Eleições EUA
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Por — São Paulo

O Partido Republicano registrou o maior número de pré-candidatos à Presidência dos EUA nas eleições americanas de 2024. Quatorze republicanos apresentaram a intenção de representar o partido na disputa pela Casa Branca, que neste ano acontece em 5 de novembro, e registraram suas candidaturas — embora, às vésperas da primeira prévia eleitoral, o caucus de Iowa, o número já tivesse caído para menos da metade. O processo republicano gravita em torno da presença polarizadora do ex-presidente Donald Trump, que tenta voltar ao poder (ocupou a Casa Branca entre 2017 e 2020, ano em que perdeu a reeleição para Joe Biden) apesar de enfrentar diversos problemas com a justiça, que ameaçam sua candidatura. Conheça os pré-candidatos republicanos à Presidência.

 — Foto: Arte O GLOBO
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DONALD TRUMP

O ex-presidente Donald Trump tenta, aos 77 anos, uma façanha sem paralelo nos dois últimos séculos de eleições americanas. À frente da Casa Branca entre 2017 e 2020, o magnata da construção civil e líder da ala mais radical do Partido Republicano falhou ao tentar se reeleger, derrotado pelo democrata Joe Biden. Se for bem-sucedido em 2024 — conquistar a indicação do partido para disputar as eleições gerais e vencer em novembro —, Trump será o segundo presidente da História americana (o primeiro desde Grover Cleveland, em 1893) a ser reeleito para um mandato não consecutivo.

No que depender do eleitorado republicano, pelo cenário apresentado em pesquisas de opinião anteriores ao começo das prévias, Trump tem grandes possibilidades de receber uma nova chance de disputar a Presidência. Antes do caucus de Iowa, o ex-presidente tinha mais de 61% das intenções de voto nas primárias do partido, segundo o rastreador do site FiveThirtyEight, que considera uma média de pesquisas recentes. São mais de 40 pontos percentuais de vantagem em relação ao segundo colocado.

Com uma base de apoio firme entre os republicanos e uma agenda similar à do primeiro mandato — o ex-presidente promete uma linha-dura contra a imigração e a criminalidade, além de colocar os interesses dos EUA “em primeiro lugar” —, o grande desafio para Trump provavelmente serão seus problemas com a justiça. Réu em ações por incitar a multidão que invadiu o Capitólio americano em 6 de janeiro de 2021 para impedir a diplomação de Biden e por retirar documentos secretos de interesse nacional da Casa Branca ao fim de seu mandato, o republicano terá de equilibrar questões eleitorais e judiciais ao longo do ano, com um calendário podendo interferir diretamente no outro.

Antes do começo da corrida interna, a secretária de Estado do Maine e a Suprema Corte do Colorado declararam Trump inelegível, considerando que os atos de Trump após as eleições de 2020 configurariam uma tentativa de insurreição. Trump recorreu à Suprema Corte dos EUA contra a decisão de Colorado e, em uma corte de apelações em Washington, tenta emplacar a tese da imunidade presidencial — segundo a qual o presidente dos EUA tem imunidade para todos os seus atos enquanto ocupa o cargo — para derrubar o caso federal em que é acusado de ter tentado reverter o resultado das eleições de 2020. A mesma tese é usada para pedir o arquivamento de processo estadual na Geórgia.

Nikki Haley — Foto: Arte O Globo
Nikki Haley — Foto: Arte O Globo

NIKKI HALEY

Primeira mulher a governar a Carolina do Sul — e primeira não branca a ocupar o cargo —, Nikki Haley foi a primeira pré-candidata republicana a se apresentar para concorrer à vaga do partido na disputa pela Casa Branca, em fevereiro do ano passado. Mais conhecida no cenário internacional por seu papel como embaixadora dos EUA na ONU durante os dois primeiros anos de mandato de Trump, Haley tenta se consolidar como uma opção de renovação dentro do partido, ao mesmo tempo em que tenta convencer o eleitorado geral de que está preparada para ser a primeira mulher a presidir o país.

