Diabetes tipo 2: nova endoscopia com pulsos elétricos pode ajudar pacientes a não precisarem mais tomar insulina, dizem pesquisadores

Procedimento age no duodeno, parte inicial do intestino delgado, e combate a resistência à insulina

Por O GLOBO — Rio de Janeiro


Medir os níveis de glicose no sangue é um hábito rotineiro em pessoas com diabetes Reprodução/Freepik

Uma endoscopia que usa pulsos elétricos controlados para induzir alterações no revestimento da primeira parte do intestino delgado pode permitir que pacientes com diabetes tipo 2 parem de tomar insulina e ainda mantenham o controle glicêmico. É o que aponta um estudo preliminar feito em humanos que será apresentado Semana de Doenças Digestivas (DDW) 2023, em Chicago, nos Estados Unidos, no começo de maio.

"O potencial para controlar o diabetes com um único tratamento endoscópico é espetacular", disse Celine Busch, principal pesquisadora do estudo e doutoranda em gastroenterologia no Amsterdam University Medical Center, em comunicado. "Uma das maiores vantagens desse tratamento é que um único procedimento endoscópico ambulatorial fornece controle glicêmico, uma melhoria potencial em relação ao tratamento medicamentoso, que depende de os pacientes tomarem seus medicamentos dia após dia".

Para este estudo, 14 pacientes com diabetes tipo 2 foram submetidos a um procedimento endoscópico no qual pulsos elétricos alternados foram entregues ao duodeno, uma parte do revestimento do intestino delgado logo abaixo do estômago. O procedimento durou cerca de uma hora e logo depois os voluntários receberam alta e foram para casa. Nas duas semanas seguintes eles receberam uma dieta líquida com calorias controladas para se alimentarem. Os pacientes também começaram a tomar semaglutida, um medicamento para diabetes, com concentração de até 1 mg por semana.

Segundo Busch, a semaglutida sozinha às vezes permite que os pacientes com diabetes tipo 2 parem de tomar insulina, mas isto ocorre apenas com 20% das pessoas. Neste estudo, 12 dos 14 pacientes, ou 86%, mantiveram bom controle glicêmico sem insulina por um ano, sugerindo que a melhora está relacionada ao procedimento e não apenas à semaglutida. Os autores estão começando a trabalhar em um estudo controlado randomizado duplo-cego para testar esses resultados.

"Embora a terapia medicamentosa seja 'controladora da doença', ela apenas reduz o açúcar elevado no sangue enquanto o paciente continuar tomando a medicação", explica Jacques Bergman, coautor do estudo e professor de endoscopia gastrointestinal no Amsterdam University Medical Center, em comunicado. "Este procedimento é 'modificador da doença' na medida em que reverte a resistência do corpo à sua própria insulina, a causa raiz do diabetes tipo 2."

Pesquisadores anteriores exploraram o impacto da ablação, usando calor para modificar o revestimento do intestino delgado, depois de observar que os pacientes submetidos ao bypass gástrico (um tipo de bariátrica) tiveram melhor controle da insulina imediatamente após a cirurgia, mesmo antes que qualquer perda de peso pudesse ocorrer, indicando que o bypass dessa porção do o intestino delgado desempenha um papel no controle glicêmico no diabetes tipo 2.

Os pesquisadores levantaram a hipótese de que a exposição crônica a uma dieta com alto teor de açúcar e alto teor calórico resulta em uma mudança ainda desconhecida nessa parte do intestino delgado, tornando o corpo resistente à sua própria insulina, pondera Busch. Os cientistas acreditam que o rejuvenescimento do tecido nessa parte do intestino melhora a capacidade do corpo de responder à sua própria insulina, principalmente em pacientes com diabetes tipo 2, cujos corpos ainda produzem alguma insulina.

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