Mundo
PUBLICIDADE

Por O Globo e agências internacionais — Moscou

O serviço de segurança da Rússia prendeu nesta quinta-feira o repórter americano Evan Gershkovich, do Wall Street Journal, alegando que o profissional era um espião e que foi "preso em flagrante", na primeira vez em que um correspondente dos EUA é detido sob acusações de espionagem desde a Guerra Fria. O jornal americano negou a acusação e reivindicou sua libertação, afirmando estar "profundamente preocupado" com a segurança do funcionário.

Gershkovich, de 31 anos, foi detido em Ecaterimburgo, a quarta maior cidade da Rússia. Localizada nos Montes Urais, importante cordilheira que delimita a fronteira entre a Europa e a Ásia, ela fica a cerca de 1.670 km a leste de Moscou.

Conhecido pelo acrônimo FSB, o Serviço de Segurança Federal da Rússia é a principal agência de segurança doméstica do país e a principal sucessora da soviética KGB. O FSB acusou o repórter de "atuar sob instruções do lado americano para coletar informações confidenciais sobre as atividades de uma das empresas do complexo industrial militar russo, a qual constitui um segredo de Estado".

O crime de espionagem pode ser punido na Rússia com 10 a 20 anos de prisão, de acordo com o artigo 276 do Código Penal. Um tribunal distrital de Moscou determinou que Gershkovich fique detido "por um período de um mês e 29 dias, ou seja, até 29 de maio de 2023", conforme um comunicado publicado pelo Judiciário russo.

"O que o colaborador da publicação americana Wall Street Journal faz não tinha nenhuma relação com jornalismo", afirmou no Telegram a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova. Ela disse também que Gershkovich "não é o primeiro ocidental conhecido a ser pego em flagrante".

Em comunicado, o governo russo afirmou que "o FSB interrompeu as atividades ilegais do cidadão americano Evan Gershkovich, correspondente em Moscou do Wall Street Journal, apontado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia como suspeito de espionagem no interesse do governo americano".

Gershkovich é o primeiro repórter dos EUA a ser preso sob acusações de espionagem desde setembro de 1986, quando Nicholas Daniloff, um correspondente em Moscou para o U.S. News e World Report, foi preso pela KGB. Vinte dias depois, Daniloff foi solto sem acusações formais por meio de uma troca por um funcionário da missão da União Soviética na ONU que havia sido preso pelo FBI (polícia federal americana), também sob acusações de espionagem.

Apesar de outros detentos americanos terem sido soltos por meio de trocas de prisioneiros, o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Riabkov, disse nesta quinta que ainda é muito cedo para considerar essa possibilidade.

— Não colocaria a questão dessa forma agora porque, como sabem, as trocas anteriores foram com pessoas que já cumpriam sentenças, incluindo cidadãos americanos sob acusações bastante graves — disse Riabkov, citado pelas agências de notícias russas.

Em dezembro, a estrela do basquete Brittney Griner foi solta depois de 10 meses de prisão em troca pelo traficante de armas Viktor Bout. Outros cidadãos americanos estão presos na Rússia, incluindo Paul Whelan, um ex-fuzileiro naval preso em 2018 e condenado a 16 anos de prisão por espionagem, acusação que ele nega.

Antes de começar a trabalhar no Wall Street Journal, Gershkovich, de 31 anos, atuou na agência de notícias francesa AFP, também na capital russa, e no jornal The New York Times. Também já foi jornalista do Moscow Times, um site de notícias independente com coberturas em inglês e russo.

A detenção ocorre em um momento de crescente tensão entre o Ocidente e Moscou por causa da guerra na Ucrânia, e enquanto o Kremlin intensifica a repressão contra ativistas da oposição, jornalistas independentes e grupos da sociedade civil.

A ampla campanha de repressão é sem precedentes desde a era soviética, frequentemente resultando, segundo ativistas, na criminalização da profissão de jornalista, assim como das atividades de russos comuns que se opõem à guerra. No início desta semana, uma corte sentenciou a dois anos de prisão um pai por postar críticas ao conflito nas redes sociais. Sua filha de 13 anos foi enviada a um orfanato.

