Alckmin e Mercadante defendem nova política industrial

Vice-presidente e presidente do BNDES participam de abertura do B20, na sede da Firjan

Por — Rio de janeiro


Brasil abre agendas do G20 em 2020, com participação do vice-presidente e ministro do MDIC, Geraldo Alckmin, e o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes Fabio Rossi/Agência O Globo

O vice-presidente Geraldo Alckmin e o presidente do BNDES, Aloízio Mercadante, saíram nesta segunda-feira em defesa da nova política industrial lançada semana passada pelo governo federal, em Brasília, ao tratar de temas geopolíticos na abertura do Negócios 20 (B20, na sigla em inglês). O B20 é um fórum que reúne representantes de empresas do G20, grupo diplomático formado pelos 20 países mais ricos do mundo. Com o Brasil na presidência rotativa do G20, o Rio sedia a abertura do B20, na sede da Firjan.

Em seu discurso, Alckmin enfatizou que o BNDES é "importante na agenda de competividade e de crédito", mas procurou desfazer a impressão de que o programa anunciado semana passada trará mais gastos com subsídios para a indústria. O vice-presidente, que é também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, destacou que haverá juros subsidiados numa parcela pequena de linhas de financiamento. A TR, taxa que reajusta a poupança, abaixo das de mercado, por exemplo, irá apenas para inovação tecnológica.

-- O que queremos é indústria inovadora, sustentável, com descarbonização e exportação. A exportação dá um upgrade, muda o patamar das empresas em competividade – disse Alckmin.

Mercadante tocou no tema no discurso e em entrevista a jornalistas, após o evento inicial. O presidente do BNDES enfatizou que o cenário geopolítico atual tem impulsionado políticas industriais e protecionistas nos países ricos e industrializados, o que impõe aos países do chamado "Sul global" fazer o mesmo.

Brasil abre agendas do G20 em 2020, com participação do vice-presidente e ministro do MDIC, Geraldo Alckmin — Foto: Fabio Rossi/Agência O Globo

Segundo Mercadante, o Brasil fará isso com poucos subsídios, comparado com os países desenvolvidos – 48% das políticas industriais no mundo atualmente estariam sendo aplicadas pelos EUA, União Europeia e China, citou o executivo.

-- Somos compelidos a ter política de estado de proteção comercial, mas não temos a mesma capacidade de fazer subsídios ou crédito subsidiado (que os países ricos têm) -- disse Mercadante.

Para reforçar a ideia, após a abertura, o presidente do BNDES contou que teve reunião com uma multinacional que pretende construir plantas para fabricar "fertilizantes verdes", ao mesmo tempo, no Brasil e nos EUA, e os executivos da empresa relataram a quantidade de subsídios oferecidos pelo governo americano.

Mercadante também rebateu, em entrevista, as críticas ao programa de apoio à indústria anunciado semana passada. Frisou que 65% do pacote de R$ 300 bilhões, até 2026, terão juros de mercado e ressaltou que outros setores, como a agropecuária, têm mais subsídio do que a indústria -- Mercadante lembrou que os recursos do Plano Safra, de R$ 360 bilhões apenas neste ano, são subsidiados, valores superiores ao do programa para a indústria. E ressaltou que boa parte dos recursos já haviam sido anunciados e estão previstos no Orçamento.

'Em economia o rabo não abana o cachorro'

O presidente do BNDES também refutou a possibilidade de que juros mais baixos do BNDES possam afetar a política monetária -- por essa crítica, feita por parte dos economistas, quando uma instituição pública oferece crédito a taxas abaixo das de mercado, essa parte dos empréstimos não reage à alta dos juros básicos; assim, para conter a oferta de crédito global, o Banco Central (BC) seria obrigado a elevar a taxa básica ainda mais.

-- Qual é o peso do BNDES para o volume de crédito do país? 1,3%. Em economia, o rabo não abana o cachorro. Nós não temos tamanho para interferir na potência da política monetária -- afirmou Mercadante, ressaltando que espera que o BC reduza a taxa básica Selic em mais 0,5 ponto percentual na reunião da próxima quarta-feira.

Também participando da abertura do B20, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, reforçou a defesa do programa lançado semana passada pelo governo federal. E rebateu as críticas de que essas políticas seriam antigas e ultrapassadas.

-- O mundo inteiro está usando ferramentas do passado. Vamos fazer isso. Não tem nenhuma economia forte na histórica recente forte sem indústria -- afirmou Alban.

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