Filha de imigrantes indianos da região de Punjab, Haley defende uma posição peculiar entre os candidatos republicanos. Se por um lado a pré-candidata já declarou publicamente que ela e a família sofreram discriminação racial em solo americano e desafiou setores conservadores do partido ao advogar pela remoção da bandeira confederada do Capitólio da Carolina do Sul em 2015, por outro ela nega a existência de racismo sistêmico nos EUA. Em outros temas, a republicana também mantém posicionamentos aparentemente divergentes à primeira vista: condenou a invasão do Capitólio, em 2021, mas foi contrária a abertura de processo contra Trump por incitar o ato golpista. Entrou em atrito com o ex-presidente enquanto era sua representante na ONU, mas telefonou para ele para comunicar que lançaria sua candidatura.

Haley é apontada por setores do partido como uma opção mais moderada a nomes como Trump e DeSantis, o que não a impediu de surfar na onda da guerra cultural promovida por alas mais radicais para se projetar nacionalmente. Sua campanha tem atacado os democratas, por promoverem o “socialismo” nos EUA e o movimento woke. Em seu vídeo de lançamento de campanha, Haley afirma que os princípios fundadores dos EUA “não são ruins”, enquanto a peça publicitária apresenta imagens da deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez, da ala mais à esquerda do partido, e do Projeto 1619, uma iniciativa do New York Times que apresenta a História americana a partir das consequências da escravidão.

Haley intensificou a campanha nas semanas anteriores ao começo das prévias, sobretudo nos Estados que realizarão os primeiros pleitos. A estratégia da candidata passa por chegar à terceira prévia, na Carolina do Sul, viva na disputa, para tentar atrair a atenção do eleitorado nacional. Entre outubro do ano passado e as vésperas do caucus de Iowa, a pré-candidata registrou crescimento nas pesquisas, segundo o ThirtyFiveEight: de menos de 7% para 11,4%.

Ryan Binkley — Foto: Arte O Globo
Ryan Binkley — Foto: Arte O Globo

RYAN BINKLEY

Presidente de uma empresa de fusões e aquisições e pastor de uma igreja no Texas, Ryan Binkley nunca ocupou ou sequer se candidatou a um cargo público eletivo na vida. Apesar disso, o azarão e pré-candidato menos conhecido entre os republicanos se apresenta como uma voz de unificação dentro de um partido dividido — recorrendo à sua bagagem religiosa para tentar convencer os eleitores de que é o homem certo para o cargo.

O recado de Binkley em seu website oficial exemplifica o tom de sua campanha: “Os problemas que enfrentamos e a culpa que colocamos podem ser corrigidos se olharmos para Deus, encontrarmos o que há de bom em nossos concidadãos americanos e decidirmos confiar uns nos outros mais uma vez.” O discurso, contudo, não parece ter sido suficiente para convencer os eleitores antes do início das prévias. Na maioria das pesquisas, o candidato sequer é citado como uma opção.

Binkley nasceu no Estado da Geórgia, mas ainda novo se mudou com a família para o Texas. Estudou finanças e marketing na Universidade do Texas, em Austin, até que, aos 24 anos, teve o que descreveu ao site NBC News como “um encontro com Deus”. A vida como ministro da igreja não afetou sua vida profissional, que também prosperou — à mesma rede de notícias, o candidato confidenciou, em julho do ano passado, ter aplicado US$ 1,7 milhão (R$ 8,3 milhões no câmbio atual) do próprio patrimônio em sua campanha.

Entre as principais propostas políticas de Binkley estão uma reforma da política migratória — um tema central para os republicanos em todo o país, principalmente nos Estados do sul — e o equilíbrio do orçamento federal em sete anos.

