Jornalista americano preso na Rússia acusado de espionagem será julgado a portas fechadas

Tribunal russo anunciou que Evan Gershkovich, repórter do Wall Street Journal, começará a ser julgado na semana que vem

Por , Em The New York Times — Moscou


Evan Gershkovich, fotografado atrás das grades, em Moscou Natalia Kolesnikova/AFP

Um tribunal russo informou, nesta segunda-feira, que o julgamento do jornalista americano do The Wall Street Journal Evan Gershkovich, preso e acusado de espionagem, vai começar na próxima semana, e que todo o processo será realizado a portas fechadas.

A primeira audiência, marcada para 26 de junho, acontecerá quase 15 meses depois de Gershkovich, de 32 anos, ter sido detido por agentes de segurança na cidade russa de Yekaterinburg, cerca de 1.450 km a leste de Moscou. Depois de passar mais de um ano em uma prisão de segurança máxima em Moscou, o repórter do The Wall Street Journal, deverá ser transferido de volta para Yekaterinburg para ser julgado.

Gershkovich trabalhou na Rússia como jornalista para diversas publicações durante mais de cinco anos antes de ser preso. Seu empregador e o governo dos EUA negaram as acusações contra ele. O Departamento de Estado designou Gershkovich como “detido injustamente”, o que efetivamente obriga o governo a trabalhar pela sua libertação segura.

O anúncio da data do julgamento representa um passo importante no processo legal, que continua em paralelo a conversas entre os serviços de segurança russos e americanos sobre uma possível troca de prisioneiros.

As autoridades russas sugeriram que poderiam estar abertas a uma troca para Gershkovich, mas apenas depois de ser proferido um veredicto sobre o seu caso. Um julgamento por espionagem geralmente leva cerca de quatro meses na Rússia, mas pode levar até um ano, segundo advogados que trabalharam nesses casos.

Evan Gershkovich faz gesto de coração, dentro de gaiola de vidro, durante audiência pré-julgamento, em abril — Foto: Natalia Kolesnikova/AFP

Na semana passada, os promotores russos afirmaram ter finalizado a acusação de espionagem contra o americano. Eles disseram que "sob instruções da CIA" e "utilizando métodos conspiratórios meticulosos", Gershkovich "estava recolhendo informações secretas" sobre uma fábrica que produz tanques e outras armas na região de Sverdlovsk.

A declaração dos promotores foi a primeira vez que representantes do Estado russo revelaram detalhes das acusações contra Gershkovich. Mas faltavam provas para apoiar as acusações.

Realizado a portas fechadas, é pouco provável que o julgamento lance mais luz sobre o seu caso.

O julgamento será presidido por Andrei N. Mineev, juiz do tribunal regional de Sverdlovsk, em Yekaterinburg, de acordo com um comunicado do tribunal. Em uma entrevista de 2021 a um site de notícias russo, Mineev disse que só tinha proferido cerca de quatro absolvições nas suas décadas de carreira. Se for condenado, Gershkovich pode pegar até 20 anos de prisão.

O Wall Street Journal emitiu um comunicado na semana passada prevendo um "julgamento ensaiado".

Gershkovich é um dos vários cidadãos americanos que foram detidos na Rússia nos últimos anos, e o seu caso levantou receios de que o Kremlin esteja tentando usar cidadãos dos EUA como moeda de troca por russos detidos no Ocidente.

Veja fotos do jornalista americano Evan Gershkovich, do The Wall Street Journal, detido pela Rússia

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Outros americanos detidos na Rússia incluem Paul Whelan, um veterano da Marinha dos EUA; Alsou Kurmasheva, editora que trabalha para a Radio Free Europe/Radio Liberty; e Marc Fogel, professor americano da Escola Anglo-Americana de Moscou, que em 2022 foi condenado a 14 anos de prisão por tráfico de drogas.

Na semana passada, um tribunal russo condenou Yuri Malev, um cidadão russo e americano, a três anos e meio numa colônia penal, depois de ter criticado a Rússia, a sua liderança e a guerra na Ucrânia nas redes sociais.

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