenta em comunicado da editora.
É, de acordo com o seu editorial, um "relato comovente dos últimos anos passados na prisão mais brutal do planeta; um lembrete da razão pela qual os princípios da liberdade individual são tão importantes; e um apelo estimulante para continuar o trabalho por quem sacrificou a vida dele."
Protesto em eleições
No fim de março, eleitores se reuniram em frente a colégios eleitorais em Moscou e outras cidades russas ao meio-dia, em resposta a um chamado da oposição para homenagear o opositor russo e denunciar as eleições de cartas marcadas que terminam hoje e devem dar mais um mandato ao líder russo, Vladimir Putin.
O ato, batizado de "Meio-dia contra Putin", foi divulgado pela viúva de Navalny, Yulia Navalnaya, que compareceu à embaixada russa em Berlim para votar. Segundo organizações de direitos humanos, ao menos 74 pessoas foram detidas nas manifestações.
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O governo informou que o comparecimento dos eleitores superou os 67,5% registrados em 2018, quando as eleições foram realizadas em apenas um dia. Conforme a Comissão Eleitoral Central, a participação até às 16h30 (10h30 em Brasília) era de 70,8%.
As votações ocorreram em meio ao aumento dos bombardeios ucranianos, incursões de grupos pró-Ucrânia em território russo e atos de vandalismo em colégios eleitorais. Somente no primeiro dia, cerca de 13 pessoas foram detidas por ações que vão desde explosões em seções eleitorais até o despejo de líquido verde nas urnas.
O Kremlin apresentou o pleito como uma oportunidade para que os russos expressem seu apoio à ofensiva na Ucrânia. Já o governo ucraniano classificou as eleições como “ilegítimas” e instou seus aliados ocidentais a não reconhecerem o resultado.
Quem foi Alexei Navalny?
Aos 47 anos, o mais notório opositor de Putin morreu, de acordo com a versão oficial fornecida pelo Serviço Penitenciário Federal russo, depois de sentir-se mal “após uma caminhada, perdendo quase imediatamente a consciência”. No túmulo de Navalny, em Moscou, jornalistas da AFP viram cédulas eleitorais com o seu nome, colocadas sobre uma pilha de flores. O opositor chegou a tentar concorrer às eleições presidenciais de 2018, mas teve sua candidatura rejeitada.
![Alexei Navalny — Foto: AFP](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/dJ4rjE4Erhleu_4jkvPvW1duKVI=/0x0:1960x1307/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/a/K/yNg4CFSvqxorpbjPA9WA/afp-20240216-34jb898-v1-highres-filesrussiapoliticsnavalnyobit.jpg)
Advogado de formação, Navalny já havia sido envenenado em agosto de 2020. Na ocasião, ele passou por um tratamento na Alemanha, onde viveu por alguns meses. Foi preso no início de 2021, após regressar à Rússia, onde continuou denunciando a repressão e a corrupção das elites. Também era um forte crítico da campanha militar do Kremlin contra a Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022.
Um dia após sua morte, a polícia russa prendeu centenas de pessoas durante manifestações em homenagem a ele, segundo o grupo de defesa dos direitos humanos OVD-Info, a maioria em São Petersburgo e alguns em Moscou.