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Bush, que ordenou invasão, se diz 'triste' com vitória do Talibã; para ex-líder soviético Gorbachev, fracasso era inevitável

Ex-presidente dos EUA alega que invasão "forneceu duas décadas de segurança" ao país da Ásia Central
Membro Talibã mona guarda em frente ao portão de entrada do Ministério do Interior afegão, em Cabul Foto: JAVED TANVEER / AFP
Membro Talibã mona guarda em frente ao portão de entrada do Ministério do Interior afegão, em Cabul Foto: JAVED TANVEER / AFP

O ex-presidente americano George W. Bush, que ordenou a invasão do Afeganistão em 2001, e o último líder da antiga União Soviética, Mikhail Gorbachev, que ordenou a retirada das forças soviéticas do país da Ásia Central em 1989, se pronunciaram sobre a volta ao poder do grupo fundamentalista Talibã , no último domingo.

O republicano Bush, de 75 anos, afirmou que sentiu “profunda tristeza” com a vitória do Talibã — derrubado em 2001 do poder sob a acusação de dar abrigo a Osama bin Laden, arquiteto dos atentados do 11 de Setembro daquele ano nos EUA. Ele defendeu sua decisão de iniciar aquela que se tornaria a guerra mais longa dos Estados Unidos.

“Nossos corações estão pesados pelo povo afegão, que sofreu muito, e pelos americanos e aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que sacrificaram tanto”, escreveram em uma carta, divulgada na segunda-feira, o ex-presidente americano e sua mulher, Laura Bush.

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Depois da invasão do Afeganistão, Bush ordenaria ainda a invasão do Iraque, em 2003, na chamada "guerra ao terror". Os falsos pretextos usados para a Guerra do Iraque e as práticas de tortura e sequestro de supostos terroristas pelas forças de segurança e inteligência americanas minaram o prestígio dos EUA no mundo. O desgaste provocado pelos dois conflitos foi o principal responsável pela derrota dos republicanos para Barack Obama, na eleição de 2008.

Já Mikhail Gorbachev foi derrubado do poder há 30 anos, em 1991, quando líderes das principais repúblicas soviéticas decretaram o fim da antiga superpotência comunista. O fracasso da campanha miilitar de 10 anos no Afeganistão contribuiu para o desgaste do governo de Gorbachev, que não conseguiu levar adiante as reformas econômicas e políticas no regime socialista propostas por ele a partir de sua chegada ao poder, em 1985.

À agência de notícias russa RIA, Gorbachev, de 90 anos, disse que a Otan e os americanos não tinham nenhuma chance de sucesso no Afeganistão.

— Eles deveriam ter admitido o fracasso mais cedo. O importante agora é tirar lições do que aconteceu e garantir que erros semelhantes não se repitam — disse Gorbachev. —Foi uma empreitada fracassada desde o início, embora a Rússia a tenha apoiado durante as primeiras etapas. Como muitos outros projetos similares, em seu âmago havia o exagero de uma ameaça e ideias geopolíticas mal definidas. A isso se acrescentaram as tentativas irrealistas de democratizar uma sociedade composta por muitas tribos — completou.

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No caso de Bush, sua carta não falou sobre derrota ou fracasso da ação americana no Afeganistão, mas se dirigiu aos soldados que serviram na guerra,  argumentando que não os havia enviado para o conflito em vão.

"Vocês eliminaram um inimigo brutal e negaram à al-Qaeda um porto seguro enquanto construíam escolas, enviavam suprimentos e prestavam assistência médica", disse ele. "Vocês mantiveram os Estados Unidos a salvo de novos ataques terroristas, forneceram duas décadas de segurança e oportunidade para milhões de pessoas e deixaram os Estados Unidos orgulhosos", escreveu.

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O ex-presidente pediu ao atual, o democrata Joe Biden, que acolha mais refugiados afegãos e acelere o processo de remoção de afegãos e cidadãos americanos ameaçados pelo Talibã. Ele também insistiu em que o governo dos EUA "cortasse a burocracia".

"Temos a responsabilidade e os recursos para garantir uma passagem segura para eles agora, sem atrasos burocráticos", escreveu na carta.