Estudo desvenda como o cérebro do homem muda depois que ele se torna pai

Outras pesquisas já haviam mostrado o mesmo resultado nas mães; efeito depende do apego ao bebê


Grau de apego ao filho dita como o corpo masculino responde ao período pós-parto Pixabay

RESUMO

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GERADO EM: 29/06/2024 - 15:00

Impacto da paternidade no cérebro masculino

Estudo revela que a paternidade afeta o cérebro dos homens, com perda de volume cerebral ligada ao envolvimento com o bebê. A pesquisa também aponta para maiores problemas de saúde mental e sono. A importância do apoio aos pais no período pós-natal é destacada.

Diversos estudos já apontaram como os corpos das mulheres são alterados após dar à luz um bebê — inclusive sua massa encefálica. Agora, pesquisadores estão se aprofundando em pesquisas sobre o que acontece com os homens depois da paternidade. A surpresa é que cuidar de um bebê também afeta o cérebro deles, que perde volume.

O efeito na forma e função do cérebro já tinha sido observado em roedores em pesquisas anteriores. Em uma nova investigação de cientistas da Universidade do Sul da Califórnia, diversos exames de ressonância magnética foram realizados em homens logo após virarem pais. Os resultados vistos em animais se mantiveram.

Em um artigo escrito no site The Conversation, a professora de psicologia Darby Saxbe, líder do estudo, detalhou as conclusões sobre os efeitos da paternidade.

“Em um novo estudo que analisou mudanças cerebrais em pais de primeira viagem, meus colegas e eu descobrimos que a perda de volume cerebral estava ligada a um maior envolvimento na paternidade, mas também a mais problemas de sono e sintomas de saúde mental. Esses resultados podem apontar para um custo do cuidado, tradicionalmente absorvido pelas mulheres, mas cada vez mais assumido pelos homens também”, escreveu.

Pesquisas com mães

O mesmo efeito tinha sido observado em mães por meio de estudos anteriores. Pesquisadores recrutaram mães de primeira viagem e fizeram uma varredura de seus cérebros antes da gravidez e após alguns meses do parto do bebê. Concluíram que a massa cinzenta (camada de tecido cerebral que contém células neuronais) havia encolhido na comparação com um grupo de controle feminino que não havia engravidado.

“Embora um cérebro encolhido pareça ruim, os pesquisadores teorizaram que esse cérebro mais enxuto poderia ser adaptativo, ajudando a processar informações sociais de maneira mais eficiente e, portanto, facilitando o cuidado sensível”, escreveu Saxbe.

Os trabalhos também vincularam as mudanças cerebrais das mães ao seu apego aos bebês. Mulheres que tiveram respostas emocionais mais fortes ao visualizar imagens dos filhos também foram aquelas que tiveram maior perda de massa cinzenta.

A vez dos pais

No novo trabalho, houve um efeito semelhante nos pais, porém em menor escala. Foram analisados 38 homens, durante a gravidez de suas parceiras e em três períodos subsequentes: após três, seis e 12 meses do parto. Os pesquisadores também fizeram perguntas sobre como eles se sentiam em relação ao bebê, como estavam dormindo, e se apresentavam sintomas de depressão, ansiedade e outros transtornos psíquicos.

“Como antes, vimos diferenças cerebrais significativas do pré-natal ao pós-parto em todo o córtex, a camada mais externa do cérebro que realiza muitas funções de ordem superior, como linguagem, memória, resolução de problemas e tomada de decisão. Em média, os homens em nossa amostra perderam cerca de 1% do volume de massa cinzenta durante a transição para a paternidade”, descreveu a pesquisadora.

A mesma ligação com o apego dos pais surgiu na pesquisa. Homens que declararam mais conexão com o filho sendo gestado e manifestaram vontade de ampliar o tempo da licença paternidade foram aqueles que perderam mais massa cinzenta, principalmente nos lobos frontal e parietal - partes envolvidas no funcionamento executivo e processamento sensório-motor.

Saúde mental

Homens que perderam mais volume cerebral também relataram maior depressão, ansiedade, angústia e pior sono aos seis e 12 meses após o nascimento. “Esse achado fornece uma pista para uma possível direção de causalidade: em vez de problemas de sono ou angústia psicológica no pré-natal preverem maior mudança cerebral, concluímos que a perda de volume de massa cinzenta dos pais precedeu seus problemas de sono e saúde mental no pós-parto, além do efeito do seu bem-estar antes do nascimento”, escreveu Saxbe no Conversation.

Segundo a pesquisadora, o trabalho apontou para o custo físico e emocional que cuidar de um filho cobra tanto de homens quanto de mulheres envolvidos no dia a dia da criação do bebê:

“A mensagem aqui não é que os homens devem parar de cuidar dos filhos. Uma série de pesquisas sugere que crianças com pais envolvidos se saem melhor em todos os aspectos: acadêmica, econômica e emocionalmente”, defendeu.

Para a pesquisadora, o estudo só reforça que pais em geral devem ser objeto de ações de saúde pública para reduzir o estresse do período pós-natal, “como licença remunerada e esforços no local de trabalho para normalizar a licença entre os homens”.

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