Ron DeSantis desistiu da candidatura e declarou apoio a Trump antes das primárias de New Hampshire — Foto: Arte/ O GLOBO
Ron DeSantis desistiu da candidatura e declarou apoio a Trump antes das primárias de New Hampshire — Foto: Arte/ O GLOBO

O governador da Flórida, Ron DeSantis, construiu uma imagem nacional como republicano combativo, disposto a liderar a cruzada conservadora almejada pela ala mais radical do partido contra instituições e iniciativas liberais — que na visão desses grupos estariam corroendo os EUA por dentro. Ex-jogador de beisebol de sucesso na universidade, veterano da Marinha e formado nas prestigiadas universidades de Yale e Harvard, o político de origem italiana seria o presidente mais novo desde John F. Kennedy, caso vencesse a eleição geral, em novembro. Ele desistiu da candidatura antes das primárias de New Hampshire, a segunda votação das prévias do partido.

O governador ganhou projeção nacional sobretudo durante a pandemia da Covid-19, quando se tornou um porta-voz das críticas às medidas então apoiadas pela ciência, como o uso de máscaras e o isolamento social. A posição lhe rendeu repetidas aparições no canal Fox News, o mais assistido pelo público conservador nos EUA. Ele utilizou a guerra cultural contra os liberais para se manter nos holofotes desde então: censurou livros didáticos considerados impróprios pela administração estadual, proibiu o ensino de História Racial Americana nas escolas e entrou em uma guerra administrativa e tributária com o Grupo Disney, após críticas de gestores da empresa do Mickey Mouse a leis que ameaçaram direitos LGBT+ na Flórida.

DeSantis se tornou o favorito de apoiadores importantes do partido, que o enxergam como uma espécie de “Trump 2.0” — uma versão mais refinada, jovem e palatável do ex-presidente, com uma bagagem menos “pesada”. Em maio, o lançamento de sua campanha aconteceu em uma live no Twitter com o bilionário Elon Musk.

Em uma ligação telefônica ouvida pelo The New York Times, no começo da campanha, DeSantis tentava convencer doadores a embarcar em sua campanha sugerindo que apenas três candidaturas disputavam a Casa Branca neste ano: a dele, a de Trump e a de Biden. Mas só duas tinham chance de vitória: a dele e a de Biden. Publicamente, o pré-candidato evitou atacar o ex-presidente, embora precisasse convencer o eleitorado de que tinha chances de vitória apesar da disparada de Trump nas pesquisas de opinião primárias e gerais — nas quais o republicano aparecia à frente do democrata em alguns levantamentos.

Ao desistir da corrida, contudo, ele declarou apoio ao principal concorrente, dizendo ter entendido a vontade dos eleitores em dar uma nova chance a Trump após o caucus de Iowa — em que acabou atrás do ex-presidente. DeSantis se opôs a Haley, dizendo que o partido não podia "voltar à velha guarda republicana do passado ou a uma maneira reformulada de corporativismo requentado".

Vivek Ramaswamy retirou candidatura após derrota no caucus de Iowa — Foto: Arte O GLOBO
Vivek Ramaswamy retirou candidatura após derrota no caucus de Iowa — Foto: Arte O GLOBO

VIVEK RAMASWAMY

Principal outsider nas primárias republicanas, Vivek Ramaswamy nunca concorreu a nenhum cargo público, mas não era nenhum desconhecido nos círculos conservadores nos EUA. Autor de livros que criticam o movimento woke — relacionado a pautas identitárias e alvo da guerra cultural entre liberais e conservadores americanos — e empresário de sucesso no ramo da biotecnologia, o pré-candidato mais jovem do Partido Republicano chegou a chamar a atenção pela postura combativa nos primeiros debates republicanos, e entrou na disputa com uma campanha largamente autofinanciada — mas desistiu da candidatura após ficar apenas na 4ª colocação durante o caucus de Iowa, primeira prévia republicana.

Descendente de indianos, assim como Haley, e professante da fé hindu, Ramaswamy nasceu em Cincinnati e frequentou uma escola cristã na juventude. Formado em Harvard, conquistou rapidamente sucesso profissional. Em 2016, foi listado pela Forbes como um dos empreendedores americanos mais ricos com menos de 40 anos. Hoje bilionário — era o segundo pré-candidato republicano mais rico, atrás apenas de Donald Trump —, fez fortuna à frente das empresas Roivant Sciences, que atua no desenvolvimento de biotecnologia, e do fundo Strive Asset Management.

