O mau desempenho do presidente americano, Joe Biden, no debate de quinta-feira contra Donald Trump acendeu um alerta vermelho entre a base democrata. Apesar de ter tentado apagar o fogo e afastar os temores de que não está capacitado para continuar no cargo em um comício de fala enérgica nesta sexta-feira, a ideia de uma desistência da candidatura perdura entre analistas e se reflete nos editoriais de importantes jornais e revistas, como o New York Times, o Wall Street Journal, a Time e até o britânico The Economist.
Para o New York Times, Biden, apesar de ser um presidente "admirável", já não pode mais sustentar a justificativa de ser o candidato com a melhor chance de enfrentar a ameaça que Trump representa à democracia simplesmente por tê-lo derrotado em 2020. "No debate de quinta-feira, o presidente precisava convencer o público americano de que estava à altura das exigências formidáveis do cargo que busca manter por mais um mandato. No entanto, não se pode esperar que os eleitores ignorem o que ficou claro: Biden não é o mesmo homem de quatro anos atrás", pontuou o editorial.
O texto falou das dificuldades de Biden no debate na noite anterior e destacou que a idade e fragilidade do presidente são preocupantes, defendendo a ideia de que ele deveria retirar sua candidatura à reeleição para permitir que um novo candidato democrata "mais capaz" concorra. "A verdade que Biden precisa confrontar agora é que ele falhou em seu próprio teste", escreveu o jornal americano. "Esta é a melhor chance de proteger a alma da nação — a causa que levou Biden a concorrer à Presidência em 2019 — da nefasta distorção de Trump. E é o melhor serviço que Biden pode prestar a um país que ele serviu de forma nobre por tanto tempo", conclui o Times.
O Wall Street Journal e a revista The Economist foram pelo mesmo caminho. Ambas as publicações apontam preocupações semelhantes às do editorial do Times, destacando a necessidade de um candidato com mais vigor para enfrentar Trump na próxima eleição, que ocorre em novembro deste ano.
"Biden diz que está se candidatando novamente para ajudar os americanos comuns e salvar a democracia da demagogia vingativa de Trump. E a aparência carrancuda, evasiva e desafiadora do ex-presidente no palco do debate não fez nada para diminuir a urgência desses dois objetivos. No entanto, se Biden realmente se importa com sua missão, então seu último e maior serviço público deveria ser ficar de lado por outro indicado democrata", escreveu a Economist.
A revista Time também mostrou preocupação com a candidatura de Biden. Na capa da nova edição, revelada nesta sexta-feira, uma imagem do presidente de 81 anos parece atravessar as bordas da revista, como se estivesse saindo de cena, acompanhada somente da palavra "pânico".
Mais cedo nesta sexta-feira, Biden fez um discurso enérgico em um comício em Raleigh, Carolina do Norte, enquanto tentava dissipar o pânico generalizado entre os democratas sobre seu desempenho no debate. "Sei que não sou um jovem, para não dizer o óbvio", disse à multidão entusiasmada. "Mas eu sei o que sei. Eu sei dizer a verdade. Eu sei como fazer esse trabalho", completou o democrata.
O comício ocorreu em meio aos receios na base democrata após seu desempenho frágil no primeiro debate eleitoral contra Trump, que fez com que a hipótese de uma troca de candidato antes das eleições de novembro ganhasse força internamente no partido. Embora possível, a substituição é difícil, sobretudo sem contar com a vontade do próprio Biden de desistir antes da realização da convenção do partido, entre 19 e 22 de agosto.
O próprio Trump declarou que não vê o adversário abandonando a corrida, uma vez que é o democrata com melhor desempenho nas pesquisas.
Por enquanto, as insatisfações não têm efeito prático. Biden já deixou claro que não tem intenção de deixar o páreo e liberar a candidatura para alguém mais jovem. Além do compromisso com os doadores da campanha democrata, o presidente conta também com o respaldo de líderes importantes dentro do partido, além do apoio de figuras importantes como o ex-presidente Barack Obama, do quem Biden foi vice.