Crítica
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O mais adorável espírito de porco do streaming, Eliseo (Guillermo Francella), o porteiro de “Meu querido zelador”, está de volta. E não mudou nada. O Star+ acaba de lançar a segunda temporada da série. A primeira, também disponível lá, foi finalista do Emmy International este ano na categoria melhor comédia. Não levou, mas bem que merecia. A trama argentina criada por Mariano Cohn e Gastón Duprat, tem, do novo, sete capítulos.

A narrativa parte exatamente do ponto onde parou. O projeto do condomínio de demitir Eliseo para construir uma piscina no telhado, despejando-o, fracassou. Muito dessa virada foi resultado de armações do porteiro. Recontratado, ele voltou a morar no prédio. Na cobertura, instalou um tapete de grama falsa, onde pratica o golfe com bastante habilidade. O esporte funciona como uma metáfora irônica das suas capacidades: ele exige estratégia, mira, espírito de observação, calma e paciência. Para completar o simbolismo, Eliseo faz isso com uma vista do alto, reinando sobre todos aqueles em que passou a perna.

O protagonista continua o mesmo, mas as relações entre os moradores estão reconfiguradas. Personagens surgem e outros deixam a história. Novos inimigos aparecem. O principal deles é Lucila Morris (María Abadi). Ativista, comanda uma Ong voltada para proteger moradores de rua e se muda para o prédio. De cara, não se deixa seduzir pelas gentilezas de Eliseo. Ao contrário, antipatiza com ele, que passa a se esforçar muito para se aproximar da recém-chegada.

Meu querido zelador — Foto: divulgação
Meu querido zelador — Foto: divulgação

Ela estranha o preço do condomínio e quer promover uma auditoria nas contas. Não é boba e desconfia, com razão, de superfaturamento.

A antiga dinâmica da narrativa se repete. Eliseo tem um objetivo e faz qualquer negócio para alcançá-lo. Na primeira temporada, ele era a manutenção de seu emprego; agora, tenta evitar que a corrupção seja descoberta. É uma nova aventura levada num formato conhecido do espectador. Os novos episódios, entretanto, vão além de só repetir um esquema. Eles também mostram um pouco mais da intimidade de Eliseo e esse aprofundamento faz bem ao roteiro.

Há quem alegue não gostar dessa série porque seu protagonista é mau. Pois é justamente o espírito manipulador do porteiro que impulsiona o enredo. Vale lembrar que os personagens negativos são sempre os mais ativos. As mocinhas com seu ar angelical sofrem enquanto sentam com as mãos em concha. Já os antagonistas ajudam a boa teledramaturgia a andar. É assim com Eliseo. São suas maquinações cheias de malandragem produzem os ganchos deliciosos que tornam “Meu querido zelador” adorável e divertida.

Escrevi uma crítica recentemente sobre “O faz nada”, também assinada pela dupla Cohn e Duprat. Ambas são boa ficção, têm charme e ótimo elenco. Não perca.

Mais recente Próxima 'Ferry' é suspense eficiente, mas com narrativa manjada. Cotação: três estrelas (razoável)