Patrícia Kogut
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Quem adorou “O faz nada” e “Meu querido zelador” , dos argentinos Gaston Duprat e Mariano Cohn, já tem uma nova série para chamar de sua. É a espanhola “O museu”, também assinada pela dupla (e por Andrés Duprat, irmão de Gaston). Entre outras marcas deles, o espectador vai reconhecer a mordacidade, a elegância, o foco num personagem central muito bem desenvolvido e o gosto pela cenografia. Está no Star+.

“O museu” não tem a força de “O faz nada” ou de “Meu querido zelador”, mas vale a viagem. Quem atravessar os seis episódios curtinhos (de cerca de meia hora) se deliciará com um enredo que só vai ganhando sabor e densidade.

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Acompanhamos Antonio Dumas (Oscar Martínez). Ele é finalista de um concurso do Ministério da Cultura da Espanha para dirigir um museu de arte moderna em Madri. Disputa a última etapa com duas postulantes, uma, negra, a outra, militante LGBTQIA+. Numa entrevista que reúne os três e o júri, as duas alegam que a instituição “precisa de renovação e diversidade”. E Antonio, cínico e incontinente verbal, dá um nó na banca: “Sou branco, hétero e privilegiado. Elas são o espírito do tempo. Portanto, são a opção mais conservadora e por isso uma delas vai ser a escolhida.” Mas o museu, em busca de “inovação”, dá o posto a Antonio.

O museu — Foto: Disney
O museu — Foto: Disney

O arco maior da trama retrata o dia a dia na administração da instituição, a relação com os funcionários e os problemas cotidianos. O pano de fundo é a discussão sobre o que é arte contemporânea de fato, mesmo aquela que se faz estranhar, e a pura enganação.

Alguns temas atravessam a história inteira. O roteiro ironiza o mundo das artes. A série brinca com o glossário pernóstico. Os diálogos citam termos tão pomposos quanto vazios, como “a equação entre a arte e o espectador” ou “a lógica binária entre o objeto e o olhar”.

Há também os conflitos que se resolvem a cada episódio. Assim, um artista teima em expor uma baleia morta. Só que o cadáver vai se decompondo e exalando um cheiro horrível pelas salas, espantando o público. Quando Antonio propõe substituir o bicho por um boneco de plástico, o autor recusa. O desfecho é surpreendente. Em outro capítulo, outro impasse: um coletivo de homens e mulheres vem do Senegal com a proposta “artística” de “morar no museu”. Depois de um mês, decidem não ir embora.

A patrulha ativista ronda tudo o tempo inteiro. Um grupo autointitulado DesTampar vandaliza obras de um escultor com histórico de predador sexual. Com esses dramas mais breves, “O museu” vai debatendo assuntos que estão na ordem do dia. É sempre num tom de deboche delicado, sem iconoclastia agressiva.

A série tem citações a obras anteriores de Duprat e Cohn. Quem assistiu ao filme “Competição oficial” (com Penelope Cruz), vai se lembrar dele. Em 2016, eles também dirigiram “Borges está vivo”, série documental sobre o escritor. E adivinha o nome do gato de Antonio. Borges, claro.

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