As mudanças climáticas, responsáveis pelo excesso de chuva no Sul e a antecipação da seca no Centro-Oeste, estão fazendo com que os alimentos pressionem a inflação por mais tempo este ano. Em condições normais, essa é uma época em que os alimentos in natura costumam cair de preço. No entanto, todos os indicadores divulgados até aqui ainda mostram forte influencia dessa categoria. E não foi diferente com o IGP-M, divulgado nesta quinta-feira pelo FGV Ibre, que registrou alta de 0,81% em junho. Apesar do índice ser menor em relação ao de maio, quando subiu 0,89%, em 12 meses houve uma aceleração, alta de 2,45% ante a uma queda de 6,86% nos 12 meses anteriores.
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Segundo André Braz, coordenador dos Índices de Preços do FGV Ibre, tanto no Índice de Preços ao Produtor Amplo (I PA) quanto no Índice de Preço ao Consumidor (IPC) - que compõe o IGP-M- as maiores contribuições para essa subida vieram dos alimentos.
- Os alimentos in natura normalmente começam a apresentar queda de preço agora. Uma estação mais seca, onde é mais fácil controlar o volume de água do que no verão, onde chove toda hora. Mas como o clima mudou, tá seco no Centro-Oeste e chovendo muito no Sul. Com isso, a oferta de alimentos também está confusa.
Braz explica que ainda sobre os alimentos os efeitos sazonais:
- São aqueles que acontecem sempre nesta época do ano. Isso está bem explícito no preço do leite. O leite está ficando mais caro e com ele tende a ficar mais caro toda a cadeia de derivados. Isso é um problema. O outro é o café. O café está subindo de preço no mercado internacional e também houve a nossa desvalorização cambial. E isso afeta o preço do café doméstico, o que já aparece no IPA e no IPC.
A próxima pressão, diz o economista, deve vir do trigo, diante da desvalorização do real frente ao dólar.
- O Brasil não é autossuficiente em trigo, produz , menos da metade do trigo que consome, o que nos leva a nos preocupar com o preço desse produto. O trigo contamina toda a cadeia de itens derivados, a farinha, consequentemente pães, massas, biscoitos. A soja e o milho, por sua vez, encarecem o preço das carnes. Então, se houver problema de safra, principalmente no Centro-Oeste e no Sul, relacionado à safra dessas grandes commodities, junto com a nossa desvalorização cambial, porque nesse caso não importa o Brasil ser o maior produtor, que o preço desses produtos é cotado em dólar. Então, se a nossa moeda desvaloriza, a gente paga mais caro por eles. Isso também tende a contaminar o preço de carne de aves, suínas, a parte de ovos, que são os animais que consomem esses grãos para engordar. Então, a história da alimentação ainda está sendo contada em 2024 e a possibilidade de a gente ter um impacto maior do que a gente tinha na planilha - ressalta.
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Com esse cenário, Braz projeta uma alta de 6% para os alimentos.
-Quero eu fazer uma revisão para baixo desse número, mas por enquanto eu sustento. E com ele, a inflação média do país deve ultrapassar a casa dos 4%, ficando em 4,15% - conclui.