Patrícia Kogut
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Os alertas que precedem alguns dos episódios de “Bebê Rena” têm uma importância fundamental. Então preste muita atenção quando aparecer o letreiro avisando que essa é uma história real. E não despreze as advertências de que dali por diante verá cenas fortes. É tudo verdade. A produção britânica de sete episódios curtos (de menos de 40 minutos) acaba de chegar à Netflix. E é uma das mais originais, corajosas e pungentes dos últimos tempos.

Acompanhamos a adaptação para a tela de uma experiência terrível que marcou a vida de Richard Gadd. O escocês é criador e ator protagonista da produção, um drama-thriller. Ele a apresentou primeiro como um stand up, no Festival Fringe, em Edimburgo. De lá, foi para o West End, área de Londres onde se concentram os grandes teatros e as peças mais importantes da cidade. A temporada fez sucesso, mas acabou abreviada com a chegada da pandemia. Àquela altura, no entanto, ele já tinha conquistado prêmios e chamado a atenção. E veio o convite para transformar o material numa série para o streaming. Não é pouco.

Richard Gadd — Foto: Netflix
Richard Gadd — Foto: Netflix

Gadd vive Donny Dunn. O personagem é uma espécie de alter ego seu, já que a história é autobiográfica. Quando o conhecemos, ele trabalha num pub londrino. Paralelamente, tenta a carreira de comediante na cena alternativa de bares da cidade. É apaixonado por Teri (Nava Mau), uma mulher trans que conheceu num aplicativo, mas não assume o namoro. Vive num ambiente homofóbico. O dinheiro é apertado. Tão apertado que ele foi abandonado pela namorada, Keeley (Shalom Brune-Franklin), e ficou morando na casa da ex-sogra, por falta de meios para pagar um aluguel.

Donny está atendendo no balcão quando Martha (Jessica Gunning ) irrompe chorando. Com pena, ele oferece uma xícara de chá e não cobra.

Ali começa um caso de perseguição que ele, algumas cenas adiante, levará ao conhecimento da polícia.

Martha só vai embora horas depois e volta todos os dias. Nunca paga a conta e fala sem parar. Alega ser uma advogada bem-sucedida que trabalhou para figuras públicas proeminentes. Passa a escrever ininterruptamente para ele. Num período de quase três anos, enviou 41 mil e-mails. Sempre repletas de erros de ortografia, as mensagens têm conotação sexual e alternam ameaças e declarações de amor. Donny não consegue se desvencilhar.

No quarto episódio, descemos ainda mais profundamente aos porões do abuso — e não digo mais para evitar o spoiler.

Sobretudo por seu caráter tão pessoal, “Bebê Rena” é pesada e muito angustiante. Seu roteiro anda em círculos. É algo proposital e não resultado de uma falha. Donny está preso numa dinâmica tóxica e a trama reflete o esforço de uma roda presa e atolada na lama. O elenco, compacto, é todo de talentos.

Merece toda a sua atenção.

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