Após condenação na Justiça Eleitoral, Lula e Boulos evitam citar eleição em SP e miram críticas ao governo Bolsonaro

Na Zona Leste, pré-candidato à prefeitura e presidente evitaram comentar pleito. Chefe do Executivo exaltou gestão de Marta Suplicy sem citá-la como vice do psolista

Por — São Paulo


Lula em SP com Boulos, Alckmin, Janja e Marta Suplicy Edilson Dantas/Agência O Globo

RESUMO

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GERADO EM: 29/06/2024 - 12:51

Críticas ao governo e projetos para população de baixa renda em evento na Zona Leste de SP.

Lula e Boulos evitam falar sobre eleição em SP após condenação na Justiça Eleitoral. Críticas ao governo Bolsonaro marcam evento na Zona Leste de São Paulo. Boulos cita projeto de escolas cívico-militares e Lula enfatiza preocupação com a população de baixa renda.

Após passar por Minas Gerais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumpre agenda em São Paulo neste sábado, na Zona Leste da capital. A agenda na capital paulista marcou o primeiro encontro público do presidente e do pré-candidato à prefeitura Guilherme Boulos (PSOL) após condenação de ambos pela Justiça Eleitoral após ato no 1º de maio.

No fim da manhã, o presidente esteve em evento para anunciar investimentos na área da educação, de pelo menos R$ 110 milhões. Na ocasião, foram inauguradas as pedras fundamentais de dois novos campi do Instituto Federal de São Paulo (IFSP) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em Cidade Tiradentes e Itaquera, respectivamente.

Boulos discursou no palanque, ao lado da ex-prefeita e vice em sua chapa, Marta Suplicy (PT). Sem citar nominalmente o prefeito de São Paulo Ricardo Nunes (MDB) e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), Boulos preferiu mirar críticas no projeto das escolas cívico-militares, defendido pelo governador.

— Enquanto o presidente inaugura Instituto Federal, tem gente que acha que tem que inaugurar escola militar — disse o deputado.

Boulos também comentou sobre a mudança de tratamento entre o morador da periferia e o morador de uma área nobre, numa crítica a uma fala do vice anunciado pelo prefeito na semana passada, o ex-coronel da PM Ricardo Mello Araújo (PL). Aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, Mello Araújo já defendeu, enquanto comandante da Rota em SP, abordagem policial diferente em bairros de elite, como os Jardins, e na periferia.

— Enquanto tem gente que ainda hoje acha que um morador da periferia tem que ser tratado diferente do morador dos Jardins, nós que estamos aqui temos a certeza e a convicção de que o morador de Itaquera e Cidade Tiradentes tem que ser tratado com o mesmo respeito que o morador dos Jardins, do Morumbi ou de qualquer bairro rico desta cidade. Esta é diferença. É isto que está em jogo — alfinetou o psolista.

Marta Suplicy e Guilherme Boulos no Lançamento da Pedra Fundamental do Campus Zona Leste da Unifesp — Foto: Edilson Dantas/Agência O Globo

Lula, por sua vez, dedicou sua fala a defesa de governar tendo em vista as necessidades da população de baixa renda. Ao se referir à Marta Suplicy , comentou sua passagem pela prefeitura da cidade. Sem citar, porém, sua presença na chapa da pré-candidatura de Boulos, como vice.

— É um prazer acompanhar Marta Suplicy, essa companheira que o povo de São Paulo tem na mente — afirmou. — Eu disse à Marta que ela iria perder a eleição porque cuidou muito dos pobres (…). Foi esse preconceito que derrubou a Marta. A única coisa que justifica é o preconceito.

Aos jornalistas, Boulos afirmou que não houve “conversa” com Lula para evitar novas multas eleitorais.

— Em 1º de maio era um evento político, das centrais sindicais. Hoje é um evento oficial do governo federal. Eu falei não como representante partidário, mas pela bancada dos deputados federais de São Paulo, até porque fui o mais importante votado — disse.

