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Por , com agências internacionais — São Paulo

Com todas as atenções voltadas para o acordo de cessar-fogo temporário em Gaza e a pressão da comunidade internacional apontada para Israel pelo alto custo civil da invasão do enclave palestino, grupos da sociedade civil e setores da polícia israelense trabalham para expor os crimes sexuais praticados pelo Hamas do seu lado da fronteira. Ativistas feministas e autoridades afirmam que o tema foi encoberto pelo impacto provocado pela ofensiva militar, e tentam documentar os casos individualmente, em busca de responsabilização e da caracterização dos atos como crimes de guerra.

Evidências coletadas por grupos feministas e peritos da polícia criminal israelense apontam que houve uso de violência sexual durante os ataques. Com base no depoimento de sobreviventes e da análise dos corpos recuperados em áreas atacadas pelo Hamas, autoridades e voluntários envolvidos na apuração dizem já ser possível comprovar práticas como mutilação genital e estupro —classificado como crime de guerra pelo Tribunal Penal Internacional, embora Israel não seja signatário do Estatuto de Roma — mas que ainda falta a comprovação de que as violações foram ordenadas pelo Hamas.

— Nada foi feito por acaso — disse David Katz, chefes da unidade da polícia criminal Lahav 443, que investiga vários possíveis casos de agressão sexual. O policial diz, contudo, que ainda é necessário reunir mais provas para comprovar uma ordem direta.

Pai reconhece em vídeo a filha sequestrada em Gaza e faz apelo

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Logo depois que o Hamas ultrapassou o posto fronteiriço de Erez, entre Israel e a Faixa de Gaza, os terroristas chegaram rapidamente a uma base militar israelense dedicada à guarda da fronteira, uma tarefa geralmente executada por soldados mulheres. Várias delas foram sequestradas ali, segundo os testemunhos de sobreviventes.

Imagens coletadas pela investigação mostram uma delas, em um vídeo divulgado pelo Hamas, sendo carregada em um veículo, com feridas nos tornozelos e a parte traseira das calças manchada de sangue. Em uma foto, feita na festa rave no kibutz Reim, também alvo dos ataques, vê-se uma mulher com a parte inferior do corpo sem roupa, deitada de bruços, com as pernas abertas e com queimaduras na cintura e nas extremidades. Em outra imagem aparece uma mulher nua e com as pernas abertas.

Participantes de rave fogem pelo deserto após invasão de extremistas em Israel

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De acordo com a professora de Relações Internacionais Karina Calandrin, assessora do Instituto Brasil-Israel (IBI), o aparente uso indiscriminado de crimes sexuais representaria uma mudança de perfil no histórico do conflito entre israelenses e palestinos.

— Infelizmente, o uso de violência sexual se repete em várias guerras. Mas no caso do conflito Israel-Palestina, não é algo muito relatado. Quando pensamos na primeira e na segunda intifada, ou mesmo em confrontos anteriores com o Hamas, o que se repete é o uso de bombardeios, atentados explosivos e a faca, até mesmo ataques com pedras — explica a professora.

Ainda de acordo com a professora, contudo, a violência sexual praticada pelo Hamas no último ataque, poderia ter conexão com o objetivo estratégico do grupo terrorista de forçar uma reação desmedida de Israel contra Gaza, a fim de jogar a opinião pública internacional contra o Estado judeu, que detém superioridade bélico-militar e contra quem uma vitória por meio de um conflito direto seria improvável.

Revelando evidências

Comprovar que os terroristas do Hamas cometeram crimes sexuais em meio à turbulência da guerra tem se provado um desafio para a polícia israelense, que lançou, na semana passada, uma força-tarefa para trabalhar na investigação. A documentação dos casos de estupro e demais agressões está sendo feita por meio de imagens de câmeras de vigilância, interrogatórios de terroristas detidos após os ataques, exames médicos e relatos de sobreviventes e testes de DNA em corpos dos falecidos.

De acordo com as autoridades, exames forenses foram realizados nas áreas atacadas pelo Hamas e os corpos recuperados foram levados à base militar de Shura, onde passaram por testes de DNA e necropsias detalhadas, embora centenas dos restos mortais identificados estivessem "em péssimo estado", segundo a polícia.

Vídeo mostra momento em que terroristas do Hamas atiram contra banheiros em rave de Israel

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— Vi [feridas de] disparos nas partes íntimas, uma cabeça e membros decepados — disse Alon Oz, médico na base de Shura, acrescentando que alguns soldados do sexo masculino também foram objeto de mutilações.

Segundo uma pessoa encarregada de limpar os corpos ouvida pela AFP, que pediu para ser identificada como Sherry, vários membros da equipe viram "pernas e pélvis fraturadas".

Ativismo feminista

Apesar da investigação em curso, classificada pelo comissário da polícia de Israel, Yaakov Shabtai, como "a mais importante da História", a falta de uma resposta específica e imediata do governo aos indícios de violência sexual provocou a mobilização de grupos feministas israelenses, que se uniram em torno da missão de relatar os casos e criar protocolos para as sobreviventes.

De acordo com a professora Ruth Halperin-Kaddari, integrante da Comissão Civil sobre os Crimes do Hamas contra Mulheres e Crianças de 7 de Outubro, a iniciativa surgiu após ser constatada a falta de capacidade das autoridades em documentarem os acontecimentos do dia do ataque.

Civis ficam no meio do fogo cruzado entre soldados israelenses e extremistas do Hamas

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"[As autoridades estavam] completamente sem consciência quanto à necessidade de adaptação a esta situação sem precedentes em Israel; como tratar adequadamente as provas forenses das vítimas assassinadas, preparar os protocolos para o tratamento dos sobreviventes, ou reunir todas as provas digitais de violência sexual", disse a professora, em entrevista ao Haaretz Weekly, podcast do jornal israelense de mesmo nome.

Por meio da atuação do grupo, foi implementado um protocolo nos hospitais que podem receber reféns libertadas, a fim de que haja um acolhimento e uma documentação correta de cada possível caso a ser investigado. (COM AFP)

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