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Por O Globo, com agências internacionais

Em algum momento na sexta-feira, segundo projeções da ONU, a Índia atingirá a marca de 1.425.775.850 habitantes. O número, uma estimativa a partir de padrões de crescimento demográfico, é significativo e transforma o país do Sul da Ásia no mais populoso do planeta, superando a China. Uma série de outras projeções, de órgãos como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, considera também que o novo recorde demográfico acompanha uma mudança profunda que se desenha para as próximas décadas: a ascensão de uma potência de peso econômico crescente e em busca de seu lugar no mundo. À sombra da disputa entre Washington e Pequim, a Índia já vem buscando posicionar-se como um terceiro ator global.

O contexto internacional parece propício: Nova Délhi quer oferecer algo como uma terceira via em um mundo conturbado e a caminho do que muitos enxergam como uma nova Guerra Fria. Entre outras coisas, servirá em 2023 como presidente do G20, o fórum no qual as principais economias do planeta se reúnem; e tem a vontade declarada do governo de aproveitar a oportunidade para ditar o ritmo e influenciar questões internacionais.

A 5ª maior economia

Narendra Modi, o primeiro-ministro nacionalista do país, deu o tom desse projeto geopolítico no ano passado, quando o produto interno bruto (PIB) da ex-colônia britânica superou o do Reino Unido e ela se tornou a quinta maior economia do mundo:

— Deixamos para trás aqueles que nos governaram por 250 anos — afirmou. — Não vamos parar agora.

As expectativas são altas. Em um ano marcado pelo pessimismo e com as economias rachadas por turbulências de todos os tipos, “a Índia continua sendo um ponto positivo”, disse Pierre-Olivier Gourinchas, diretor de análise do FMI, apresentando o relatório Perspectivas Econômicas para 2023. Ao lado da China, a Índia será a locomotiva do planeta este ano: juntas contribuirão com 50% do crescimento mundial. Grandes corporações, como a Apple, começaram a transferir parte de sua produção para o país. O Banco Nacional da Índia acredita que a nação sul-asiática se tornará a terceira maior economia do planeta em 2029.

— Muitos já disseram que é a década da Índia. Sinceramente, acho que é o século da Índia — disse Bob Sternfels, CEO da consultoria McKinsey em entrevista no ano passado.

Entre seus argumentos, ele usou a população: o país, disse ele, está a caminho de se tornar um polo industrial e até 2047 a expectativa é de que 20% dos trabalhadores do mundo sejam indianos. Alguns analistas indianos consideram que, de fato, chegou o momento do salto.

Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia. — Foto: Money Sharma / AFP
Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia. — Foto: Money Sharma / AFP

— Enquanto a China já enfrenta uma crise demográfica, a Índia está colhendo um dividendo demográfico — diz Brahma Chellaney, professor de Estudos Estratégicos do Centro de Pesquisa Política, com sede em Nova Délhi.

A idade média, diz ele, é de cerca de 28 anos, o que torna o país um dos mais jovens do mundo — nos EUA, a média é de 38 anos, e na China, de 39. E esta população “está conduzindo um rápido crescimento econômico, contribuindo para o auge do consumo e impulsionando a inovação, evidenciada pelo desenvolvimento de uma economia da informação de nível mundial”, avalia.

O processo já dura algum tempo. Em seu livro “As novas Rotas da Seda”, o historiador Peter Frankopan apontou que “a expansão espetacular da classe média indiana nas últimas três décadas continua hoje em um ritmo extraordinário. Embora alguns economistas apontem que a distribuição de riqueza na Índia é altamente desigual e são os ricos que se beneficiam desproporcionalmente, é revelador o fato de que o número de famílias com uma renda disponível de mais de US$ 10 mil por ano aumentou em dois milhões em 1990 para 50 milhões em 2014”.

Esses dados já são antigos, mas seguem significativos. Há outros mais atuais: o gasto do consumidor final mais que dobrou na Índia desde 2010, chegando a US$ 2,25 trilhões em 2021, segundo o Banco Mundial. Chellaney aponta que o desafio é “aproveitar ao máximo” custos trabalhistas relativamente baixos e o crescente interesse das empresas ocidentais em transferir a produção da China para se tornar “uma potência industrial”.

