Patrícia Kogut
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A alma do “Sem censura” sempre esteve na habilidade de seu condutor. É quem garante a fluência da conversa que se estabelece todos os dias no estúdio. Cissa Guimarães é a feliz escolha da TV Brasil desde fevereiro. Com ela, o programa parece ter reencontrado o charme que o consagrou no passado.

A atração foi lançada em 1985. O Brasil saía da ditadura. A ideia de seu criador, Fernando Barbosa Lima, era promover um lugar de troca de ideias no horário vespertino. Aquele fim de tarde reunindo pessoas de várias áreas num diálogo informal, como se estivessem numa varanda, logo conquistou espectadores fieis. O público só conhecia a televisão aberta, de imagem analógica. Não havia internet nem TV paga.

O “Sem censura” foi, durante muitos anos, passagem obrigatória para quem estava lançando um show, um livro, um filme ou uma peça. E também para quem fosse falar de saúde, de esporte ou de qualquer tema assim que caiba numa roda de conversa em que todo espectador se sentisse incluído. As principais estrelas da cena cultural brasileira estiveram por lá.

Sem censura com Lucia Leme — Foto: arquivo
Sem censura com Lucia Leme — Foto: arquivo

Na última semana, o especial que homenageou Raul Seixas foi um exemplo do que faz dessa uma atração única. Com Cissa estavam a ex-mulher e uma filha do músico, e o ator Bruce Gomlevsky, que o interpreta no teatro. Eles estavam em casa. A conversa correu sem soluços. A intenção ali, aliás, nunca é emparedar o convidado. Não à toa, os participantes ficam num semicírculo e se encaram com simpatia.

O cenário abraça e Cissa recebe muito bem. É uma personagem bem carioca, e o programa reflete isso. Mas também é conhecida do Brasil inteiro, graças à sua longa trajetória na televisão. Tem interesse genuíno pelo outro, como escreveu meu colega Bruno Astuto em sua coluna no último domingo.

No passado, antes da internet, o programa já era participativo. Os espectadores telefonavam para a TVE e suas perguntas eram feitas no último bloco. Agora, o diálogo com quem fica do outro lado da tela se estende às redes sociais. Parece um convite se renovando. Vida longa ao “Sem censura”.

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