O cantor de pop iraniano Mehdi Yarrahi, de 41 anos, foi detido nesta segunda-feira por lançar uma música contra o uso obrigatório do véu islâmico, informou a imprensa estatal do Irã. "Rousarito", que em tradução livre significa "Seu Lenço", foi lançada na sexta-feira e defende o "véu facultativo".
— Após a divulgação de uma música ilegal de Mehdi Yarrahi e a apresentação de uma denúncia, Yarrahi foi detido por ordem do procurador de Teerã — afirmou a agência de notícias oficial do Poder Judiciário, Mizan Online, citado pela AFP.
Um dia antes, o veículo estatal já havia informado que a canção, classificado de "música ilegal que desafia os costumes e práticas da sociedade muçulmana", foi alvo de ações judiciais.
A cança é dedicada às "corajosas iranianas" que participaram do movimento de protestos após a morte da jovem curda Mahsa Amini, de 22 anos, enquanto sob custódia policial, em setembro do ano passado.
Amini foi detida pela polícia da moralidade sob a acusação de ter violado o código de vestimenta da República Islâmica, que obriga as mulheres a usar o véu em público desde 1979.
Essa não é a primeira vez que Yarrahi escreve músicas polêmicas. O cantor já era conhecido por sua canção "Soroode Zan" ("Hino da Mulher", em tradução livre), que foi lançada no início de outubro do ano passado e se tornou um símbolo para os manifestantes, inclusive nas universidades.
Teerã sob protestos
No Irã, as mulheres são obrigadas a cobrir os cabelos, e a polícia da moral as proíbe de usar calças justas, jeans rasgados ou roupas de cores vivas, entre outras restrições.
- ‘O véu tem que ser uma opção!’, clamam iranianas em Teerã
A polícia da moralidade, nome pelo qual é chamada a Patrulha de Orientação, responsável por vigiar o cumprimento das normas de vestimenta, já não era popular há algum tempo, mas as manifestações de setembro de 2022 foram o primeiro levante contra suas ações.
As manifestantes contaram que, na época, os policiais intensificaram a repressão após a morte de Amini.
— Com esse novo caso, as pessoas já não chamam a unidade de “Gasht-e Ershad” (patrulhas da orientação), mas de “Ghatl-e Ershad” (orientação do assassinato) — contou Reyhaneh, uma estudante de 25 anos, no norte de Teerã à AFP, em setembro do ano passado.