Esse interesse cresceu durante a pandemia frente à política de Covid zero adotada pela China, que manteve suas fronteiras externas praticamente fechadas por três anos. Também se somam os atritos com os EUA e o receio de um conflito em Taiwan.

— As empresas não estão saindo do gigante asiático, mas estão se diversificando: o investimento que poderia ir para a China está indo para outros lugares — diz Bettina Schoen-Behanzin, vice-presidente da Câmara de Comércio da União Europeia na China.

Oportunidade geopolítica

A porta que se abriu para a Índia não é apenas econômica, mas também geopolítica. O país está tentando se posicionar “como uma ponte entre potências rivais”, avalia Chellaney. Nova Délhi, por exemplo, tem uma aliança histórica com a Rússia e faz parte da Organização de Cooperação de Xangai. Nesse órgão regional asiático, convive, além da Rússia, com a China, com a qual mantém um conflito fronteiriço ainda aceso, e o Paquistão, com que tem um longo histórico de hostilidade.

Por outro lado, a Índia tem fortalecido os laços com o Ocidente e seus aliados, participando do fórum de segurança Quad, focado no Indo-Pacífico, e do qual fazem parte também EUA, Austrália e Japão. Para Washington, a Índia — uma potência nuclear — tornou-se peça cada vez mais importante para fazer frente ao crescente poderio da China.

— Acho que os formuladores de políticas indianas reconhecem que este é um momento que eles não podem perder — analisa Harsh Pant, vice-presidente de política externa e estudos da Fundação de Pesquisa do Observador, com sede em Nova Délhi, que dá como exemplo a ambiciosa política de comércio exterior lançada na semana passada com a meta de atingir os US$ 2 trilhões de exportações em 2030, o que significaria quase triplicar o valor atual.

Outros analistas, porém, avaliam que há um “excesso de entusiasmo”.

— A realidade no terreno é outra — pondera Sushant Singh, também analista do Centro de Pesquisa Política.

Segundo ele, a Índia continua sendo um país muito pobre e muito desigual, com a menor renda per capita do grupo do G20: pouco acima de US$ 2.200, abaixo de países como Bangladesh ou Gana. Em valores absolutos, o PIB da Índia é de cerca de US$ 3,5 trilhões, comparado com os US$ 18,3 trilhões da China e os US$ 25 trilhões dos EUA, segundo dados do FMI.

A força de trabalho, continua Singh, não está suficientemente capacitada para favorecer essa mudança que muitos preveem — 46% dos maiores de 25 anos não concluíram o ensino fundamental, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A Índia também continua a ser um país eminentemente agrícola — o setor emprega 45,5% da força de trabalho, apesar de representar 20% da economia — além de não ser uma economia exportadora, pois é responsável por enos de 2% das exportações mundiais de mercadorias, afirma.

Singh continua: os baixos índices de desemprego camuflam uma vasta economia informal, e o país tem uma das taxas mais baixas do mundo de mulheres ao trabalho formal.

Houve progresso, é verdade. Na Índia, segundo a ONU, cerca de 415 milhões de pessoas escaparam da “pobreza multidimensional” em 15 anos, um número “histórico”. Mas ainda há muito a percorrer: segundo a Oxfam, 10% da população detêm 77% da riqueza.

— A Índia pode se tornar uma grande economia? — questiona-se Singh. — Claro. Mas não imediatamente.

Guinada autocrática

Toda essa ascensão econômica, no entanto, vem ocorrendo contra um pano de fundo de uma guinada autocrática capitaneada por Modi, que desde 2014 governa o país com uma agenda nacionalista que busca cada vez mais poderes nas mãos do Executivo e é acusado de cercear as liberdades democráticas e civis do país. Em seu relatório de 2022, o V-Dem Institute, da Suécia, que monitora a democracia mundial, caracterizou a Índia como uma “autocracia eleitoral”.

Já a Freedom House, dos EUA, indicou no mesmo ano que “a perseguição de jornalistas, ONGs e outros críticos do governo aumentou significativamente sob Modi”. A organização também registrou perseguição a professores no meio acadêmico por suas visões políticas. Críticos de Modi, por sua vez, apontam que ele tem enfraquecido o Judiciário com pressões — como ao bloquear promoções — ou “incentivos” à lealdade nomeando ex-membros da Suprema Corte favoráveis ao governo para postos no Senado ou em governos regionais depois que saem do tribunal. (Com o El País)

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