EUA condenam prisão

Os Estados Unidos condenaram a prisão de Gershkovich nesta quarta-feira e disseram que estão em contato com a família do jornalista.

"A perseguição de cidadãos americanos pelo governo russo é inaceitável. Condenamos a detenção do sr. Gershkovich nos termos mais fortes", disse a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, em um comunicado. "Quero reiterar fortemente que os americanos devem prestar atenção ao aviso do governo dos EUA para não viajar para a Rússia. Cidadãos americanos que residam ou viajem na Rússia devem sair imediatamente", acrescentou.

O presidente Joe Biden foi informado sobre a prisão, segundo a Casa Branca.

O chefe da diplomacia dos EUA, Antony Blinken, vinculou a prisão à repressão da mídia na Rússia: "Condenamos nos termos mais fortes possíveis as contínuas tentativas do Kremlin de intimidar, reprimir e punir jornalistas e vozes da sociedade civil", disse em um comunicado.

Já John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, disse entender que os jornalistas precisam correr riscos para fazer seu trabalho, "mas isso não muda nossa profunda preocupação com a presença de americanos" na Rússia, disse ele a repórteres.

— Não é uma tática nova para [o presidente Vladimir] Putin e autoridades russas deterem estrangeiros, principalmente americanos — disse Kirby.

O Wall Street Journal publicou uma uma nota sobre o caso. No texto, o jornal diz estar "profundamente preocupado com a segurança de Gershkovich", negando "veementemente as alegações do FSB".

"Buscamos a libertação imediata de nosso confiável e dedicado repórter Evan Gershkovich e nos solidarizamos com Evan e sua família", afirmou o jornal.

A ONG Repórteres Sem Fronteiras, por sua vez, disse estar "preocupada" com "o que parece ser uma medida de represália": "Jornalistas não devem ser alvos de ataques!", afirmou em nota.

Mais recente Próxima Saúde do Papa 'melhora progressivamente' e ele trabalha do hospital, diz Vaticano
Mais do Globo

Inquérito aponta R$ 180 milhões em vendas com lastro em terras griladas da União; em nota, o Incra informou que vem auxiliando as investigações

'Rei do crédito de carbono' participou de suposta negociação de propina, aponta PF; veja as mensagens

Programas estão sem reajuste e não cobre despesas básicas de brasileiros. Capes precisaria de uma injeção de R$ 72 milhões no orçamento para suprir demanda no custo

Doutorado sanduíche: defasagem de bolsas impõe restrições e trava oportunidades de estudantes fora do país

O pagamento para os nascidos em setembro e outubro acontece no dia 15 de julho

PIS 2024: veja calendário de pagamento para os nascidos em setembro e outubro

Levantamento inédito feito pelo sindicato dos trabalhadores do setor revela que 80% dos pedidos de demissão foram motivados por violência urbana e forte estresse

Motoristas de ônibus deixam profissão por medo em Niterói

Alexsandro Jannotti diz ter direito a receber mais de R$ 1,2 milhão de Mario Cesar Zagallo

Empresário do jogador Marinho processa filho de Zagallo em ação societária

Interinidade dá mais poder à cúpula das legendas, responsável pelas nomeações temporárias

Às vésperas das convenções, partidos mantêm 80% dos seus diretórios sob comando provisórios

Ex-meia reflete sobre complicações cirúrgicas e psicológicas que levaram à aposentadoria aos 29 anos e celebra nova fase

Meu Jogo: 'Minha cicatriz no rosto não me deixa mentir. Eu queria fugir da realidade', relata Guilherme Costa, ex-joia do Vasco

Segundo mais de uma dezena de ex-funcionários, CEO João Ricardo Mendes impõe cultura corporativa que resultou na crise protagonizada pela agência de turismo online

Na Hurb, uma rotina de assédio moral, excentricidades e ‘drogas de inteligência’