Muitos risos, algumas lágrimas e um desfile de memórias, partilhadas por familiares e amigos, pontuaram o sepultamento de Ziraldo, no fim da tarde de domingo, no Cemitério São João Batista, no Rio. Num clima de saudade e de quase mesa de bar, em que todos relutavam em despedir-se do corpo, a filha Fabrizia sugeriu, a certo ponto.
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Entre risos, lágrimas, música e memórias: amigos e familiares se despedem de Ziraldo
— Quem vai cantar um bolero? — pergunta, no que o ator Antonio Pitanga, amigo de Ziraldo por 65 anos, objetou: — Tem que ser um Frank Sinatra!
Acabou vencendo o bolero. Guiados pelas cantoras Paula e Dora Morelenbaum, os presentes entoaram um "Besame mucho". E, mais próximo da descida do caixão, o tema de "O menino maluquinho", famoso na voz de Milton Nascimento.
— Quando vocês pensam que o caixão desce, ele está subindo — clamou Pitanga, enquanto o sepultamento era completado, sob uma salva de aplausos.
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O chargista Chico Caruso, os atores Fernanda Torres, Tonico Pereira e Fernando Alves Pinto (sobrinho de Ziraldo), o humorista Hélio de La Peña, o baterista Marcelo Costa (parceiro de poker do falecido) e os jornalistas Maria Lúcia Rangel e Sérgio Augusto (companheiro dos tempos do jornal Pasquim) foram algumas das pessoas que acompanharam o enterro. O carro funerário com o corpo de Ziraldo chegou ao cemitério às 16h48, para um enterro marcado para as 16h30.
— O Ziraldo sempre atrasado! — caçoava Sérgio.
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La Peña, do Casseta & Planeta, lembrou de quando começava no humor, com o jornal Casseta Popular, e foi entregar um exemplar a Ziraldo e, quem sabe, conseguir dele alguma colaboração — prontamente recusada:
— Ele disse: "vocês são de outra geração, vocês têm é que sacanear a gente!"
Chico Caruso lembrou de quando se revezava na charge do "Jornal do Brasil" e teve que sair correndo por causa do nascimento do filho, o hoje humorista Fernando Caruso.
— Ele fez a charge e depois foi à maternidade, dizendo que era o avô do menino para não pagar estacionamento. Prometeu ao Fernando uma caixa de lápis que nunca deu, mas fez o convite do aniversário de 18 anos dele - conta Chico sobre Ziraldo, que foi para ele "um grande amor".
Fernanda Torres, que estudou no colégio com os filhos de Ziraldo, recordou-se de invejar os cadernos escolares que o pai ilustrava para eles.
— Eu me alfabetizei com o "Flicts" e depois alfabetizei meu filho com o "ABZ do Ziraldo". A letra N é uma obra-prima! - celebra Fernanda.
Debruçado no túmulo, Antonio Pitanga foi um dos primeiros a tomar a palavra:
— Nenhum de nós viveu a vida que esse homem viveu! Ziraldo é o jardim da amizade!
Fabrizia Pinto contou a história da vez em que o pai foi a Nova York e se incomodou porque lá ninguém parava para cumprimentá-lo:
— Então ele fez amigos por todo canto, só para conseguir continuar andando pela cidade.
O produtor musical Antonio Pinto contou de quando o pai o levou à Disney, em 1979:
— Veio o Pluto e disse: "Ziraldo, deixa eu tirar uma foto com você!"
De memória em memória, cantoria em cantoria, a descida do corpo ao túmulo foi sendo adiada até quase o anoitecer. "Essa urna é muito pequena para a grandeza do Ziraldo!", ainda exclamou Tonico Pereira. Por fim, sob aplausos e assovios, a despedida foi feita.