SuperToscano: ser ou não ser?

Lendária família toscana que inventou a apelação Brunello di Montalcino está em São Paulo para apresentar os vinhos do Castello di Montepò

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Tancredi Biondi Santi e o pai, Jacopo Divulgação

Era uma vez um crítico de vinhos muito importante. Com suas notas de 0 a 100 publicadas em sua newsletter The Wine Advocate, Robert Parker, que se aposentou em 2019, movia montanhas... de dinheiro! Gostava de tintos potentes e densos, com um dulçor que enchia a boca e aroma de baunilha aportados pela maturação em barricas novas ou pelo alto teor alcoólico — ou uma combinação de ambos os fatores. Nos anos 1970, Parker encantou-se por certos vinhos feitos na Toscana à base, majoritariamente, de uvas bordalesas como Merlot e Cabernet Sauvignon. Premiou-os com notas altíssimas e cunhou o termo Super Tuscans — supertoscanos — transformando-os em tintos cultuados mundo afora, e os mais famosos deles — Sassicaia, Ornellaia, Tignanello, Solaia e Masseto — vendidos a preços estratosféricos.

Entrevistei esta semana Tancredi Biondi Santi, da lendária família toscana que inventou a apelação Brunello di Montalcino, de tintos feitos da uva sangiovese grosso. Como a famosa vinícola que carrega o sobrenome da família foi vendida para um grupo francês, veio a São Paulo apresentar os vinhos do Castello di Montepò, propriedade onde mora e vinifica com seu pai Jacopo, ao sudoeste de Montalcino. Puxados pelo prestígio do nome Sassoalloro, também produzem o supertoscano Schidiani, outros tintos e até um rosé.

A conversa foi embalada a Sassoalloro e a Braccale (tinto deliciosamente aromático e aveludado que custa muito menos). Tancredi não serviu seu supertoscano e recusa-se a usar “um termo que não diz nada”: orgulha-se da “italianidade” de seus sangioveses.

Antonio Galloni, maior crítico de vinhos italianos da atualidade, que iniciou a carreira vendendo supertoscanos na loja dos pais na Flórida e fez seu nome trabalhando para Parker, discorda. “Não é certeza de que foi Parker quem cunhou o termo — que pode se referir a sangioveses puros também”, diz. “Graças a isso os vinhos chamaram a atenção da mídia estrangeira e dos consumidores americanos”. Dois lados da mesma moeda...

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