G20 no Brasil
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Por — Brasília

RESUMO

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GERADO EM: 21/06/2024 - 04:00

Desafios no Comércio Exterior: Imposto Rosa e G20

Estudos apontam que mulheres enfrentam desafios no comércio exterior, como o imposto rosa em produtos femininos. G20 busca reduzir disparidades de gênero para impulsionar crescimento econômico global.

O retrato do comércio exterior mundial é mais complexo do que se supõe à primeira vista. Quando desagregadas por gênero, as estatísticas mostram que as mulheres aparecem em desvantagem em várias frentes. Estão em minoria nas posições de comando das companhias exportadoras e no quadro de seus funcionários.

Porém, são mais numerosas nos segmentos que enfrentam as maiores barreiras para o mercado externo, como as pequenas e microempresas ou as companhias que atuam nos setores de têxteis, calçados e serviços, tradicionalmente mais protegidos em outros países.

Além disso, estudos recentes começam a apontar que sobre os produtos consumidos pelo público feminino costumam incidir tributos mais elevados, sobretudo de exportação — o chamado “imposto rosa”, que onera cosméticos, higiene pessoal ou itens feitos para o consumo delas. Barbeadores ou panelas de arroz de cores associadas a mulheres podem elevar os preços dessas mercadorias em até 30%. Depois de alimentos, as indústrias feminina e do cuidado são as mais tributadas.

O mapeamento dessas informações e a criação de uma metodologia internacional comum para que se meça de maneira mais precisa o tamanho do problema e como resolvê-lo mundo afora é um dos temas que a presidência brasileira do G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo, mais a União Africana) quer incluir no documento que deve ser acordado entre chefes de Estado e de governo na reunião de cúpula de novembro, que acontecerá no Rio de Janeiro.

Ao GLOBO, Tatiana Prazeres, secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), que coordena o Grupo de Trabalho de Comércio e Investimentos do G20, afirma que a redução das disparidades significa mais comércio, inovação e crescimento econômico.

Hoje, as mulheres representam apenas 14% das posições de comando nas empresas de comércio exterior no Brasil (24% quando se trata de companhias de pequeno porte), um setor que, em 2023, movimentou cerca de US$ 580 bilhões, ou R$ 3,15 trilhões, quando somadas exportações e importações.

— O Brasil é um dos poucos países que têm esse diagnóstico — afirma ela.

Mulheres são apenas 14% das lideranças de empresas de comércio exterior no Brasil, diz Tatiana Prazeres — Foto: Divulgação MDIC
Mulheres são apenas 14% das lideranças de empresas de comércio exterior no Brasil, diz Tatiana Prazeres — Foto: Divulgação MDIC

A especialista ressalta que incluí-las não se traduz apenas em empoderamento — as vagas no setor exigem mão de obra qualificada, inovação, criatividade e pagam melhores salários — mas também em expansão da economia de maneira mais equilibrada. Porém, não é fácil buscar consensos em um universo de países tão díspares no tratamento da questão de gênero como a Suécia e a Arábia Saudita, por exemplo.

Ainda assim, Tatiana afirma que o interesse dos países na questão do gênero como fator de desenvolvimento do comércio é crescente.

Missão de mulheres

Na lista das principais barreiras identificadas pela Secex, que vem desenvolvendo políticas inclusivas como a primeira missão comercial de mulheres para o Chile nas próximas semanas, estão a falta de acesso a financiamento, o custo da burocracia — que pesa particularmente sobre as empresas de menor porte — a falta de capacitação e a jornada dupla, já que as mulheres têm menos flexibilidade de tempo para se ocupar do trabalho ou se dedicar às redes profissionais.

— Esta visibilidade para o tema é um grande resultado do G20. Precisamos aprender com as experiências dos outros, compartilhar metodologias e ter métricas globais. Também é preciso haver um esforço global para que o comércio seja mais inclusivo e para que se supere essa visão de que o comércio é para as grandes empresas — diz.

Este é outro item importante. O governo brasileiro acredita que estimular o comércio eletrônico facilita o acesso a mercados para as empresas de menor porte e, com isso, as profissionais mulheres. Por duas razões: reduz a burocracia e, a partir da tecnologia, elimina os filtros de gênero que ainda existem nas relações pessoais.

