Cactos espinhosos gigantes se erguem sobre o fazendeiro Alcides Peixinho Nascimento, de 70 anos, um dos moradores da região da Caatinga que tem a missão de plantar vegetação nativa em uma tentativa de deter a desertificação no região. "Na ausência de leis, cabe a nós agir", afirmou Nascimento, que tenta regenerar a terra plantando mandacaru, um cacto emblemático da região que cresce até seis metros de altura.
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A Caatinga se estende por dez estados do Nordeste, uma área única que ostenta uma extensa variedade de arbustos espinhosos, árvores retorcidas e suculentas adaptadas às condições semiáridas. A sua situação atrai pouco interesse em comparação com a exuberante Amazônia, mas a vegetação desta floresta seca desempenha um papel fundamental na absorção das emissões de carbono e está desaparecendo rapidamente.
A ONG MapBiomas relata que o bioma perdeu 40% de sua superfície original devido a agricultura, mineração e instalação de parques eólicos. É na Caatinga, que vem enfrentando períodos de seca cada vez mais severos, que os cientistas identificaram recentemente a primeira zona árida do Brasil.
"Preservar a Caatinga é manter a terra viva", disse o agricultor.
Cactos gigantes são plantados para evitar desertificação da Caatinga
As comunidades estão adotando vários métodos agrícolas sustentáveis para garantir sua sobrevivência. Os cactos resistentes à seca produzem frutos que podem alimentar animais e humanos, além de proteger o solo do clima extremo. Seus espinhos repelem predadores e costumam ser plantados ao redor de outras culturas e espécies nativas.
O excesso de produção de mandacaru é vendido para uma marca francesa de cosméticos para fazer cremes e sabonetes.
'Guardiões da Caatinga'
Luiz Almeida Santos, da ONG agrícola local IRPAA, disse que a Caatinga está sendo preservada em áreas onde "vivem comunidades tradicionais" que adotam práticas agrícolas sustentáveis. “Eles são os guardiões da Caatinga.”
Um estudo recente previu que nove em cada 10 espécies de fauna e flora da Caatinga podem desaparecer até 2060. O IRPAA também ensina as comunidades locais como prolongar a sua água para durar durante uma seca severa.
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Em suas terras no norte da Bahia, Maria Gonçalves dos Santos, de 60 anos, mostra como a água da chuva é coletada e armazenada em uma cisterna.
“Aqui toda a água é reaproveitada”, disse ela. As águas residuais são filtradas e usadas para regar pastagens de animais.
Maria mede o nível do tanque de 16 mil litros com uma régua e registra o consumo em um caderno. O governo federal instalou quase um milhão de tanques como esse na região desde 2003. As instalações diminuíram drasticamente no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas o programa foi relançado recentemente no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Outra ameaça à Caatinga é o êxodo rural, e o IRPAA criou um centro de formação onde ensinou cerca de 200 jovens sobre métodos agrícolas sustentáveis.
“Na nossa região não temos muitas oportunidades, temos que viajar para buscar conhecimento. Fico feliz em poder contribuir com o bem-estar da minha comunidade”, disse Anderson Santos de Jesus, de apenas 20 anos, que percorreu 200km para chegar ao centro de treinamento.