Saúde
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Por Luis Felipe Azevedo — Rio de Janeiro

A aposentada Maria (nome fictício para preservar a identidade da entrevistada), de 69 anos, percebe sinais da compulsão por comida desde a infância. Ela vivia em uma casa com seis irmãos e comia muito, mas só detectou que isso poderia ser um problema já adulta, quando chegou a ter refeições em quantidade que ultrapassava um quilo de alimento.

— Eu sabia que comia muito e buscava fazer isso escondido. Ao mesmo tempo, queria emagrecer e ter o corpo como o das minhas amigas. Fazia dietas, mas engordava novamente logo em seguida — conta.

A busca por um corpo magro fez com que ela recorresse ao uso de anfetamina, uma droga sintética que estimula o sistema nervoso central e eleva os níveis de serotonina, noradrenalina e dopamina no cérebro.

— Eu usava a droga para tentar permanecer magra por mais tempo, mas nada resolvia permanentemente. Eu estava em processo de isolamento e o meu cérebro foi afetado. Além de ter caído em depressão, passei a precisar de calmantes para dormir e virei dependente em ansiolítico. Tudo isso era consequência da minha compulsão — revela.

Doutor em Psiquiatria, Marco Aurélio Negreiros aponta que a adicção por comida é um transtorno que se manifesta por meio de farras alimentares. Ele explica que isso não significa necessariamente que a pessoa coma muito, mas sim que ela se descontrola com determinados grupos de alimentos.

— Quem tem compulsão não pode comer nem um pedacinho de certas coisas. No meu caso, é proibido açúcar, farinha branca e gordura. Se eu começo a comer esses alimentos, não consigo parar — explica.

Foi em 1998 que Maria conheceu o grupo Comedores Compulsivos, na Rua Senador Dantas, Centro do Rio. Ela relata ter encontrado uma "família" que entende as suas dificuldades e celebra os 23 anos de sobriedade, apesar das inúmeras dificuldades que enfrenta até hoje.

Assim como a aposentada, pelo menos 4,7% da população brasileira sofre com transtornos alimentares (TA's), segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Maria conta que momentos em que sente raiva, sono, ressentimento, dor, estresse e cansaço a levam a pensar em comer.

Negreiros explica que esses sentimentos funcionam como gatilho para a compulsão. A doença se manifesta na maneira como o indivíduo tem uma relação emocional com a comida e não para nutrição. Isso explica o fato de, por muitas vezes, o adicto sentir a necessidade de comer mesmo sem estar com fome.

— A compulsão traz uma série de consequências negativas como baixa autoestima, desregulação do humor, problemas de memória e todos os problemas relacionados à obesidade, como diabetes e um estado inflamatório no corpo, que propicia a baixa imunidade — aponta.

Busca por apoio

Funcionária pública aposentada, Márcia (nome fictício para preservar a identidade da entrevistada), de 58 anos, também frequenta as reuniões do grupo de apoio. A adicta relembra a história contada pela mãe do dia que foi a uma festa, aos três anos, e a comida precisou ser escondida dela para que não comesse.

A busca pelo emagrecimento também norteava a vida de Márcia. Ela percebeu a compulsão quando levou uma amiga para visitar o marido em uma clínica de reabilitação e, logo depois, decidiu visitar a reunião dos Comedores Compulsivos. A amiga propôs: "vamos lá emagrecer de graça" e Márcia resolveu tentar.

O convívio com outros compulsivos e o programa de recuperação de doze passos da irmandade, baseado no modelo desenvolvido pelo Alcoólicos Anônimos (A.A.), abriu portas para uma "nova forma de viver baseada no autoconhecimento". A compulsiva entende que determinadas comidas são como uma droga para ela, ainda que o produto seja aceito pela sociedade.

—Tudo influencia a alimentação, inclusive o estado emocional. Percebi que a cada recaída eu ficava pior e que seria mais fácil sofrer porque não se come do que por conta da abstinência, derivada da recaída — conta.

A aposentada acredita ser necessário o entendimento de que a "chave da liberdade do compulsivo é a eterna vigilância". Ela está sem comer açúcar desde 2017 e não pode consumir "beliscos", como batata frita, amendoim e castanha.

— Deixar o açúcar de lado foi motivo de luto para mim. Às vezes tem bolo no terceiro andar da minha academia e não posso ir até lá para não me aproximar daquele alimento. Me expor a isso é uma forma de violência comigo mesma — relata.

Como explica Negreiros, o tratamento recomendado é psicoterapia e acompanhamento médico, com recomendações dietéticas.

— O trabalho de reabilitação possibilita mecanismos para que o indivíduo monte uma estratégia que promova uma readequação da sua relação com alimentação, de modo que ele passe a comer para se nutrir e não para que o cérebro gere prazer imediato — explica.

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