Luxo só: como é viajar a bordo do maior veleiro de passageiros do mundo

Com muitos muitos confortos e mordomias, roteiro pela Europa teve paradas em Portofino e San Remo, na Itália, e em St.-Tropez, na França

Por , Em The New York Times


O barco Sea Cloud Spirit: capacidade para 136 passageiros Andrea Wyner/The New York Times

RESUMO

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GERADO EM: 18/06/2024 - 12:19

Luxo e sustentabilidade no Sea Cloud Spirit

O maior veleiro de passageiros do mundo, o Sea Cloud Spirit, oferece uma experiência luxuosa de navegação pela Europa, com confortos, mordomias e conexão com a natureza. O capitão envolve os passageiros na experiência e a empresa prioriza a sustentabilidade ambiental. Excursões exclusivas em destinos charmosos complementam a viagem única.

Da ponte do veleiro de três mastros Sea Cloud Spirit, o capitão proferiu as palavras que todos queríamos ouvir. "Vamos zarpar!", gritou depois de desligar os motores, manobrando para manter o ângulo ideal e permitir que seus 18 marinheiros subissem nos brandais e desdobrassem à mão os mais de 380 metros quadrados de velas.

Feito acrobatas, os tripulantes escalaram os mastros até alcançar os joanetes superiores, que se erguiam a mais de 60 metros acima de nós. O capitão, Vukota Stojanovic, fez questão de frisar depois que não era exibicionismo.

—Nunca perdemos a oportunidade de navegar — explicou.

Na hora seguinte, os tripulantes manejaram as cordas até que as 28 velas estivessem infladas pelo vento, levando o barco de 137 metros — o maior veleiro de passageiros do mundo, em que as velas são içadas à mão — rumo à primeira parada em Portofino, na Itália.

Interior de uma das cabines do Sea Cloud Spirit — Foto: Andrea Wyner/The New York Times

Num momento em que as empresas de cruzeiros estão colocando parques aquáticos e quadras de basquete em navios cada vez maiores, o Sea Cloud Spirit, com capacidade para apenas 136 passageiros, de linhas antiquadas e deques de madeira, é destaque. Na verdade, é a mais recente adição à frota da Sea Cloud Cruises, de Hamburgo, e, embora seja a maior, a empresa explicou que quer deixar espaço para que o passageiro se conecte com os elementos à sua volta.

— Você está a bordo, mas tem a impressão de que está sentada na água — comentou Amelia Dominick, corretora imobiliária aposentada de 71 anos da cidade alemã de Colônia, que fazia a terceira viagem no Sea Cloud Spirit.

Eu acabara de chegar de Nice, na França, para um "test sail" de quatro dias rumo à Ligúria, na Itália, criado para seduzir os passageiros e estimulá-los a participar de cruzeiros mais longos. Vejam aqui minhas conclusões.

1. O navio e as cabines

O Spirit tem muitos confortos e mordomias, incluindo academia, biblioteca, salão de beleza e spa com sauna finlandesa e vista para o mar. O deque é espaçoso, com cantinhos que valorizam a privacidade e a descontração.

Sessenta e nove cabines espaçosas têm janela para o mar. A minha — uma das suítes menores no terceiro deque — tinha duas janelas em arco, mesas de mogno, sacada, sofá confortável e poltrona. O banheiro em mármore era luxuoso, com direito a pia banhada a ouro e uma banheira de hidromassagem grandona.

Varanda no deque do Sea Cloud Spirit: conforto a bordo — Foto: Andrea Wyner/The New York Times

A decoração elegante é inspirada no Sea Cloud original, construído em 1931 para Marjorie Merriweather Post, herdeira da General Foods Corp., com painéis de madeira polida e detalhes em ouro. Chegou a ser o maior iate a vela particular do mundo antes que Post o entregasse à Marinha dos EUA para ser usado para previsões meteorológicas durante a Segunda Guerra Mundial. De lá para cá, o barco de quatro mastros com capacidade para até 64 passageiros passou por reforma para recuperar o antigo glamour e cruzar o Mar Egeu e o Adriático durante o verão.

2. Navegação

A experiência deu a sensação de ser autêntica — mesmo antes de as velas estarem prontas —, com direito a simulação de segurança detalhada. Na maioria dos cruzeiros, depois dela vêm um vídeo e o registro em um ponto de encontro; aqui, porém, os passageiros vestiram o colete e foram passando por diversos cenários de emergência, incluindo racionamento alimentar e pesca de dentro do bote salva-vidas.

