'Droga Zumbi': quem são os três artistas mortos em 'overdose coletiva' nos EUA

Músico que realizou parceria com a banda Interpol, DJ famoso em Los Angeles e designer de moda premiada foram encontrados sem vida

Por O GLOBO — Rio de Janeiro


Da esquerda para a direita, o DJ Silent Servant, a produtora de cinema Simone Ling e o músico Soft Moon Reprodução/Instagram

"Tudo dói", afirma a americana Marion, viúva do cantor e compositor José Luis Vasquez, roqueiro do projeto Soft Moon. Na última quarta-feira (18), o músico foi encontrado morto, num apartamento em Los Angeles, nos EUA, ao lado dos corpos de outros dois artistas. A suspeita é que os três tenham sido vítimas de uma overdose de fentanil, o analgésico opioide sintético mais potente disponível para uso em tratamentos médicos atualmente.

Um alerta realizado pela mulher de Vasquez, naquele dia, levou policiais até o local onde os corpos foram achados. O músico havia ido à casa dos amigos John Mendez e Simone Ling — que eram casados —, e passou um longo tempo sem responder as mensagens de Marion ao telefone. No apartamento, foram encontrados objetos ligados ao consumo de drogas.

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Quem são as vítimas?

José Luis Vasquez era um músico de 44 anos, com uma carreira voltada para experimentações no gênero pós-punk/darkwave. O americano mantinha um projeto solo batizado de Soft Moon e vinha se destacando na cena do rock, nos EUA, em parcerias com bandas como Depeche Mode, Interpol e Mogwai.

O músico americano José Luis Vasquez, do Soft Moon — Foto: Reprodução/Instagram

De acordo com a página oficial do Soft Moon, Vasquez viajaria para a Europa, em fevereiro, para cumprir uma agenda de shows e festivais por países como Dinamarca, Geórgia, Turquia e Grécia.

Amigo de Vasquez, John Juan Mendez tinha 46 anos e era um famoso DJ da cena techno de Los Angeles — e conhecido pela alcunha artística de Silent Servant. "John e Luis eram dois artistas latinos cujos legados e contribuições ao techno, darkwave e industrial foram encerrados por este mesmo triste fato. Lamento suas perdas hoje e todos os dias", emocionou-se Rachel Grace Almeida, editora da revista musical "Crack".

O DJ Silent Servant, que foi membro dos grupos Sandwell District e Tropic of Cancer — Foto: Divulgação

Natural da Guatemala, Silent Servant morava nos EUA desde os 2 anos. A incursão pela música aconteceu em 1999, quando fez contato com o fundador da gravadora Downwards Records, de Birmingham, na Inglaterra, e se tornou membro do coletivo Sandwell District.

Mulher do DJ, Simone Ling tinha 43 anos e atuava como consultora de moda e produtora de conteúdo. Ling iniciou sua carreira como designer e lançou uma marca própria, chamada Parallel Distortion, em 2012.

A produtora de cinema Simone Ling — Foto: Reprodução/Instagram

Ela se especializou na criação de roupas de vanguarda que desafiavam as normas de beleza e expressão de gênero. Seus designs foram apresentados em várias revistas, como Vogue Paris, Harper's Bazaar UK, WWD China e Elle Japan.

Como o fentanil age no corpo humano?

Cerca de cem vezes mais potente que a morfina e 50 vezes mais potente que a heroína, o fentanil é indicado para anestesia em alguns tipos de cirurgia, como para pacientes submetidos a cirurgia cardíaca ou com função cardíaca deficiente; e como analgésico para tratamento da dor quando outros medicamentos para dor foram ineficazes ou não podem ser usados.

Nesses casos, é considerado um medicamento seguro e eficaz. Sua administração pode ocorrer como uma injeção, adesivo, pastilha, comprimidos dissolvíveis ou sublinguais e spray nasal. Por outro lado, a droga é altamente potente, fazendo com que overdoses acidentais e mortes sejam cada vez mais comuns.

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Nos EUA e no Canadá, o uso da droga é tão frequente que desencadeou uma crise conhecida como "epidemia dos opioides", que acumula mais de 500 mil mortes nos últimos 20 anos. De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de doenças dos EUA (CDC), somente em 2021, ano mais recente do monitoramento, foram aproximadamente 106 mil mortes por overdose no país, um recorde. Destas, cerca de 67% (71 mil) delas foram associadas ao fentanil.

Ao "LA Times", o capitão Raul Jovel, chefe da Divisão Central da Polícia de Los Angeles, lamentou a ocorrência. Ele afirmou que o departamento chega a apurar cinco mortes por overdose por dia.

— É muito triste para as famílias — disse ele. — Esta é uma questão social.

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