Luana Génot
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Luana Génot
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Luana Génot


Num recente jantar entre amigos, tivemos a oportunidade de abrir nossos corações em um espaço seguro e discutir temas que, literalmente, atingem nossas vidas cotidianas e as estruturas de nossa sociedade. Um dos temas abordados foi o afeto e a conexão com questões críticas como igualdade racial e de gênero. A reflexão serve de mosaico para ilustrar desafios e potenciais soluções para toda a sociedade.

Afeto é uma manifestação de amor e de carinho que podemos ter uns pelos outros. Ele constrói pontes emocionais e solidifica laços sociais. No entanto, por mais genuíno que seja, não está isento de ser filtrado através das lentes das nossas estruturas sociais.

Considere o exemplo de uma família que contrata uma mulher negra e nordestina como empregada doméstica e a declara como “como se fosse parte da família”. Essa afirmação pode ser carregada de boas intenções. A empregada é querida por todos, participa de reuniões familiares e é elogiada por seu trabalho e dedicação. No entanto, esse afeto contrasta com uma realidade contraditória. A empregada “parte da família” não participa da mesma forma das viagens, não tem acesso às mesmas condições de lazer e seu salário é desproporcionalmente inferior ao que um membro “oficial” ganha no fim do mês.

O afeto, nesse contexto, é paradoxal. A empregada doméstica vive uma realidade marcada pela desigualdade. Para aqueles que acreditam que a sociedade pode ser mais igualitária, o afeto pode ser ainda mais potente se acompanhado de ações concretas.

É crucial reconhecer que o afeto acompanhado de uma visão crítica pode ser um catalisador para a mudança. Pode impulsionar um compromisso firme com a eliminação de barreiras que perpetuam a desigualdade.

O desafio é transformar o afeto em políticas que reconheçam a dignidade integral de cada pessoa, independentemente da posição social ou ocupacional. Promover a igualdade racial e de gênero através do afeto significa encarar de frente as desigualdades sistêmicas e trabalhar para desmantelá-las. Isso envolve criar mecanismos que garantam não só um salário justo, mas também acesso igualitário a oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional. No caso da empregada, isso poderia significar investir em sua educação, incluindo letramento racial e de gênero, além de viagens de lazer em igualdade de condições e ajuste do salário e dos benefícios para refletir sua verdadeira importância dentro do lar.

Acredito que podemos começar a construir uma sociedade em que o afeto é a base não apenas para relações pessoais enriquecedoras, mas também para uma justiça social na prática, para além das boas intenções.

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