A ameaça concreta de um golpe militar na Bolívia, denunciado pelo presidente do país vizinho, Luis Arce, será discutida ainda nesta quarta-feira, em uma reunião no Palácio do Planalto, entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o assessor para assuntos internacionais, Celso Amorim, e o chanceler Mauro Vieira. A situação preocupa o governo brasileiro.
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Os bolivianos estão a um passo de se tornarem membros plenos do Mercosul. Seu ingresso no bloco foi aprovado, no fim do ano passado, pelo Senado brasileiro. Porém, o país pode ser suspenso por violação da democracia.
Tanto no âmbito da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi), no Protocolo de Ushuaia, como no Mercosul, existe a chamada "cláusula democrática". O governo do país que ocupou o poder por meios não democráticos é suspenso de acordos diversos, como cooperação e investimentos, na região.
O Senado aprovou o projeto de decreto legislativo que trata da entrada da Bolívia no Mercosul (PDL 380/2023). O texto leva em consideração o protocolo de adesão assinado pelo Estado Plurinacional da Bolívia, em 2015, em Brasília. Para ser aceita como Estado Parte, a Bolívia precisava da aprovação dos parlamentos de todos os integrantes: Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Faltava apenas o Brasil. O texto vai à promulgação.
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O Brasil condenou, "nos mais firmes termos", a tentativa de golpe de Estado na Bolívia, que levou o presidente Arce a convocar os bolivianos a se mobilizarem horas após ter denunciado "mobilizações irregulares" de militares num momento em que tropas e blindados estavam estacionados em frente ao palácio presidencial.
O general Juan José Zúñiga, que liderou o motim, teria chegado ao local em um blindado e armado, segundo jornais locais, e declarou à imprensa que "a mobilização de todas as unidades militares" busca expressar seu descontentamento "com a situação do país", reportaram os noticiários bolivianos.
— Já basta. Não pode haver essa deslealdade — afirmou.
Em vídeos que circulam pelas redes sociais, é possível ver o momento em que um blindado avança contra o palácio e tenta derrubar uma porta metálica. Em seguida, Zúñiga entra no edifício por um breve antes de sair caminhando, segundo a televisão boliviana. Nesse breve período entre a entrada e saída, o comandante foi confrontando por Arce, que afirmou que não iria "permitir essa insubordinação".
Os militares, por sua vez, lançaram gás lacrimogêneo e balas contra um grupo de cidadãos que gritavam "Eu luto, vocês não estão sozinhos". Países da América Latina e a Organização dos Estados Americanos (OEA) também saíram em defesa das lideranças bolivianas, e exigiram respeito aos valores democráticos. A administração de Joe Biden "apelou à calma" em La Paz, disse uma porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca à AFP.
Às pressas, Arce jurou uma nova liderança militar, nomeando José Sánchez Velázquez como o novo comandante do exército. Desde terça-feira, já circulavam rumores sobre a possível destituição de Zúñiga, no cargo desde novembro de 2022, após suas declarações sobre a possível candidatura do ex-presidente Evo Morales em 2025. Falando na TV um dia antes, Zúñiga disse que Morales "não pode mais ser presidente deste país".
Sánchez, ao tomar a palavra, ordenou o regresso dos militares que estavam na praça às suas unidades. Segundo a agência de notícias AFP, os soldados começaram a deixar as imediações da sede do governo.