Todo dia, as velas foram abertas, mesmo durante a chuva pesada e os ventos de mais de 55 quilômetros por hora. O passageiro que quiser pode participar da mastreação, mas as condições meteorológicas no nosso caso eram muito arriscadas.

— Incrível observar o pessoal içando e baixando as velas, sentir a força do vento empurrando o barco com tanta rapidez que nem precisa dos motores — disse Malte Rahnenfuehrer, psicólogo de 50 anos de Zurique, que viajava com a companheira e os dois filhos.

3. O capitão

É raro os passageiros de um cruzeiro verem o capitão depois dos drinques iniciais de boas-vindas ou do primeiro jantar de gala, mas Stojanovic esteve presente ao longo de toda a duração do cruzeiro, desde que zarpamos, durante as instruções e circulando entre os passageiros.

O capitão Vukota Stojanovic no deque do Sea Cloud Spirit — Foto: Andrea Wyner/The New York Times

Nascido em Montenegro, Stojanovic pilotou cargueiros durante vários anos, por isso, quando foi convidado para assumir o Sea Cloud original, há quase uma década, hesitou porque não tinha experiência com velas — e, mesmo depois de aprender tudo sobre as cordas, que são 340 (conhecidas como cordame em movimento), continuou inseguro.

— Aprendi a amar a vela, os barcos, a tripulação, o estilo de vida, mas ainda tinha a impressão de que meu lugar era entre os contêineres. Seria uma adaptação e tanto, principalmente porque teria de começar a fazer a barba todo dia — brincou.

No fim, ele aceitou a oferta e não descansou enquanto não aprendeu a velejar e operar a embarcação. Adotou a política da "ponte aberta", permitindo aos passageiros a visita à sala de controles mesmo quando tem dificuldades para controlar o vento:

— A tripulação e os passageiros fazem parte da experiência, e eu gosto de conhecer gente e saber o que as pessoas estão achando.

4. Meio ambiente

A Sea Cloud Cruises pretende investir na abordagem "gentil", usando a energia eólica para movimentar suas embarcações sempre que possível, mesmo que isso signifique mudar a rota para obter melhores condições meteorológicas. Quando não dá para velejar, o Spirit utiliza dois motores elétricos à base de combustível navais com baixo teor de enxofre. A empresa também está trabalhando com os portos que têm capacidade elétrica de cais para se aproveitar da energia local.

Vista de Portofino, na Itália, a bordo do Sea Cloud Spirit — Foto: Andrea Wyner/The New York Times

A bordo, a ênfase é nos frascos reutilizáveis e nos canudinhos de papel; os tripulantes separam o lixo sólido, que é compactado e retirado durante as escalas.

5. Excursões e atividades

Fizemos paradas em Portofino e San Remo (Itália) e em St.-Tropez (França), ancorando em alto-mar e chegando a terra firme de bote — bem diferente dos navios imensos, com sua buzina ensurdecedora e as chaminés vomitando fumaça.

Para os passageiros que quiseram nadar (não há piscina), a tripulação marcou uma área com boias e um escorregador inflável. A água estava gelada, mas muitos se arriscaram pulando da plataforma. Quem quis também pôde fazer os "safáris do zodíaco", à volta da embarcação, para vê-la de dentro da água sob ângulos diferentes.

Mergulho: diversão a bordo de veleiro — Foto: Andrea Wyner/The New York Times

As excursões variaram desde passeios gastronômicos e vinícolas até tours de bicicleta elétrica e praianos. Em Portofino, os passageiros foram liberados para explorar as atrações sozinhos, inclusive a fortaleza Castello Brown e o farol em Punta del Capo. Tivemos tempo de sobra para comer, já que o barco só saiu às 11 da noite. No verão, o Sea Cloud Spirit vai velejar rumo à Espanha, Portugal, França e Açores, entre outros destinos. Em 11 de novembro, zarpa rumo a St. Maarten, no Caribe, para o inverno.

— Independentemente da rota, a empresa vai procurar se manter afastada das multidões e dos portos onde os transatlânticos despejam cinco, seis mil passageiros — garantiu Mirell Reyes, presidente da Sea Cloud Cruise para a América do Norte.

Os preços de verão para a viagem de quatro noites, incluindo alimentação e bebidas, variam de US$ 3.995 pela cabine superior a US$ 9.420 pela suíte com sacada. Para a versão de sete noites, os preços variam de US$ 6.995 a US$ 16.495.

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