O perfil oficial de Israel no X (antigo Twitter) publicou nesta terça-feira que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) negou o Holocausto após ele ter comparado as mortes na Faixa de Gaza à matança de judeus na Segunda Guerra Mundial. A declaração do petista, feita no último domingo, desencadeou uma crise diplomática com o governo israelense, e Lula foi considerado persona non grata por Tel Aviv.
Na rede social, o perfil de Israel, administrado pelo Ministério das Relações Exteriores do país, mencionou outra publicação que dizia: “O que vem à sua cabeça quando você pensa no Brasil?”. Como resposta, a página respondeu: “Antes ou depois de Lula negar o Holocausto?”. O mal-estar entre Brasília e Tel Aviv teve início após o petista ter criticado os ataques israelenses na Faixa de Gaza e feito uma comparação com o extermínio de judeus.
— O que está acontecendo na Faixa de Gaza não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu, quando Hitler resolveu matar os judeus — afirmou Lula no domingo.
As declarações do presidente, que também classificou como “genocídio” a guerra em Gaza, foram feitas em entrevista a jornalistas na Etiópia. No sábado, Lula discursou na sessão de abertura da cúpula da União Africana, e teve reuniões bilaterais com líderes do continente, além do primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammad Shtayyeh. No encontro, ele criticou Israel e o Hamas.
O presidente comparou Gaza com o Holocausto no momento em que criticava países ricos que suspenderam o financiamento à agência da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA, na sigla em inglês), após a denúncia do governo israelense de que funcionários do órgão haviam participado do ataque terrorista do Hamas a Israel em outubro do ano passado.
— Quando eu vejo o mundo rico anunciar que está parando de dar contribuição para a questão humanitária aos palestinos, fico imaginando qual é o tamanho da consciência política dessa gente e qual o tamanho do coração solidário dessa gente que não está vendo que na Faixa de Gaza não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio — disse Lula. — Não é uma guerra entre soldados. É uma guerra entre um Exército altamente preparado e mulheres e crianças.
Este não é, porém, o primeiro mal-estar entre Lula e Tel Aviv. Em 2010, Israel convidou o líder brasileiro a visitar o túmulo de Theodor Herzl, conhecido como pai do sionismo moderno, e Lula negou.
Na época, o Brasil teria pedido esclarecimentos ao governo israelense sobre a inclusão da cerimônia de homenagem na agenda de Lula. Os planejamentos oficiais do presidente originalmente previam apenas uma visita ao Museu do Holocausto e ao túmulo de Yitzhak Rabin, o primeiro-ministro israelense que iniciou o processo de paz com os palestinos e foi assassinado em 1995 por um extremista de direita de Israel. Autoridades locais chegaram a dizer que não havia intenções ocultas por trás do pedido de visita, mas a comitiva brasileira respondeu que Lula também não tinha intenções “ocultas” ao declinar o convite.
Ainda durante sua visita a Israel, Lula criticou a expansão dos assentamentos israelenses na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental em discurso ao Parlamento do país. O presidente defendeu a importância do diálogo na solução dos conflitos no Oriente Médio.
— A postura [de diálogo] se faz mais necessária agora, quando assistimos a paralisação das negociações e iniciativas unilaterais que as dificultam, como o anúncio da construção de residências em Jerusalém às vésperas do reinício de uma rodada de negociações — afirmou Lula na ocasião. — O impasse agrava a deterioração das condições de vida nos territórios palestinos ocupados. Mas também alimenta fundamentalismos de todos os lados e coloca no horizonte conflitos mais sangrentos ainda.