Eleições EUA
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Por O Globo e agências internacionais — Washington

Na primeira entrevista na TV desde o desempenho considerado desastroso no debate contra Donald Trump, na quinta-feira passada, o presidente dos EUA, Joe Biden disse que "estava exausto" e "doente" no dia do embate, e que chegou a ser submetido a exames antes de entrar no palco. Apesar da pressão, ele não parece disposto a abandonar a disputa, e afirmou que poderia desistir "se Deus Todo Poderoso" pedir diretamente para ele. Pouco antes do programa ir ao ar, uma governadora democrata sugeriu a Biden avaliar se ainda era o melhor nome para enfrentar Trump.

No início da conversa, que não foi editada antes de ir ao ar pela rede ABC, o jornalista George Stephanopoulos pergunta a Biden se o mau desempenho no debate foi apenas uma "noite ruim", ou foi sinal de algo mais grave. O presidente foi sucinto.

— Foi um momento ruim, que não indicava qualquer questão mais séria, eu estava exausto, não escutei meus instintos em termos de preparação, e tive uma noite ruim — disse Biden, que voltou a exibir uma voz um tanto quanto cansada.

O presidente afirmou ter sido submetido a uma série de exames, incluindo para a Covid-19, que deram negativo, e os médicos constataram que estava com uma gripe, algo que seus assessores afirmaram pouco depois do fim do debate. Ele revelou não ter assistido ao programa posteriormente e sugeriu que não se preparou de forma adequada a um debate com um adversário como Donald Trump, a quem acusou de mentir várias vezes ao longo dos 90 minutos do embate.

— Mas parecia que o senhor estava tendo problemas desde a primeira pergunta — apontou Stephanopoulos. Biden voltou a dizer que estava tendo "uma noite ruim".

Biden se esquivou de uma pergunta sobre seus lapsos mais frequentes, episódios relatados pelo New York Times, e garantiu que, embora não consiga "correr os 100 metros rasos em 10 segundos", ainda está apto a participar da vida pública, citando o discurso que fez no estado do Wisconsin, nesta sexta-feira. Ele não quis responder se se submeteria a um exame neurológico, alegando que seus médicos não pediram um, e disseram que estava "bem".

— Eu passo por mais de um exame neurológico por dia — afirmou, fazendo uma analogia às cobranças e pressões do seu cargo. — Médicos viajam comigo para todo canto, como viajam com todos os presidentes. Os melhores médicos viajam comigo para todos os lugares. Eles fazem uma avaliação do que estou fazendo. Eles não pensariam duas vezes antes de me avisar que há algo errado.

Em mais de uma resposta sobre o tema da saúde, o democrata preferiu se referir aos seus feitos como presidente, incluindo os avanços na economia e a política externa de fortalecimento da Otan, a principal aliança militar do Ocidente, e o enfrentamento ao líder russo, Vladimir Putin.

— Acho que ninguém está mais qualificado para ser presidente ou para vencer essa disputa do que eu — apontou Biden, ao mesmo tempo em que tentava escapar de perguntas mais incisivas e difíceis, como sobre seus fracos números nas pesquisas. — Se o Deus Todo Poderoso descesse e me dissesse: "Joe, saia da disputa", eu poderia sair da disputa.

Ao contrário das longas respostas de entrevistas no passado, Biden preferiu sentenças curtas, e o formato da entrevista, focado em seu estado de saúde — principal tema da campanha — não abriu espaço para que discutisse seus planos caso seja eleito mais uma vez, em novembro. Mas ao mesmo tempo em que garantiu que permanecerá na disputa, ele deu sinais sobre como espera ser seu legado pós-Casa Branca.

— Se eu parasse agora, eu entraria para a História como um presidente bem sucedido — afirmou.

Originalmente, a ABC planejava gravar a entrevista nesta sexta-feira, divulgando alguns trechos ao longo do dia, e exibi-la na íntegra no domingo, seguindo uma praxe dos canais americanos em entrevistas presidenciais. Mas as peculiaridades do momento da campanha à Casa Branca e da vida política dos EUA levaram a uma mudança de planos. A emissora disse que se ofereceu para entrevistar Trump, no mesmo formato, mas o republicano recusou o convite.

