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Por O Globo e agências internacionais — Porto Príncipe

O poderoso líder de uma das gangues no Haiti, Jimmy Chérizier, apelidado de "Barbecue", ameaçou, na terça-feira, iniciar uma "guerra civil" no país caso o primeiro-ministro, Ariel Henry, permaneça no poder. A declaração foi feita em meio a uma nova onda de violência na capital Porto Príncipe, que resultou em mais de dez mortes no fim de semana, aumentando a instabilidade política e a tensão no país caribenho já assolado por uma profunda crise institucional e humanitária. Nesta quinta, o governo prorrogou por um mês o estado de exceção em parte da capital, Porto Príncipe, atingida pela violência.

— Se Ariel Henry não renunciar, se a comunidade internacional continuar apoiando seu governo, seguimos no caminho de uma guerra civil que levará ao genocídio — declarou Jimmy Cherizier, conhecido como "Barbecue", durante uma entrevista à imprensa.

No domingo, o governo do Haiti decretou o estado de emergência em Porto Príncipe "por um período renovável de 72 horas" e um toque de recolher após a invasão a uma penitenciária, que acarretou na fuga de mais de 3 mil detentos e a uma nova onda de violência na cidade. Considerado o país mais pobre do continente americano, o Haiti enfrenta uma grave crise política, humanitária e de segurança desde o assassinato do então presidente Jovenel Moïse, em 2021.

Quem é 'Barbecue'

Chérizier, um ex-policial nascido na capital haitiana, emergiu como uma figura central na onda de violência de gangues que assolou o Haiti nos últimos anos. Chegou a ser acusado pelos Estados Unidos e pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas de graves violações dos direitos humanos diante da crise no país, o que culminou em diversas sanções internacionais — que, até então, não foram suficientes para barrá-lo.

Após o assassinato de Moïse, Chérizier, de 47 anos, ganhou destaque ao liderar aquilo que descreve ser uma "revolução contra a elite política corrupta do país", usando as redes sociais para disseminar sua mensagem e atrair seguidores para sua organização armada. Presente no X (antigo Twitter), WhatsApp, Instagram, TikTok e YouTube, ele já reconheceu a importância das redes sociais, agradecendo às tecnologias por "proporcionarem uma plataforma para se defender das acusações" contra ele e para se aproximar do público.

— Sou quem digo ser. Não faço 99% do que disseram que fiz... As tecnologias me deram a oportunidade de me defender — alega em um vídeo.

Quanto ao seu apelido, ele já alegou em entrevistas que o recebeu porque a mãe vendia frango na rua. No entanto, testemunhas da violência no Haiti sugerem uma explicação mais sombria, associando-o a incêndios de casas e corpos de vítimas.

De policial a líder de gangue

Chérizier começou sua trajetória criminosa quando ainda era agente da polícia, segundo uma reportagem da BBC.

Em 2017, esteve envolvido na morte de nove civis durante uma questionada operação oficial contra máfias, em um bairro de Porto Príncipe. Um ano depois, quando as conexões com as gangues já se tornavam mais fortes (tendo se tornado o porta-voz de uma delas), envolveu-se no massacre no bairro de La Saline, onde 71 pessoas foram mortas. De acordo com o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, tratava-se de um ataque coordenado da polícia e de grupos criminosos contra a população local para reprimir a dissidência política local.

Dezenas de outros ataques ocorreram nos anos seguintes, com o suposto envolvimento de Chérizier. Porém, apesar das múltiplas sanções e acusações, Chérizier — que sempre negou qualquer conexão com esses ataques — consolidou-se como um dos mais poderosos líderes das máfias, estabelecendo uma batalha sangrenta pelo controle de Porto Príncipe e unindo nove gangues em 2020 sob seu comando na G9 e Família. O anúncio da união chegou a ser transmitido no seu canal do YouTube.

— Os bandidos nunca seriam tão poderosos como são no Haiti sem as redes sociais. Sempre tivemos criminosos, mas, sem essas plataformas, eles não seriam tão famosos — disse Yvens Rumbold, membro de um think tank de políticas públicas do Haiti, ao jornal The Washington Post, citado na reportagem.

Assassinato de Moïse

O que teria motivado o líder a declarar guerra contra o Estado, segundo a reportagem, foi o corte de financiamento do governo após o assassinato de Moïse. Com a morte do presidente, o G9 chegou a um ponto de ruptura, levando Chérizier a intensificar seus ataques contra o novo governo e seus oponentes políticos. Isso porque, de acordo com o portal InSight Crime, cerca de metade do financiamento da gangue vinha do governo, com o restante sendo resultante de sequestros e extorsões.

Segundo Pierre Esperance, diretor da ONG Red Nacional de Defensa de Los Derechos Humanos no Haiti, em entrevista realizada em 2021, "as gangues estão melhor equipadas do que a polícia e contam com a proteção das autoridades", o que explica a impunidade das gangues no país.

Em outubro de 2021, pouco após o assassinato, Henry foi impedido por membros fortemente armados da gangue de Chérizier de depositar uma coroa de flores em um monumento em homenagem a Moïse. Quem o fez foi justamente Chérizier, vestido de branco e cercado por seus homens, num gesto claro para demonstrar seu poder.

Chérizier também é acusado de liderar ações de sabotagem no fornecimento de combustível, bloqueando carregamentos de gasolina para pressionar o governo de Henry e agravando a crise humanitária no Haiti. Além disso, a G9 também esteve envolvida em uma guerra violenta com a G-Pèp, uma gangue rival supostamente ligada à oposição ao presidente assassinado.

Segundo a ONU, 8.400 pessoas foram vítimas da violência das quadrilhas no ano passado, incluindo mortos, feridos e sequestrados, "um aumento de 122% em relação a 2022". (Com agências internacionais.)

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