Vinhos de Portugal 2024: há um lugar no Alentejo onde é possível fazer o próprio blend; saiba mais

Com ajuda de um sommelier, podemos aprender a fazer um blend com diferentes uvas e ver se o ‘nosso’ vinho sai vencedor de uma prova cega

Por


Gonçalo Mendes, o head sommelier do L’AND Vineyards, é quem auxilia as equipes a preparar o próprio blend e, mais tarde, fazer uma prova cega do que foi criado Divulgação

Como se faz um blend? Quem gosta de vinho, frequenta provas e faz enoturismo está habituado a ouvir falar de blends — sobretudo quando se trata do vinho português, que tradicionalmente é muito menos monovarietal e mais o resultado da conjugação, sábia e equilibrada, de diferentes uvas.

Nesta sexta-feira (14), segundo dia do Vinhos de Portugal em São Paulo, os vinhos do Alentejo serão tema de duas provas: "Alentejo, paraíso dos vinhos sustentáveis", com o crítico Jorge Lucki (13h30) e "Alentejo, um guia de enoturismo", com o crítico Luís Lopes (19h30). Os ingressos estão à venda no site: ingresse.com

Mas, por muito que tenhamos já ouvido falar do que cada uva contribui para o resultado final de um vinho, por muito que admiremos o trabalho dos enólogos na criação dessa harmonia que vamos encontrar dentro da garrafa, na realidade conhecemos muito pouco — ou nada, na maior parte dos casos — desse processo.

O que o L’AND Vineyards, projeto de enoturismo do Alentejo, junto a Montemor-o-Novo, oferece-nos é a possibilidade de sermos enólogos por umas horas. Na verdade, não vamos ser exatamente enólogos porque não cuidaremos das vinhas nem decidiremos o momento da vindima e não acompanharemos a fermentação e depois do estágio. Mas seremos blenders.

E o que isso quer dizer? Quem nos recebe é o head sommelier Gonçalo Mendes, que venceu em 2023 o prêmio de melhor sommelier de enoturismo da Associação Portuguesa de Enoturismo, e que é o responsável por essa área no L’AND. É ele quem nos guia no exercício e explica tudo sobre a arte de fazer vinho.

Criação de um blend no L'AND Vineyards, no Alentejo, Portugal — Foto: Divulgação

A partir de quatro castas tintas das vinhas da propriedade — Touriga Nacional, Touriga Franca, Alicante Bouschet e Syrah —, nos organizamos em equipes para criar o nosso blend. O exercício não só nos obriga a tentar entender mais profundamente as características de cada uva como nos faz desenvolver a sensibilidade para casar essas características entre si. No final é feita uma prova cega para eleger o melhor blend.

Imaginem, então, o que é para um leigo estar perante quatro recipientes com vinho tinto, aparentemente iguais, e ter de decidir que percentagem de cada um vamos colocar na nossa garrafa.

O primeiro passo é cheirar. Com os nossos companheiros de equipe, discutimos o que identificamos como aromas principais — e, como em tudo na vida, é possível nem sempre estarmos de acordo.

Depois, provamos. Esse passo é essencial para entender que o aroma parece nos levar para um lado, mas a prova de boca pode surpreender e nos fazer entender que aquela uva é mais complexa do que parecia à primeira vista. Um aroma muito floral pode ter por trás um sabor com muitas outras camadas de complexidade, que tentamos, ou melhor, conseguimos, guardar na memória.

Essa é, talvez, a parte mais difícil desse exercício. Um enólogo ou um sommelier têm a memória treinadíssima e guardam nela um imenso arquivo, feito com base em muitas provas de vinho, e que lhes é extremamente útil. É a ele que recorrem para guardar a “ficha” que acabaram de fazer e que sabem onde ir buscar quando voltarem a necessitar dela.

No nosso caso, o arquivo está zerado, e a ficha que acabamos de criar é a primeira, o que tem a vantagem de sabermos rapidamente onde a encontrar. Mas vamos juntar a ela mais três. Imaginem que começamos pela Touriga Nacional. Avançamos agora para a Touriga Franca, identificamos as características e guardamos a ficha. Só nos faltam mais duas, o Alicante Bouschet e o Syrah.

Terminado o exercício, convocamos a nossa memória para nos lembrar das características de cada uma e temos então de chamar também a nossa sensibilidade para perceber como as combinar. Quem tem muita prática de cozinha pode lançá-la à mão porque a lógica é semelhante: não abusar de nenhum tempero, equilibrar os ingredientes e garantir a harmonia do sabor final. Parece fácil, mas não é.

Podemos falhar totalmente na primeira tentativa. O que teoricamente nos parecia fazer sentido se revelou, na prática, desinteressante e sem personalidade. Aprendemos a lição. Voltamos a pensar nas características, decidimos que uma das uvas terá de ser a dominante e que as outras vão precisamente ajudar a “temperar”. Alterações feitas perante o olhar divertido da equipe adversária, que já terminou o seu blend, e chegamos à fórmula que nos parece funcionar.

O exercício de criação de um blend ajuda a entender as características de cada uva e a sensibilidade para combinar suas características — Foto: Divulgação

É o momento de testarmos. Gonçalo Mendes é quem garante que o processo é inteiramente justo, ninguém sabe qual o seu blend, e a prova final é totalmente cega. Eis outra lição que convoca tanto a nossa memória (passados minutos, sentimos que já esquecemos o sabor do nosso blend) como a nossa sensibilidade.

Votamos. A equipe adversária também vota. Aguardamos, ansiosos, até o sommelier revelar que o nosso blend foi o vencedor. Não só nós votamos nele, como os nossos rivais também o escolheram convencidos, naturalmente, de que era o deles. Festejamos como se tivéssemos acabado de receber o diploma de sommelier com louvor e distinção.

Atenção: pode acontecer (e acontece) votarmos convictamente num dos blends, convencidos de que é o nosso, e estarmos completamente errados. Mas tudo é aprendizagem, e saímos da experiência entendendo mais sobre vinho, além de levarmos para casa uma garrafa do nosso blend, com rótulo personalizado. Pode ser melhor ou pior, mas só temos uma pessoa a quem responsabilizar pelo resultado: nós próprios.

A prova Faça o Seu Próprio Vinho, no L’AND Vineyards, tem o preço de € 50 por pessoa.

O Vinhos de Portugal 2024 é uma realização dos jornais O Globo, Valor Econômico e Público, em parceria com a ViniPortugal, com a participação do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto; apoio das Comissões de Vinho de Alentejo, Beira Interior, Dão, Lisboa, Península de Setúbal, Tejo, Vinhos Verdes e da Agência Regional de Promoção Turística Centro de Portugal, Turismo de Portugal, Tap Air Portugal, AB Gotland Volvo e Shopping Leblon; água oficial Águas Prata, hotel oficial Fairmont Rio (RJ), local oficial Jockey Club Brasileiro (RJ), loja oficial Porto Divino, rádio oficial CBN e curadoria Out of Paper. A edição de São Paulo conta ainda com a Cidade de São Paulo como cidade anfitriã e SP Negócios como apoio institucional.

Mais recente Próxima Vinhos de Portugal 2024: veja como foi o primeiro dia do evento em São Paulo