Pressão crescente

Desde a desastrosa participação no debate com Trump na semana passada, o volume das já existentes questões sobre a capacidade cognitiva e física do presidente para mais quatro anos no governo foi elevado a níveis extremos, especialmente dentro do Partido Democrata.

Quatro deputados defendem que Biden siga o exemplo de Lyndon Johnson em 1968 e desista da reeleição, o senador Mark Warner está, segundo o Washington Post, tentando formar uma aliança parlamentar para pedir que ele saia da disputa, doadores suspenderam os repasses até que um novo nome fosse anunciado e discussões sobre quem o substituiria ganharam corpo.

Nesta sexta-feira, a governadora Maura Healey, de Massachusetts, disse que o presidente deveria avaliar se ainda é a melhor opção para enfrentar Trump em novembro, na primeira declaração do tipo vinda de uma chefe de governo estadual.

"O presidente Biden salvou nossa democracia em 2020, e fez um grande trabalho ao longo dos últimos quatro anos. Sou muito grata por sua liderança. E seu que ele concorda que essa é a mais importante eleição de nossas vidas", disse a governadora, em comunicado. "A melhor forma de seguir adiante agora é uma decisão que precisa ser tomada pelo presidente. Nos próximos dias, quero que ele escute o povo americano e avalie, com cuidado, se ele ainda é a nossa melhor esperança para derrotar Trump.

Maura Healey afirmou ainda que, "não importa o que o presidente decida", ela continuará "fazendo o possível para derrotar Donald Trump". Também nesta sexta-feira, o líder da minoria na Câmara, Hakeem Jeffries, convocou uma reunião virtual no domingo com integrantes do partido na casa para discutir a candidatura, afirmou o New York Times. Durante a entrevista à ABC, Biden disse ter ouvido de lideranças democratas, citando o próprio Jeffries e o líder da maioria no Senado, Chuck Schumer, incentivos para não deixar a disputa.

"O presidente está orgulhoso de seu histórico. Mas ele está perigosamente fora de sintonia com as preocupações que as pessoas têm sobre as suas capacidades no futuro e a sua posição nesta corrida. Há quatro anos, nesta altura, ele estava 10 pontos à frente de Trump. Hoje, ele está seis pontos atrás", escreveu, no X (antigo Twitter), David Axelrod, estrategista político do ex-presidente Barack Obama, refletindo uma opinião similar à relatada por democratas depois da entrevista. Para alguns, Biden parece estar "em estado de negação".

'Vencerei novamente'

Em meio à indefinição, a vice-presidente, Kamala Harris, despontou como favorita, mas a lista de interessados na vaga é mais extensa, e inclui governadores, senadores e secretários de governo. Biden, até agora, resiste, como reiterou na entrevista e em um discurso no Wisconsin.

— Vocês provavelmente ouviram falar de um debate na semana passada. Não posso dizer que foi minha melhor performance. Mas desde então, vejo muita especulação: “o que Joe vai fazer?”, “ele vai continuar na disputa?”, “ele vai desistir?”, “o que ele fará?” — disse o presidente. — Bem, aqui está minha resposta: eu estou concorrendo e vencerei novamente.

Presidente dos EUA, Joe Biden, durante discurso de campanha no estado do Wisconsin — Foto: SCOTT OLSON / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP
Presidente dos EUA, Joe Biden, durante discurso de campanha no estado do Wisconsin — Foto: SCOTT OLSON / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP

Em uma de suas várias interações com o público, perguntou "se estava muito velho para derrotar Donald Trump", que tem cerca de quatro anos a menos do que ele. A multidão respondeu que "não".

— Vamos salvar nossa democracia — afirmou, acompanhado pelos gritos de "Vamos, Joe". Antes de iniciar a fala, uma pessoa no palco levantou um cartaz dizendo "passe o bastão, Joe", sugerindo que abandone a disputa. Ela não foi retirada do local, mas não exibiu mais a mensagem.

