Crítica
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Por Patrícia Kogut

O leitor que acompanha a coluna tem visto aqui inúmeros elogios a “Os outros”, do Globoplay. A história de Lucas Paraizo dirigida por Luisa Lima está mesmo, desde já, na lista das melhores do ano. O episódio lançado anteontem, contudo, decepcionou. Daqui para a frente, tem spoiler.

A série começou com uma briga violenta de dois meninos. Marcinho (Antonio Haddad) saiu muito machucado depois de apanhar de Rogério (Paulo Mendes) na quadra do condomínio onde ambos vivem com os pais. Esse acontecimento antagonizou as duas famílias.

De lá para cá, a cizânia se capilarizou, alcançando um grupo maior de moradores. Tem sido tudo bem construído e eletrizante.

Rogério, faixa preta de judô, cresceu com um pai violento e machista. Líder entre os amigos, fazia bullying com o vizinho desde criança.

Já Marcinho, ultraprotegido pela mãe (Cibele/Adriana Esteves), era tímido, sensível e submisso.

O nono capítulo marcou uma transformação radical de Marcinho. De um dia para o outro, o garoto começou a namorar Lorraine (Gi Fernandes) e mudou de personalidade. Pintou os cabelos, comprou roupas de lurex e vem mostrando um talento excepcional como dançarino de funk. É um ótimo ator, mas fica difícil acreditar em tal transfiguração.

OK que um personagem tem — e deve ter — múltiplas dimensões. São elas que o tornam imperfeito e o humanizam. É também o que o aproxima dos espectadores ao gerar uma identificação. Daí a corromper sua estrutura para facilitar uma saída para a trama vai uma longa distância.

Nas novelas acontece de um personagem bom virar mau ou vice-versa. Não é o desejável, mas dá para entender. São centenas de capítulos, e há o maniqueísmo típico do melodrama. Numa série de 12 episódios, parece falta de imaginação.

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