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Por O GLOBO, Agências Internacionais — CABUL

Em sua primeira aparição pública desde a tomada do poder pelo Talibã no Afeganistão, seu líder, Haibatullah Akhundzada, defendeu o modelo baseado em uma visão radical do islamismo implementado pelo grupo desde agosto do ano passado, quando caiu o antigo governo e as forças internacionais, lideradas pelos EUA, retiraram-se de forma desastrosa.

— Graças a Deus nós somos um país independente. [Estrangeiros] não devem nos dar mais suas ordens, é o nosso sistema e nós temos nossas próprias decisões — declarou Akhundzada, no segundo dia de uma reunião de anciãos e líderes religiosos na capital, Cabul, prevista para durar três dias, e que deve referendar políticas adotadas pelas novas autoridades locais.

Entre os mais de 3 mil presentes na Universidade Politécnica de Cabul, não havia mulheres, uma situação que reflete a nova sociedade afegã após o retorno do Talibã ao poder — anteriormente, o grupo comandou o país entre 1996 e 2001, quando teve início a invasão ao país, liderada pelos EUA.

O discurso não foi acompanhado por TVs ou equipes de gravação, mas foi transmitido pela rádio oficial. Na plateia, eram ouvidos gritos de “vida longa ao Emirado Islâmico do Afeganistão”, nome oficial do país após o estabelecimento do Talibã no poder.

— O sucesso da jihad afegã não é apenas uma fonte de orgulho para os afegãos, mas também para os muçulmanos de todo o mundo — declarou Akhundzada, de acordo com a agência estatal Bakhtar.

O recluso líder do Talibã, que teria por volta de 70 anos, raramente é fotografado ou filmado, de certa forma repetindo os passos do primeiro chefe do grupo, o Mulá Omar. Nesta sexta-feira, deixou a histórica base dos talibãs, na cidade de Kandahar, para fazer o discurso em Cabul. Na fala, não se esforçou em “agradar” a comunidade internacional e declarou ser contra um governo de inclusão nacional, afastando a possibilidade de trazer membros de antigas administrações.

Sobre as mulheres, ele simplesmente não fez qualquer menção — em entrevista à agência estatal RTA, o vice-premier Abdul Salam Hanafi disse que os homens representariam as mulheres no encontro.

Tentativa de apagamento

Logo após a tomada de Cabul pelo Talibã, alguns integrantes do grupo adotaram um tom mais ameno em suas declarações sobre o futuro do país, em uma aparente tentativa de convencer outros países de que o regime medieval adotado entre 1996 e 2001 não seria repetido, especialmente sobre a situação das mulheres.

Mas essa estratégia não resistiu aos fatos: jovens mulheres perderam o acesso ao ensino secundário e tiveram o acesso restrito às universidades — segundo a imprensa local, o tema deve ser discutido na reunião.

No mercado de trabalho, podem exercer apenas algumas funções na saúde e educação e novamente foram obrigadas a serem acompanhadas por um homem em viagens de longa distância. Em público, também precisam cobrir seus rostos — a medida passou a ser válida até para as apresentadoras de telejornais.

Nesta sexta-feira, a alta comissária da ONU para os direitos humanos, Michelle Bachelet, acusou o Talibã de tentar “apagar” as mulheres da vida pública e pediu que os países exerçam pressão sobre o regime. Em reunião no Conselho de Direitos Humanos da ONU, ela afirmou que o número de ataques contra mulheres aumentou de forma considerável desde agosto do ano passado.

— Embora algumas dessas preocupações sejam anteriores à tomada do poder pelo Talibã, em agosto de 2021, as reformas naquele momento estavam indo no caminho certo. Havia melhorias e esperança — declarou Bachelet, referindo-se aos avanços obtidos nas últimas administrações civis do país. — Contudo, com a chegada do Talibã, mulheres e meninas estão vivendo o mais significativo e rápido processo de perda de direitos em décadas.

Na mesma sessão, a primeira mulher a ocupar a Vice-Presidência do agora suspenso Parlamento afegão, Fawzia Koofi, fez um relato emocionado.

— O Afeganistão é o único país no mundo onde as mulheres são literalmente invisíveis, cidadãs de segunda classe — disse. — No século XXI, é de quebrar o coração. É doloroso para mim e outras irmãs e cidadãos termos que lutar por nossos direitos básicos: o direito de ser visível, de não sermos apagadas da vida pública.

Apesar de não fazer menção explícita às declarações de Bachelet, Akhundzada criticou o que chamou de “tentativa de interferência” externa.

— Por que o mundo está interferindo em nossos assuntos? — disse, segundo a imprensa estatal. — Eles dizem “por que você não faz isso?" ou "por que não faz aquilo?”, mas por que o mundo interfere em nosso trabalho?

Mesmo mantendo contatos com representantes estrangeiros, o regime do Talibã não foi reconhecido por nenhum país do mundo — há duas semanas, o porta-voz do grupo, Zabihullah Mujahid, culpou os EUA por essa situação.

“Eles [EUA] não permitem que outros países sigam nessa direção e também não tomaram qualquer ação nesse sentido [do reconhecimento do regime]”, disse, em um grupo de WhatsApp mantido pelo Talibã para responder perguntas de jornalistas, citado pela Voice of America.

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