Ramaswamy se autodescreve como um “hindu com valores judaico-cristãos” e foi descrito pela imprensa americana como um “cavaleiro antiwoke" por seus esforços contrários a temas como justiça racial e justiça climática. O pré-candidato era outro que negava a existência de racismo estrutural nos EUA e se recusava a ser chamado de indiano-americano. Ao longo da campanha, o empresário emulou um discurso similar ao do principal concorrente, Trump, acrescentando propostas populistas. Em determinado momento, chegou a afirmar que demitiria metade dos funcionários da administração federal se eleito.

Ex-funcionários da campanha de Ramaswamy sugeriram, ao longo dos últimos meses, que o pré-candidato se lançou à Presidência sem pretensões reais de chegar à Casa Branca, apenas com a intenção de conseguir mais projeção nacional. Quando o Partido Republicano criou uma cláusula mínima de eleitores por Estado para decidir quais pré-candidatos teriam direito a participar dos primeiros debates das primárias, Ramaswamy criou um sistema para remunerar apoiadores que conseguissem novos doadores para sua campanha. Pela sondagem do FiveThirtyEight, o pré-candidato era o quarto com maior intenção de votos às vésperas da disputa em Iowa, e chegou a intensificar a campanha no Estado, semanas antes da votação. Ao desistir, ele declarou apoio imediato a Donald Trump.

Asa Hutchinson desistiu da candidatura após o caucus de Iowa — Foto: Arte/O GLOBO
Asa Hutchinson desistiu da candidatura após o caucus de Iowa — Foto: Arte/O GLOBO

ASA HUTCHINSON

Embora seja um político experiente, o ex-governador do Arkansas Asa Hutchinson apareceu como um azarão ao anunciar sua intenção a concorrer à Presidência dos EUA. Com uma trajetória política longa — era o segundo pré-candidato republicano mais velho na disputa, com 73 anos —, Hutchinson queria ser uma alternativa conservadora “consistente” para o eleitorado, avaliando que os republicanos estariam interessados em nomes que oferecessem uma dinâmica política diferente daquela seguida pelo ex-presidente. Com menos de 1% dos votos no caucus de Iowa, primeira prévia do partido, ele desistiu da candidatura.

Hutchinson não é um republicano moderado. Como governador do Arkansas, ele assinou uma proibição extensa ao aborto, que não abria exceção nem em casos de gravidez provocada por estupro ou incesto. Ele também pressionou pelo fim do Affordable Care Act (conhecido como Obamacare) e liderou uma força-tarefa convocada pela Associação Nacional do Rifle (NRA, na sigla em inglês) após o massacre na Escola Primária Sandy Hook, em 2012, para encontrar uma resposta que atenuasse a pressão pelo controle de armas.

O republicano se beneficiava pelo fato de ter uma experiência governamental mais ampla do que a maioria dos adversários na disputa. Além de governador do Arkansas por dois mandatos, ele também liderou a Administração de Fiscalização de Drogas (DEA, na sigla em inglês) e chefiou a Diretoria de Segurança de Fronteiras e Transportes do Departamento de Segurança Interna, quando o órgão foi criado após os ataques do 11 de Setembro de 2001.

Hutchinson se tornou um vocal opositor de Trump dentro de um partido que vem se mostrando cada vez menos aberto a dissidências envolvendo a figura do ex-presidente. Ele condenou a decisão do Comitê Nacional Republicano contra os deputados Adam Kinzinger e Liz Cheney, que participaram da comissão da Câmara dos Representantes sobre os ataques ao Capitólio, e já descreveu a vitória de Trump, em 2016, como a “receita para o desastre” do partido. Ele não anunciou apoio a nenhum candidato após desistir. (Com The New York Times, AFP e Bloomberg)

APURAÇÃO E TEXTOS: Renato Vasconcelos | DESENVOLVIMENTO: Mario Monteiro Martinho | COORDENAÇÃO: Vinicius Machado | EDIÇÃO: Leda Balbino

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