No estande da Quinta dos Roques, no Salão de Degustação, o produtor Luís Lourenço conversa com os visitantes e oferece seus vinhos. A estrela é o branco monovarietal da uva Encruzado, típica do Dão. Mais do que um viticultor, Lourenço é um contador de histórias e, com humor, animou a 10ª edição do Vinhos de Portugal, que aconteceu no terceiro piso do Shopping JK Iguatemi, em São Paulo, entre quinta e sábado (17).
Em 1992, quando começou a trabalhar com o sogro na Quinta dos Roques, Lourenço era professor de matemática e bebedor de Coca-Cola.
- Pra mim, dois mais dois eram quatro, mas esse espírito racional não funcionava na vinícola. Ali, descobri que dois mais dois podiam ser zero ou mesmo seis. Foi uma reviravolta. O desejo de entender me levou a fazer monovarietais, vinhos de uma uva só, para me familiarizar com as características de cada uma - lembra.
Na época, na região do Dão, os monovarietais eram malvistos, a tradição eram vinhos de corte, de mais de uma uva. Tanto que quando ele fez a primeira experiência com a Encruzado, em 1992, o vinho não foi aprovado pelo DOC Dão, porque contrariava a legislação. Com a mudança da lei, em poucos anos colocou seu rótulo no mercado e, hoje, a Encruzado é um sucesso, de alguma forma responsável pela visibilidade que tem tido o Dão, região que no passado era conhecida por vinhos de baixa qualidade.
Esgana cão e Borrado das moscas
Uma das especialidades de Lourenço é explicar a origem dos nomes das castas portuguesas, que têm nomes diferentes pelo país — às vezes, a mesma uva tem dois nomes. Ele cita a “Esgana cão”, a “Borrado das moscas” e conta que, antigamente, quem batizava as uvas eram os trabalhadores do campo e não os cientistas, como acontece hoje.
- Veja a “Borrado das moscas”, antes um nome tão divertido, que tinha a ver com a aparência da uva e foi substituído por “Bical”, uma palavra insossa.
Os vinhos da Quinta dos Roques chegam ao Brasil pela Decanter, que importa seis rótulos. O de entrada é o Quinta do Correio a R$ 90,90 e o mais caro, o Reserva, a R$ 457. O Encruzado fica na faixa intermediária, custa R$ 270, e ainda é muito pouco conhecido pelos brasileiros.
É muito fácil fazer um vinho com a uva Encruzado, diz Lourenço.
- Eu não deveria dizer isso do ponto de vista comercial, mas a uva proporciona equilíbrio, aroma, complexidade e elegância.
A empresa continua familiar, exporta 85% da produção para 25 países e o Brasil ocupa o quinto lugar.
Quinta do Piloto
Um pouco mais adiante, o importador Cezar França, da Maison du Vin, comemorava sua estreia no evento com os rótulos da Quinta do Piloto, que estarão disponíveis no mercado a partir de segunda-feira (19). A Quinta do Piloto, que já foi comercializada no Brasil, fica em Palmela, na Península de Setúbal, e chega nesta nova fase com 13 rótulos: tintos, brancos e com vinhos de sobremesa moscatel de Setúbal. A faixa de preços varia de R$ 120 a R$ 600.
Enquanto oferecia uma taça do Piloto Collection Roxo, um branco especial, França dizia estar bastante otimista com as perspectivas da importadora, que nasceu durante a pandemia.
- Esta é nossa primeira marca portuguesa. Nossa proposta era fugir do mesmo e das regiões mais conhecidas. A Península de Setúbal ainda tem muito pouca coisa no Brasil.
Na área gratuita do evento, a movimentação foi grande com público interessado em assistir aos “talk shows”.
A 10ª edição dos Vinhos de Portugal é uma realização dos Jornais O GLOBO, Público e Valor em parceria com a ViniPortugal, com a participação do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, Apoio das Comissões Vitivinícolas do Alentejo, Lisboa, Dão, Tejo, Vinhos Verdes e Península de Setúbal, Agência Regional de Promoção Turística Centro de Portugal, TAP Air Portugal e Lexus Rio de Janeiro, água oficial Águas Prata, hotel oficial Fairmont Rio (RJ), local oficial Jockey Club Brasileiro (RJ), rádio oficial CBN e curadoria Out of Paper. A edição de São Paulo, conta ainda com São Paulo como cidade anfitriã e SP Negócios como apoio institucional.