Gustavo Poli
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Gustavo Poli

Boa parte dos debates futebolísticos que inspiram esta coluna ocorrem num grupo de mensagens frequentado por jornalistas de idade avançada. Ali, sob a égide verdinha do whatsapp, somos todos orgulhosamente dinossauros, representantes da última geração que lembra como era não ter o mundo na palma da mão. Somos tricerátops, brontossauros, dicinodontes... remanescentes desse distante tempo em que não havia internet onipresente e onisciente.

Nesse cretáceo privado, nos maravilhamos com o futebol carioca contemporâneo. O Flamengo milionário, o Botafogo redivivo, o Fluminense campeão da América, o Vasco da 77...er... o Vasco ainda não reencarnou. Mas vai. O dinheiro chegou — e de repente, não mais que de repente, a ruína virou passado. Ou assim esperamos em nossa vã ingenuidade.

É claro que o Flamengo está em patamar diferente dos outros. Tanto que os humoristas de nosso grupo já criaram uma moeda particular: a Vitcoin. Explica-se: alguns anos atrás, o Fla-novo-rico estava com tanto dinheiro em caixa que disparou 10 milhões de euros no Vitinho para ser reserva de luxo. Quem seria capaz de gastar tanta grana num jogador pro banco?

Nosso dinossauro mais ranzinza nunca perdoou. Toda pré-temporada ele — um tricolor performático — lembra algo como:

— O Fluminense não investiu nem meio Vitinho! Em aposentados!

Outro pterodáctilo, que nas horas vagas apresenta o Redação Sportv, matou no peito e criou a moeda. Esta semana, Luiz Araújo, comprado por 0,8 Vitcoins (1 Vitcoin = 10 milhões de euros) fez dois golaços e subscreveu todas as teses. Comprovou o poderio financeiro do Fla — capaz de ter no banco um jogador que seria titular em quase todo o resto da Série A — e que, como raramente joga, tem seu talento quase esquecido.

Essa riqueza toda é novidade. Os rubro-negros mais antigos não esquecem de contratações como Borghi (El Matador... de aula), Goeber, Geladeira... os botafoguenses outro dia se viravam com Zé Gatinha. Os tricolores tiveram Itaberá.

Para quem viveu a Era Caixa D’Água, o presente é o oásis depois de anos no deserto. Os jovens de hoje provavelmente nem sabem quem foi Caixa D’Água, ou Eduardo Augusto Viana da Silva, advogado, professor de direito da UERJ, fumante inveterado, presidente da Federação de Futebol do Rio de Janeiro por 22 anos. E autor de frases como:

— Acordo... eu descumpro. Trato.. eu rasgo. Opinião pública para mim deve ser tratada na base da metralhadora.

— Não tenho reserva moral quanto à virada de mesa. Esporte é produto da cultura, e nesse país se vira a mesa à vontade. Se preciso, quebro a mesa!

Não por acaso, foram anos em que o futebol carioca patinou na pior crise de sua história. Eduardo tinha o apelido de Caixa D’Água porque quando novo, em Campos, gostava de namorar perto de um reservatório. Era um articulador político hábil e divertido, que adorava ser uma espécie de vilão de desenho Disney.

Mas Eduardo não era um dinossauro. Sua espécie era certamente outra — do tipo que não é extinta por meteoro. Hoje em dia, se estivesse vivo (ele morreu em 2006), provavelmente seria deputado. Ou senador. Ou influcoach. Afinal, na Terra da Santa Cruz, as mesas virantes nunca saem de moda.

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