Em tempos de redes sociais, não faltam lugares que parecem mágicos em imagens vistas nas telas de computadores e celulares. Mas, em muitos casos, basta o viajante ver de perto para entender que o que foi prometido em fotos e vídeos não exatamente corresponde à realidade. Ainda que muitos desses atrativos sejam interessantes por si só, a quebra de expectativa pode causar uma certa irritação.
Os exemplos são muitos, e podem ir de uma biblioteca futurista na China, onde quase não há livros, à sacada mais famosa de Florença, cuja história real não se encaixa com o mito criado por guias de turismo. Algumas delas foram compiladas pelo casal Michele Martins e Renan Greinert, que vivem na estrada desde 2015 e fazem o blog "Mundo sem fim".
Confira abaixo cinco dessas "pegadinhas" turísticas mundo afora:
Cerveja 'de graça' na praça na Eslovênia
Há alguns anos, começou a rodar pelo mundo a fantástica notícia de uma fonte na Eslovênia de onde jorrava cerveja de graça. Algo digno dos contos de fadas europeus, mas que não é bem assim no mundo real. O conjunto com seis torneiras, cada uma com um sabor de cerveja diferente, é conhecido como Green Gold Fountain, fica na cidade de Žalec, numa região conhecida pela produção de lúpulo de ótima qualidade. A experiência de tirar chope de uma torneira no meio de uma praça até pode ser interessante, mas não é de graça.
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Para provar a bebida que sai "magicamente" da fonte, o interessado precisa comprar uma caneca especial, vendida a 11 euros (cerca de R$ em lojas autorizadas por toda a cidade. Esses recipientes têm um chip que aciona a torneira, que despeja 100ml por vez. Cada caneca pode ser utilizada apenas seis vezes. Ou seja: é como pagar R$ 63 numa garrafa de 600ml.
Biblioteca (quase) sem livros na China
Desde que foi inaugurada, em 2017, a Biblioteca Tianjin Binhai colocou a cidade de Tianjin , no litoral norte da China, na lista de muito viajante mundo afora. Turistas começaram a chegar de todas as partes do mundo só para ver de perto o prédio - com ares futuristas e um interior branco digno de ficção científica - projetado para abrigar uma imensa quantidade de livros. As prateleiras, cheias de curvas, iam do chão ao teto, passando pelas muitas escadas. O problema é que, ao chegar perto das prateleiras, os visitantes começaram a notar que, na maioria dos casos, não havia livros de verdade, e sim apenas adesivos simulando volumes enfileirados.
Apesar de ser um lugar mais para ver (e fotografar e filmar) do que para ler, a biblioteca de Tianjin tem sim uma enorme coleção de livros. Uma parte pequena fica no salão principal, o que atrai os visitantes. Mas a maioria está guardada em salas e prédios anexos, e pode ser consultada pela população.
Varanda pega-turista na Itália
Verona não precisaria de Romeu e Julieta para ser um importante destino turístico. Afinal, a importância histórica da cidade, que vem desde o Império Romano, já bastaria. Mas o clássico de William Shakespeare com certeza conferiu um molho extra, atraindo ainda mais visitantes interessados em conhecer de perto os lugares que teriam inspirado a trágica história de amor dos adolescentes de famílias rivais. E assim surgiu a Varanda de Julieta, uma sacada de onde supostamente a jovem Capuleto recitava poemas de amor.
A questão é que Julieta, Romeu e a história de ambos são frutos da imaginação do bardo inglês. Portanto, ela nunca poderia ter subido em sacada alguma. Muito menos no casarão localizado no número 23 da Via Capello, cuja varanda só foi construída no século XX.
Robson Crusoé passou mesmo por Honduras?
Outro nome da ficção que foi usado para "turbinar" o marketing turístico de um destino que já seria atraente por si só é Robson Crusoé. A ilha em que o personagem criado por Daniel Defoe consegue chegar, depois de naufragar no Caribe, seria Utila, parte do território de Honduras. Teria sido ali, segundo as lendas locais, que Crusoé se estabelece e vive suas famosas aventuras. O problema é que isso não aconteceu. Não apenas Utila não é citada no livro, como, pelas próprias coordenadas oferecidas pelo autor, a tal ilha teria que ficar mais perto da Venezuela do que da América Central.
Mas isso não impede que muitas empresas que exploram o turismo de Utila se aproveitem do nome de Robson Crusoé e do próprio Defoe, que nunca pisou na ilha. Para criar seu cenário ideal, que coincide com a geografia da ilha hondurenha, o autor inglês teria apenas se baseado em relatos de piratas e corsários, que de fato frequentavam muito Utila por volta do século XVII.
História de pescador em Mianmar
De acordo com o casal do "Mundo sem fim", conhecer o Lago Inle, perto da cidade de Nyaungshwe, é um dos melhores programas para se fazer em Mianmar (a antiga Birmânia, no Sudeste da Ásia). A combinação de natureza deslumbrante com um estilo de vida ainda bastante autêntico, representado pelas casas em palafitas das comunidades locais, fez do lago um de seus lugares favoritos no país.
O problema é o storytelling envolvendo os pescadores, que ainda usariam uma técnica tradicional para capturar os peixes, remando com os pés e apanhavam os animais com a ajuda de um equipamento na forma de cone e uma lança. A questão que este não é mais o método de trabalho mais usado, substituído por ferramentas mais modernas, como varas e redes. O estilo antigo então é preservado apenas como uma espécie de show para os turistas.