Botafogo e Fluminense entram em campo pela Libertadores e pela Recopa Sul-Americana, respectivamente, e terão outra preocupação além de seus adversários: a altitude. O time alvinegro encara o Aurora no estádio Félix Capriles, que fica a 2.550 metros acima do nível do mar, enquanto o Tricolor vai jogar contra a LDU, no Estádio Rodrigo Paz Delgado, e enfrentar os 2.850 metros de Quito.
O Botafogo, que entra em campo nesta quarta-feira, pelo confronto de ida de segunda fase da Pré-Libertadores, terá que quebrar um tabu que dura mais de 60 anos. A última e única vitória do clube na altitude foi contra o Milionários, na Libertadores de 1963.
O Fluminense, por sua vez, já venceu diversos jogos na altitude — o mais recente foi contra o Milionários na Libertadores de 2022 —, mas terá que superar um trauma passado. O time das Laranjeiras nunca venceu a LDU em Quito e perdeu por 4 a 2 na final da Libertadores de 2008 e por 5 a 1 na decisão da Sul-Americana de 2009.
Esta altitude é um “bicho-papão” para os brasileiros, que são acostumados a disputar partidas próximas do nível do mar. Segundo o fisiologista Cláudio Pavanelli, quanto maior a altitude, menor a pressão do ar e o oxigênio tem mais dificuldade para entrar no seu corpo e ser usado como transporte de energia.
— O oxigênio forma 20,93% do ar em qualquer lugar. O que muda? Imagina uma pessoa na praia. Dessa pessoa até a atmosfera existe uma camada de ar maior do que se pegar essa pessoa e colocá-la numa montanha. Logo, a camada de ar que existe na altitude é menor. O que isso significa? Que a pressão a que esse oxigênio é submetido é menor. Então se você tem menos pressão, o oxigênio tem mais dificuldade para entrar no seu corpo e ser usado como transporte de energia — explica o fisiologista Cláudio Pavanelli, diretor de Sports Science & Performance do The Villages SC.
Ele lembra que, além das consequências biológicas, há a diferença no tempo da bola:
— Se tenho uma pressão menor, a bola chutada encontra uma resistência menor no ar. Logo, vai ter um comportamento diferente. Vai se mover numa velocidade maior e fará curvas diferentes do que faria a nível do mar.
Flávia Magalhães, especialista em gestão de saúde e performance de atletas, explica que, quando um jogador atua a dois mil metros de altitude, casos de Cochabamba e Quito, pode sentir náuseas, tonturas e cefaleias. E os sintomas costumam aparecer de seis a 12 horas depois de estar nesse ambiente.
— Agora, quando se está jogando acima dos quatro mil metros, a situação é bem mais complicada e, se não for tratada, pode evoluir para um edema pulmonar agudo e edema cerebral — acrescenta ela.
De acordo com a médica, a alternativa ideal seria uma aclimatação no local de três semanas, o que é inviável no futebol. Mas há outras medidas que podem ser tomadas para amenizar os efeitos:
— Deve-se observar a ingestão de ferro, a hidratação, o consumo de carboidratos e vitaminas. Seis horas antes da subida para o local da partida, pode-se tomar um anti-inflamatório sob orientação médica.