Em tempos normais, a entrevista a George Stephanopoulos na ABC seria considerada mais uma de uma longa série de declarações à imprensa da carreira política de Biden, e uma chance de ter espaço em uma campanha que promete ser a mais difícil de sua vida. Mas as circunstâncias tornaram a participação um dos momentos mais cruciais da corrida eleitoral. Como sugeriu uma antiga aliada de Biden, a ex-presidente da Câmara, Nancy Pelosi, boas aparições na TV, com respostas concisas e sem um script, poderiam recuperar ao menos parte da confiança do eleitorado no democrata.

Não será uma tarefa fácil.

— Temos preocupações sobre a capacidade de Biden de manter a campanha da forma necessária — disse Jeff Martinson, um apoiador de Biden que acompanhou o discurso no Wisconsin, à CNN. — Ele não demonstrou, de maneira suficiente desde o debate, suas capacidades de forma a passar confiança a seus apoiadores, e acho que ele precisa fazer mais, e talvez isso comece hoje.

Segundo pesquisa realizada imediatamente após o debate da quinta-feira passada, realizada pela CBS News, 72% dos eleitores registrados — o voto não é obrigatório nos EUA — declararam que o presidente não tem condições mentais e cognitivas para exercer o cargo, embora médicos da Casa Branca digam o contrário. Entre os eleitores democratas, 46% dizem que ele não deveria concorrer contra Trump em novembro, e a idade de Biden (86%) foi o fator mais citado.

Uma outra sondagem, divulgada pela CNN na terça-feira, apontou que 75% dos entrevistados acreditam que um novo nome na chapa democrata melhoraria as chances do partido derrotar Trump. Harris, ao ter o nome ventilado, teve um desempenho melhor do que o de Biden contra o republicano.

Joe Biden, presidente dos EUA, fala com jornalistas antes de embarcar no avião presidencial em Madison, no Wisconsin — Foto: SAUL LOEB / AFP
Joe Biden, presidente dos EUA, fala com jornalistas antes de embarcar no avião presidencial em Madison, no Wisconsin — Foto: SAUL LOEB / AFP

Na véspera da aparição na ABC, Biden concedeu duas entrevistas a rádios voltadas à população negra, e cometeu, segundo o New York Times, algumas gafes, como se dizer orgulhoso de “ter a primeira mulher negra servindo ao lado de um presidente negro”, em referência a Kamala Harris. Também houve algumas pausas em respostas, e erros em detalhes e referências históricas — para a campanha, as referências aos tropeços verbais do presidente pela imprensa “estão passando do ponto”.

— Estava claro o que o presidente Biden queria dizer quando falou sobre seu histórico, incluindo um número recorde de indicações para cargos federais — disse Ammar Moussa, porta-voz da campanha à reeleição, ao New York Times, se referindo ao trecho envolvendo Kamala Harris. — Isso não é notícia, e a imprensa passou do ponto do absurdo aqui.

Segundo a CNN, a entrevista à ABC e o discurso em Wisconsin são movimentos iniciais de uma ofensiva de Biden para afastar as questões sobre sua saúde e retomar as rédeas da campanha. Ele vai incrementar o número de aparições públicas — no domingo, ele terá uma agenda ainda não divulgada na Filadélfia — e gastará cerca de US$ 50 milhões em ações publicitárias, com anúncios nos intervalos de transmissões dos Jogos Olímpicos e da Convenção Nacional Republicana, que começa no dia 15 de julho.

O foco será nos eleitores dos chamados “estados decisivos”, onde a eleição será definida, e onde o presidente tem mais dificuldades. As mensagens estarão centradas em temas mais afáveis ao democrata, como a economia, a defesa da democracia e do meio ambiente. Não se sabe se a idade ou suas condições físicas serão abordadas.

— Sou o indicado do partido porque milhões de democratas, como vocês, votaram em mim nas primárias ao redor dos EUA. Votaram em mim para ser seu indicado — disse Biden no Wisconsin. — Estão tentando me tirar da disputa. Bem, me deixem dizer algo: eu continuo na disputa.

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