Lula com Janja e Alckmin na Zona Leste de SP (Rui Costa ao fundo) — Foto: Edilson Dantas/Agência O Globo

Participaram da agenda, além do presidente, o pré-candidato à prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL) e sua vice Marta Suplicy (PT). Também estiveram na agenda, em Itaquera, primeira- dama Janja, e os ministros Fernando Haddad (Economia), Camilo Santana (Educação), Jader Filho (Cidades), Paulo Teixeira (Desenvolvimento agrário) e o vice-presidente Geraldo Alckmin.

Em diversas vezes, ao longo das falas de ministros como Haddad, Jader Filho e Camilo Santana, o governo anterior — de Jair Bolsonaro (PL) — foi criticado. Sem, contudo, citar nominalmente o ex-presidente. Jader Filho chegou a dizer que tentaram “acabar” com o programa de habitação Minha Casa Minha Vida. Haddad, por sua vez, afirmou que o Brasil enfrentou uma “crise política” entre 2013 e 2022.

Em referência a Bolsonaro, Lula disse que encontrou o país como a “Faixa de Gaza”, fazendo um comparativo a um cenário de destruição.

— Encontramos o país sem Ministérios, sem funcionários e com um rombo de R$300 bilhões — afirmou.

'Caridade com chapéu alheio'

Nacionalizada, a disputa da prefeitura de São Paulo é palco de uma disputa por protagonismo na inauguração de obras na periferia. Pela tarde, Lula e Boulos devem anunciar a ampliação da linha 5-Lilás do Metrô partindo do Jardim Ângela.

A mesma ampliação, contudo, teve o contrato assinado pelo prefeito Ricardo Nunes e pelo governador Tarcisio de Freitas na semana passada.

Apesar de evitar o nome de Nunes e Bolsonaro no palanque, na conversa com jornalistas, Boulos criticou o atual prefeito por uma agenda de inauguração, no Jardim Ângela, que repete a pauta de Lula hoje a tarde.

— É muito fácil fazer caridade com o chapéu alheio. Inaugurar placa com o dinheiro dos outros, é isso que o Ricardo Nunes e o Tarcísio estão fazendo, pois quem está dando recurso é o governo federal. — disse.

Sobre a pré-candidatura de Datena (PSDB), Boulos falou que tem uma relação amistosa com o apresentador.

— Acho legítimo ele ser candidato — afirmou. — Se você somar os candidatos que têm posição de mudança ou oposição ao novo prefeito você tem uma ampla maioria. Por isso, estou otimista com o cenário.

Por fim, o psolista ainda falou da ausência de Nunes na agenda.

— O atual prefeito se tornou refém do Bolsonaro, é triste ver isso. Ele tem medo de aparecer num evento do governo federal e ser atacado pelos bolsonaristas — disse.

Condenação na Justiça Eleitoral

A agenda ocorre na poucos dias após a Justiça Eleitoral condenar o Lula e Boulos por propaganda eleitoral antecipada, devido ao pedido de voto explícito que o petista fez durante evento comemorativo do Dia do Trabalho. A decisão foi proferida em 21 de junho pelo juiz Paulo Eduardo de Almeida Sorci, da 2ª Zona Eleitoral de São Paulo. Cabe recurso ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SP).

O presidente terá de pagar R$ 20 mil de multa, e Boulos, R$ 15 mil. Durante o evento convocado por centrais sindicatos realizado na NeoQuímica Arena, em 1º de maio, o presidente fez elogios ao deputado, que estava do seu lado, e pediu que o público votasse nele na eleição municipal de outubro.

— E, por isso, quero dizer: ninguém derrotará esse moço aqui se vocês votarem no Boulos para prefeito de São Paulo nas próximas eleições. E eu vou fazer um apelo: cada pessoa que votou no Lula em 89, 94, 98, 2002, 2006 e 2022, tem que votar no Boulos para prefeito de São Paulo — afirmou Lula na ocasião.

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