Luana Génot
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Luana Génot
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Luana Génot


A vida é uma sequência de repetições e mudanças, uma dança entre o habitual e o inesperado que molda nossa experiência no mundo.

Vejo esta dualidade através da metáfora das ondas do mar. O mar imita a vida. O que tem de previsível tem de inesperado. Cada onda que se aproxima da costa parece similar à última. Ao mesmo tempo, cada onda é única em sua forma, força e até no som que produz ao quebrar na praia. Da mesma forma, um bebê em crescimento parece previsível, mas nos surpreende com pequenas mudanças.

Tenho um filhinho de 11 meses e vivencio isso. Sempre me surpreendo com cada nova habilidade. Um movimento de mãos que parecia descoordenado já começa a parecer palminhas. Sons se juntam e formam-se palavras, ainda que incompletas. A gengiva coça, são dentinhos chegando. Sutil e ao mesmo tempo gradual e avassalador ver tantas mudanças que surgem em meio a repetições.

O conceito de mudança gradual é também relevante quando consideramos desafios sociais, como o machismo, o racismo ou ainda as mudanças climáticas. Machismo e racismo são estruturas enraizadas em nossas sociedades que parecem, às vezes, imutáveis. A resistência a mudanças pode gerar uma sensação de inércia.

Por exemplo, no combate ao machismo, é comum ouvirmos generalizações de que todos os homens são machistas. Isso pode ofuscar a percepção de aliados potenciais no movimento feminista. Homens, por exemplo, que estão ativamente envolvidos em desafiar normas de gênero e promover a igualdade.

Em muitos contextos, como na luta contra o racismo, a tendência de generalizar pode impedir o reconhecimento de progressos individuais. A generalização, enquanto mecanismo psicológico, nos ajuda a simplificar e gerenciar a complexidade do mundo, mas também pode limitar nossa capacidade de perceber a mudança.

As mudanças climáticas estão diante de nós. O planeta está aquecendo e vemos diferença no padrão de chuvas, de calor ou de frio. “Calor fora de época” e inundações de formas como não estávamos acostumados nos mostram que já não estamos mais diante do mesmo cenário de antigamente. Isso também requer de nós uma mudança gradual de hábitos que vão da nossa forma de nos alimentarmos à mobilização para doação e cobranças na hora do voto: precisamos exigir um posicionamento e planejamento nítidos dos políticos que iremos eleger neste ano sobre que questões climáticas.

Há ondas de mudanças acontecendo e nós podemos ser parte delas. Estruturas que parecem imutáveis são também passíveis de transformações. Assim como as ondas do mar, depende de nós a paisagem que vamos moldar.

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