Atentados com bomba aproximaram Ronnie Lessa de Rogério Andrade; conheça a história

Em anexo obtido pelo GLOBO, ex-policial militar detalha encontros com contraventor; defesa de bicheiro diz que não vai comentar

Por — Brasília


Ronnie Lessa ( que está preso pelo assassinato de Marielle Franco) e Rogério de Andrade Reprodução

Executor da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, Ronnie Lessa contou detalhes sobre como se aproximou do bicheiro Rogério Andrade. No acordo de delação premiada firmado com a Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República (PGR), Lessa relatou que ficou intrigado com o ataque a bomba contra o bicheiro em 2010, com características similares ao que sofreu sete meses antes. O depoimento consta de um capítulo obtido pelo GLOBO.

“Na verdade, muita gente até pensa, existem esses comentários, até em livros já tem isso, que eu fazia a segurança dele em 2009. Não. Eu conheci o Rogério Andrade em 2010. Então, muita gente pensa que eu era segurança dele, porque a questão é a seguinte. Nós sofremos um atentado à bomba, isso é conhecido de todos. Não é uma coisa normal no Brasil. Então, eu sofri um atentado à bomba em 2009. Sete meses depois, ele também sofreu um atentado à bomba e que acabou vitimando fatalmente o filho dele, tá? Uma coisa assim, uma fatalidade, uma tragédia realmente, né? E isso, quando houve essa segunda bomba que vitimou o filho dele, despertou meu interesse”, discorre Lessa.


À PF, o ex-PM se referiu ao atentado que sofreu e acabou por amputar sua perna, em Bento Ribeiro, Zona Norte do Rio. Os responsáveis pelo crime teriam sido os mesmos que mataram da mesma maneira outro filho de Rogério, Diogo de Andrade, e um segurança, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste:

“Eu não sabia quem tinha feito a minha bomba, até então, nós desconfiávamos da pessoa certa, até. Nós tínhamos a desconfiança. Mas quando houve a bomba dele (...) eu busquei essa aproximação de saber, de perguntar para ele. Por que tentaram te matar a bomba? Porque eu também tinha essa pergunta, e ele também tinha essa dúvida. 'Quem é esse cara que sofreu um atentado igual ao meu?' Como eu disse, uma coisa bem atípica. A gente não está no Oriente Médio. A gente está no Brasil. E nisso muita gente criou a mística de que eu estava até no carro dele. Não, a minha foi em 2009, sete meses antes", explicou Lessa.

Por mais de uma vez, Lessa reitera não ter atuado como segurança nem trabalhado para os Andrade. Ele afirma que o primeiro encontro com o contraventor aconteceu justamente em 2010, para discutir s similaridade e os possíveis mandantes dos atentados que ele e o filho dele sofreram.

“Eu precisava conversar com ele e ele precisava conversar comigo. Consegui estreitar isso. Eu e Vinícius fomos até o apartamento dele. Ele nos recebeu e começamos a ajustar, e ali nós descobrimos que o alvo dele era um sargento do Exército. O nosso também. O material usado no dele foi nitropenta e C4, o meu também”, contou.

Ronnie Lessa revela detalhes da relação com Rogério Andrade

Reunião interrompida pela PF

No depoimento, o ex-PM narra que estava no escritório do contraventor, com Rogério e seu filho, Gustavo Andrade, em um prédio comercial no mesmo bairro, quando agentes da PF chegaram ao local. Lessa pediu o aval do contraventor para abrir um bingo no Quebra-Mar, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, em 2018. Ambos já foram presos pela corporação por supostamente participarem de uma organização criminosa que domina o jogo do bicho, as máquinas de caça-níqueis, os bingos e os cassinos nessa região da cidade. À Justiça, no entanto, negaram fazer parte do esquema e afirmaram ser empresários e administradores de outros negócios, como um restaurante na Zona Sul. Procurada, a defesa do bicheiro disse que não iria se manifestar.

“Aí, chegando no escritório, nós começamos a conversar. Estava Rogério, eu, o Gustavo e o Vinicius. Uns dez minutos depois, ou no máximo 15, a secretária do escritório veio correndo dizendo que a Polícia Federal estava chegando no escritório. Pô, todo mundo saiu correndo. Eu não tenho como correr devido à minha prótese. Cada um foi para um canto, eu não sei exatamente onde cada um se meteu", contou Lessa.

O delator revelou ainda que, no momento em que saiu do escritório, viu que os elevadores estavam subindo. "Ou seja, a Polícia Federal estava subindo. Eu olhei do lado e tinha uma escada. A Polícia Federal subiu e eu estava descendo pela escada. Levei não sei quanto tempo, eu não lembro qual era o andar. Fui descendo a escada, descendo, descendo até chegar na portaria”, completou.

"Saí de lá satisfeito"

Aos investigadores, o ex-PM narrou que, antes da saída repentina do escritório, o grupo conversou por cerca de dez minutos sobre a autorização do contraventor para a instalação do bingo. O espaço havia sido fechado horas após a inauguração e teve as máquinas de caça-níquel apreendidas:

“Conversamos sobre a liberação do local, o que a gente queria realmente era ter a certeza de que o Rogério sabia do bingo. E muito de imediato, deu para saber, porque eu expus a ele, falei: Pô, que chato, né? Fechou no primeiro dia. Aí ele: É, mas não vamos desistir não, vamos dar continuidade. Ou seja, em 10 minutos, que foi pouco, mas foi, eu acredito que tenha sido o suficiente para eu saber que eu tinha realmente certeza de que eu estava realmente autorizado pelo Rogério. Então, a parte importante para mim era essa. Então, podia ter sido um minuto, mas eu escutei o que eu queria escutar. Então, por mais que tenha se desfeita essa reunião em dez minutos, eu saí de lá satisfeito”.

Rogério de Andrade e o filho Gustavo de Andrade — Foto: Reprodução

Lessa relata que as tratativas sobre negócio se deram inicialmente com Gustavo. Ele ressalta, porém, que mesmo não desconfiando do rapaz, precisava ter certeza da anuência de seu pai, a fim de evitar que levasse um “esporro” ou sofresse qualquer outra “consequência”.

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