Globalmente, as mulheres tendem a gastar uma proporção mais elevada de sua renda em produtos e serviços para o lar do que os homens. Um exemplo é a alimentação. As tarifas nos setores agrícolas são, em média, mais elevadas do que para outras categorias de produtos, tornando estes produtos relativamente mais caros e criando assim uma desvantagem para as consumidoras.

Precisamos aprender com as experiências dos outros, compartilhar metodologias e ter métricas globais. E haver esforço global para que o comércio seja mais inclusivo e se supere a visão de que comércio é para as grandes empresa
— Tatiana Prazeres, secretária de Comércio Exterior do MDIC

Segundo o Instituto McKinsey Global, um cenário em que todos os países levassem o seu grau de igualdade de gênero ao mesmo patamar da nação de sua região com os indicadores de melhora mais céleres poderia aumentar em até 11% o PIB global entre 2017 e 2025, ou cerca de US$12 trilhões.

Estudo realizado pelo governo da Suécia mostra que a política comercial pode contribuir para produtos de consumo mais seguros para as mulheres, ao criar normas internacionais que considerem o gênero como item importante.

Por exemplo, estudo realizado nos EUA mostra que elas têm 47% mais chances de sofrer lesões graves em acidentes de carro do que os homens, porque os itens de segurança dos automóveis foram concebidas tendo por base modelos masculinos, caso do posicionamento dos apoios de cabeça e o cinto de segurança.

Financiamento restrito

Diretora de Comércio e Agricultura da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), a alemã Marion Jansen diz que a redução da disparidade de gênero se reverte em crescimento e ganho de competitividade. Segundo a especialista, que esteve no Brasil para tratar do tema em encontro do B20 (o grupo de líderes do mundo empresarial no G20), é preciso tornar setores e atividades voltados para as exportações mais atraentes para mulheres.

— Por diferentes razões, as mulheres em todo o mundo têm mais dificuldade em obter financiamentos. Por isso, é mais difícil fazer suas empresas crescerem. É mais difícil para elas ingressar em atividades mais arriscadas, como a exportação. Também não é fácil obter financiamento para entrar em setores incomuns — diz Marion.

Ativista e empresária, a camaronense Rebecca Enonchong tornou-se uma das vozes mais influentes da África, ouvida pelo mainstream, do Fórum Econômico Mundial (FEM) ao G20. CEO de diversas startups e incubadoras, ela afirma que a inclusão digital deve garantir o desenvolvimento do continente africano e promover a igualdade de gênero, raça e nacionalidade.

A tecnologia bem usada — e pensada não só pelos homens, mas por mulheres — é a resposta. Para ela, a inteligência artificial perpetuará os preconceitos de gênero e não será eficiente sem a participação feminina na sua construção:

Por diferentes razões, as mulheres em todo o mundo têm mais dificuldade em obter financiamentos. Por isso, é mais difícil fazer suas empresas crescerem
— Marion Jansen, diretora de Comércio e Agricultura da OCDE

— Esse aprendizado tem que garantir que não esteja aprendendo os mesmos preconceitos que existem no mundo real.

Ela aposta na educação para garantir que as novas gerações considerem normal ver uma mulher em posição de liderança no mundo da tecnologia e representadas no segmento de STEM (acrônimo em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática), com ênfase no “M”, de matemática.

O desafio da inserção de mulheres nas carreiras STEM foi destaque na reunião do Grupo de Trabalho de Pesquisa e Inovação do G20 realizada em Recife. De acordo com o estudo da Unesco “Decifrar o código: educação de meninas e mulheres em ciências, tecnologia, engenharia e matemática (STEM)”, de 2018, a falta de mulheres neste segmento deve atrasar o crescimento econômico na Europa em R$ 3,2 bilhões até 2027.

Estudo recente do Fórum Econômico Mundial diz que vai levar 131 anos para que se elimine a disparidade de gênero no mercado de trabalho. Rebecca vê este tipo de cálculo com desconfiança, pois cria a espécie de determinismo e conformismo contra os quais é preciso lutar. Para ela, não se pode esperar até lá.

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