CARACAS — Juan Guaidó foi ratificado por uma oposição dividida, na noite de segunda-feira, como "encarregado da Presidência interina" da Venezuela, figura que ele adotou em 2019 com apoio de alguns países, como os EUA e o Brasil, para tentar derrubar, sem sucesso, o governo de Nicolás Maduro. Mas as perspectivas não são animadoras para este político de 38 anos, com níveis de popularidade extremamente baixos.
Deputados do Parlamento de maioria opositora eleito em 2015, cujo mandato terminou em janeiro de 2021, aprovaram sua "continuidade (...) por até 12 meses contínuos, a partir de 4 de janeiro de 2022", mantendo sua linha de ignorar os resultados das eleições presidenciais de 2018 e as legislativas de 2020.
Ambos os processos são denunciados como "fraudulentos" pelo grupo próximo a Guaidó. Esse grupo ficou reduzido depois que boa parte dos partidos tradicionais da oposição decidiu participar das eleições municipais e regionais de novembro último.
O acordo foi aprovado por volta da meia-noite, em uma reunião da plataforma Zoom.
— Hoje vence a Constituição, hoje perde Nicolás Maduro — comemorou Guaidó depois de ser ratificado.
No entanto, é Maduro quem tem o controle total do território , com o aval das Forças Armadas, às quais deu muito poder. Guaidó "é uma espécie de Frankenstein político que fracassou", disse recentemente o presidente, cujo poder não está em risco. Apesar de seu partido, o PSUV, ter obtido menos votos que a oposição no total, Maduro manteve o controle da maioria dos estados e cidades venezuelano s por causa da divisão da oposição entre vários candidatos.
— O imperialismo acreditava que a Venezuela pertencia a eles e que, de forma colonial, poderiam colocar um presidente.
'Sem EUA, não seria ninguém'
Guaidó é reconhecido por dezenas de países, embora com cada vez menos fervor.
Os EUA são seu principal aliado. Foi o ex-presidente Donald Trump quem liderou uma ofensiva internacional para derrubar Maduro, a quem bombardeou com sanções, incluindo um embargo de petróleo, e entregou a Guaidó o controle dos ativos da Venezuela nos EUA.
O atual governo de Joe Biden, embora menos efusivo, mantém esse “apoio fundamental", segundo o cientista político Pablo Quintero.
— Sem os EUA, Juan Guaidó não seria ninguém — disse Quintero à AFP.
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"Não há mudança" no governo Biden em relação à Venezuela, disse Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado, na terça-feira.
— Retirar o apoio [a Guaidó] seria fazer uma concessão a Maduro sem nada em troca — resumiu Mariano de Alba, especialista em crise venezuelana e assessor sênior do centro de estudos International Crisis Group.
Já a União Europeia, embora não lhe dê o título de presidente, considera-o um interlocutor válido na Venezuela, embora mantenha canais abertos com o governo de Maduro. Os países do bloco mantêm embaixadas em Caracas apesar de reconhecerem Guaidó.
Guaidó também enfrenta cada vez mais resistência de um setor da oposição convencida de que a estratégia deve ser repensada. Seu próprio "chanceler", Julio Borges, renunciou alegando que o "interino" deveria "desaparecer" .
— Derrotamos a pretensão de querer dividir a alternativa democrática — disse Guaidó segunda-feira na sessão virtual.