Mundo América Latina

Guaidó estende sua ‘Presidência interina’ da Venezuela sem poder, mas com apoio dos EUA

Oposição mantém cargo do líder que há três anos promete, em vão, derrubar o presidente Nicolás Maduro
O 'presidente interino' da Venezuela, Juan Guaidó, que recebe novo 'mandato' Foto: FEDERICO PARRA / AFP/29-04-2021
O 'presidente interino' da Venezuela, Juan Guaidó, que recebe novo 'mandato' Foto: FEDERICO PARRA / AFP/29-04-2021

CARACAS —  Juan Guaidó foi ratificado por uma oposição dividida, na noite de segunda-feira, como "encarregado da Presidência interina" da Venezuela, figura que ele adotou em 2019 com apoio de alguns países, como os EUA e o Brasil, para tentar derrubar, sem sucesso, o governo de Nicolás Maduro. Mas as perspectivas não são animadoras para este político de 38 anos, com níveis de popularidade extremamente baixos.

Leia mais: Controlada por Maduro, Justiça da Venezuela ordena nova eleição em estado chavista e exclui principal opositor

Deputados do Parlamento de maioria opositora eleito em 2015, cujo mandato terminou em janeiro de 2021, aprovaram sua "continuidade (...) por até 12 meses contínuos, a partir de 4 de janeiro de 2022", mantendo sua linha de ignorar os resultados das eleições presidenciais de 2018 e as legislativas de 2020.

Ambos os processos são denunciados como "fraudulentos" pelo grupo próximo a Guaidó. Esse grupo ficou reduzido depois que boa parte dos partidos tradicionais da oposição decidiu participar das eleições municipais e regionais de novembro último.

O acordo foi aprovado por volta da meia-noite, em uma reunião da plataforma Zoom.

— Hoje vence a Constituição, hoje perde Nicolás Maduro — comemorou Guaidó depois de ser ratificado.

No entanto, é Maduro quem tem o controle total do território , com o aval das Forças Armadas, às quais deu muito poder. Guaidó "é uma espécie de Frankenstein político que fracassou", disse recentemente o presidente, cujo poder não está em risco. Apesar de seu partido, o PSUV, ter obtido menos votos que a oposição no total, Maduro manteve o controle da maioria dos estados e cidades venezuelano s por causa da divisão da oposição entre vários candidatos.

— O imperialismo acreditava que a Venezuela pertencia a eles e que, de forma colonial, poderiam colocar um presidente.

'Sem EUA, não seria ninguém'

Guaidó é reconhecido por dezenas de países, embora com cada vez menos fervor.

Os EUA são seu principal aliado. Foi o ex-presidente Donald Trump quem liderou uma ofensiva internacional para derrubar Maduro, a quem bombardeou com sanções, incluindo um embargo de petróleo, e entregou a Guaidó o controle dos ativos da Venezuela nos EUA.

O atual governo de Joe Biden, embora menos efusivo, mantém esse “apoio fundamental", segundo o cientista político Pablo Quintero.

— Sem os EUA, Juan Guaidó não seria ninguém — disse Quintero à AFP.

Leia mais: Veja o que está em jogo na relação bilateral de Brasil e Venezuela

"Não há mudança" no governo Biden em relação à Venezuela, disse Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado, na terça-feira.

— Retirar o apoio [a Guaidó] seria fazer uma concessão a Maduro sem nada em troca — resumiu Mariano de Alba, especialista em crise venezuelana e assessor sênior do centro de estudos International Crisis Group.

Já a União Europeia, embora não lhe dê o título de presidente, considera-o um interlocutor válido na Venezuela, embora mantenha canais abertos com o governo de Maduro. Os países do bloco mantêm embaixadas em Caracas apesar de reconhecerem Guaidó.

Guaidó também enfrenta cada vez mais resistência de um setor da oposição convencida de que a estratégia deve ser repensada. Seu próprio "chanceler", Julio Borges, renunciou alegando que o "interino" deveria "desaparecer" .

— Derrotamos a pretensão de querer dividir a alternativa democrática — disse Guaidó segunda-feira na sessão virtual.