Epidemia: quase metade dos adultos brasileiros serão obesos em 20 anos, revela novo estudo

Mantidas as tendências atuais, até 2044, 130 milhões de adultos brasileiros viverão com sobrepeso ou obesidade, mostra estudo

Por O GLOBO — São Paulo


A epidemia de obesidade já está causando e causará uma carga epidemiológica e econômica para o Brasil ainda maior. Pixabay

RESUMO

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GERADO EM: 26/06/2024 - 00:01

Obesidade em adultos no Brasil: projeção alarmante

Estudo da Fiocruz Brasília revela que quase metade dos adultos brasileiros serão obesos em 20 anos, com 130 milhões de pessoas afetadas. Preocupação com impacto na saúde e necessidade de políticas de prevenção destacadas.

Até 2044, 48% dos adultos brasileiros terão obesidade e mais 27% terão sobrepeso. Mantidas as tendências atuais, daqui a 20 anos, 130 milhões de adultos brasileiros viverão com sobrepeso ou obesidade. Essa é a conclusão de um estudo feito pela Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) Brasília, apresentado no Congresso Internacional sobre Obesidade, realizado em São Paulo entre os dias 26 e 29 de junho.

“Com base nas tendências atuais, a carga epidemiológica e econômica do sobrepeso e da obesidade no Brasil aumentará significativamente, portanto políticas robustas precisam ser implementadas no país, incluindo o tratamento dos casos existentes e a prevenção do sobrepeso e da obesidade em todas as faixas etárias”, escreveram os autores do estudo, liderado pelo médico Eduardo Nilson, da Fiocruz Brasília.

Hoje, 56% dos adultos brasileiros têm obesidade ou sobrepeso hoje (34% com obesidade e 22% com sobrepeso). Se a previsão do estudo se comprovar, dentro de 20 anos, três quartos dos adultos brasileiros estarão acima do peso.

O sobrepeso e a obesidade em adultos no Brasil estão aumentando rapidamente ao longo do tempo. A prevalência de obesidade quase dobrou de 2006 para 2019, atingindo 20,3% da população adulta.

Até 2030, estima-se que as prevalências alcancem 68,1% para sobrepeso e obesidade combinados (29,6% para obesidade e 38,5% para sobrepeso), com mulheres, negros e outras etnias minoritárias apresentando maior prevalência de obesidade até 2030. Para as mulheres, a estimativa de obesidade para 2030 é de 30,2% e sobrepeso de 37,7%, enquanto para os homens a estimativa de obesidade para 2030 é de 28,8% e sobrepeso de 39,7%.

Em pessoas brancas, a estimativa para a obesidade em 2030 é de 27,6% e sobrepeso de 38,8%, enquanto para negros e outras etnias não brancas combinadas é de 31,1% para obesidade e 38,2% para sobrepeso. Em relação ao nível educacional, para aqueles com alto nível, a estimativa para a obesidade para 2030 é de 26,2%, enquanto para baixo nível educacional é de 35,4%.

Essa epidemia de obesidade já está causando e causará uma carga epidemiológica e econômica ainda maior para o Brasil, considerando as comorbidades da obesidade e seus custos relacionados. De acordo com o cenário de manutenção da tendência atual, a prevalência de sobrepeso e obesidade entre adultos brasileiros aumentará de 57% em 2023 para 75% em 2024. Consequentemente, estima-se que 10,9 milhões de novos casos de doenças crônicas associadas ao sobrepeso e obesidade se desenvolvam nos próximos 20 anos e 1,2 milhão de mortes atribuíveis ao sobrepeso e à obesidade durante esse período.

Embora a distribuição de novos casos entre homens e mulheres não difere significativamente, estima-se que 64% (quase dois terços) das mortes atribuíveis estimadas durante este período são entre os homens, pois os homens são geralmente mais propensos a morrer prematuramente. Diabetes representou mais de 51% dos novos casos, e as doenças cardiovasculares atribuíveis ao excesso de peso representaram aproximadamente 57% das mortes até 2044.

"Esses dados são alarmantes e deixam claro que precisamos focar em políticas de prevenção e nos afastar do discurso 'conveniente' de que a obesidade é uma questão de hábitos e escolhas. Se não unificarmos esforços, com governo e sociedade civil, estaremos, ano após ano, congresso após congresso, apenas divulgando novos dados assustadores. Felizmente, a América Latina está na vanguarda dessa discussão e podemos aprender muito com as experiências de outros países da região.", diz o endocrinologista Bruno Halpern, presidente da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), em comunicado.

Os autores elencam algumas coisas que podem ser feitas para enfrentar essa epidemia de obesidade. "Em primeiro lugar, dentro do sistema de saúde, é fundamental tratar os casos existentes de obesidade e evitar que os casos de sobrepeso transitem para a obesidade. Pensando na prevenção do sobrepeso e da obesidade é importante trabalhar em todas as faixas etárias, desde a primeira infância até a idade adulta, melhorando os ambientes alimentares por meio de políticas regulatórias e fiscais que facilitem escolhas alimentares saudáveis, como consumir uma diversidade de alimentos frescos e minimamente processados e, ao mesmo tempo, evitar escolhas não saudáveis, como alimentos ultraprocessados", escrevem.

O estudo usou um modelo de tabela de vida para estimar os impactos do sobrepeso e da obesidade sobre 11 doenças associadas ao elevado Índice de Massa Corporal (IMC) no Brasil até 2044 supondo que as tendências atuais sejam mantidas (cenário de tendência atual). O modelo estima mortes atribuíveis e casos incidentes de doenças cardiovasculares, diabetes, doença renal crônica, cirrose e cânceres com base em dados demográficos e epidemiológicos de pesquisas nacionais e do Estudo de Carga Global da Doença (GBD).

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