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Por Mariana Rosário — São Paulo

Alessandra Negrini riu ao ser questionada se sente pressão ao voltar às novelas do horário nobre, após 15 anos, sob escrutínio feroz das redes sociais. “Se for me preocupar com isso, eu ‘tô’ ferrada. Vou fazer meu trabalho, o resto não é problema meu.” Ela explica que o retorno à faixa mais prestigiada das novelas aconteceu porque ficou entusiasmada em trabalhar com o diretor Mauro Mendonça Filho, sob o texto de Gloria Perez. No folhetim, a atriz viverá Guida, uma mulher que se apaixona pelo ex-namorado da irmã. Não é uma vilã, nem mocinha, mas uma personagem “verdadeira”, diz Alessandra.

Ao longo da entrevista, a atriz afirmou que a segurança que exibe é também ladeada por muito perfeccionismo. No ensaio que acompanha a reportagem, por exemplo, mirou o trabalho de maquiagem no espelho e mudou tudo para uma versão “quase nada”, na qual sentiu-se melhor.

De cara limpa, falou do voto em Lula nas eleições e da dificuldade de ficar longe dos filhos, Betina, de 17, e Antônio, de 25, ao longo das gravações da novela, no Rio, enquanto eles estão em São Paulo. Antietarista, explicou também que seu posicionamento sobre o tema está claro em suas ações, como ser, aos 52 anos, rainha do bloco carnavalesco Acadêmicos do Baixo Augusta, um dos mais fervidos da capital paulista.

Ao fim da entrevista, aos 45 minutos do segundo tempo, marcou um gol: “Você esqueceu de me perguntar sobre o Corinthians. Estarei lá no estádio na quinta-feira”. O “Timão” ganhou de 3 a 0 do Fluminense na partida, e a atriz ganhou de lavada com uma de suas entrevistas mais francas. Confira os melhores trechos da entrevista.

A atriz fala sobre etarismo: "Iisso enche o saco"  — Foto: Jorge Bispo
A atriz fala sobre etarismo: "Iisso enche o saco" — Foto: Jorge Bispo

Como têm sido as gravações de “Travessia”?
Está ótimo, falar o texto de Gloria Perez é muito bom. Tem sido gostoso trabalhar com o diretor Mauro Mendonça, tenho também dois parceiros maravilhosos: a Vanessa Giácomo e o Rodrigo Lombardi. A princípio, Guida é uma pessoa legal e a vida tem dessas situações (a moça se casará com o ex-cunhado). Na verdade, são personagens bastante humanos, não tem vilão e mocinho. Acho que as coisas mudaram um pouco.

Como assim?
Dependendo do estilo do autor, se ele souber fazer — e a Gloria é mestra — é mais legal se os personagens são mais verdadeiros. Ninguém é vilão e mocinho… quer dizer: há alguns psicopatas, os loucos, mas é raro. A Gloria mesmo disse que, neste momento, a Leonor (Vanessa Giácomo), a irmã, será a vilã na vida da Guida. Talvez, em outro momento, a Guida seja a vilã na vida da Leonor. Ninguém ocupa terminantemente o papel do mau, me lembra um pouco Nelson Rodrigues.

Outro trabalho seu é a série “Cidade Invisível”, da Netflix, em que você faz a folclórica cuca. como será a segunda temporada?
Será muito forte, com uma pegada social, de denúncia. Há a presença da Floresta Amazônica como algo central, e o elenco é majoritariamente indígena. Vejo a proteção da Amazônia como um tema essencial.

Costuma falar sobre esse tema com colegas?
Não fico falando sobre isso com meus pares. As pessoas têm acesso à informação de que precisam. Não vou ser a pessoa chata. Eu me coloco, e cada um se coloca se quiser.

Como rainha de bloco, sente que a falta de carnaval nos fez perder a relação com as ruas?
Acho que não. A cidade está fervendo. Tanto em São Paulo quanto no Rio, falando dos centros, muitos lugares diferentes nasceram, está interessantíssimo. Mas as cidades também estão extremamente violentas. Há muita pobreza e descaso. É muito fácil falar “vamos ocupar a cidade, vamos nos divertir”. Mas e o outro lado? É triste andar pelas cidades. Não gosto de ficar fechada, não moro em condomínio, gosto de estar na rua. Por isso, moro em São Paulo, aqui eu sou mais livre.

'O sexo é algo que faz você se reconectar com a vida na terra e a vida no céu, é uma ponte', diz Alessandra Negrini — Foto: Jorge Bispo
'O sexo é algo que faz você se reconectar com a vida na terra e a vida no céu, é uma ponte', diz Alessandra Negrini — Foto: Jorge Bispo

Essa liberdade tem a ver com o quê?
No Rio existe um holofote, é uma cidade pequena. Aqui, em São Paulo, sou uma cidadã. Ando, ninguém me vê. No Rio, no shopping ao lado da minha casa, têm paparazzi, mas sei que as coisas são o que são e temos que aceitar. Eu estava desacostumada, agora que voltei para o Rio me surpreendi de novo. A minha vida pessoal é invisível, é isso que eu prezo

Você parece bastante segura. É muito “terapeutizada”?
Estou em uma entrevista, você acha que eu vou falar das minhas mazelas? (risos). Fiz análise a vida inteira, sou analisada. Adoro a psicanálise. Claro, tenho minhas questões, dias de chuva, dias de inverno, mas sou muito resiliente, tenho alma de superação. Por exemplo, é sofrido para mim estar no Rio, e a minha família em São Paulo. O Antônio não está nem aí para mim, eu me acostumei, mas sinto saudade dele (risos). Às vezes, me dá tédio, mas não me entrego fácil. Também sou perfeccionista, já chego na Globo avisando para a maquiadora que sou chata. Aí a pessoa já perdoa.

É ansiosa?
Sim. Por isso gosto de malhar, relaxo na academia. Não sou radical, tenho um corpo normal. Malho o suficiente para me sentir bem. A vida contemporânea é muito difícil para nós, mulheres, há demandas e cobranças com os filhos e o trabalho. Só que tem uma questão de país nisso, não há uma noção de comunidade, em outros países, mães dos mesmos bairros buscam filhos, só que aqui vivemos com essa tensão, afeta a todos. E torna tudo mais cansativo. O Brasil está impondo isso, estamos mais estressados, cansados.


Você já declarou seu voto no ex-presidente Lula, no que acha que ele deveria se debruçar se eleito?Ah, eu sou Lula. O óbvio é a questão econômica, interessa que as pessoas tenham emprego, educação e saúde. Sou de esquerda, mas acho que essa é uma questão que a esquerda às vezes desconsidera, a economia

O etarismo a afeta ? As pessoas gostam de repetir que você parece ser mais jovem do que é.
Isso enche o saco. É o mesmo assunto a vida toda. Agradeço, as pessoas estão tentando ser gentis, mas enche o saco. A pessoa não têm que parecer ter menos idade, cada um faz o que quiser. Procuro me sentir bem, tento ter esse compromisso comigo. Isso é interessante para viver a vida no máximo da sua capacidade. A forma como me coloco, quem eu sou, já é claramente antietarista. Não tenho vergonha de dançar, me divertir, fazer pose. Vejo mulheres, e até alguns homens, dizendo que são velhos para sair para dançar, por exemplo, e acho isso um pensamento tão careta. O Brasil é muito infantilizado, é como se o mundo só fosse feito para pessoas até 30 anos. É uma loucura. É uma luta para sermos mais adultos, é mais gostoso até do que ser adolescente.

Alessandra Negrini afirma que a opressão feminina é muito antiga, 'muito profunda e está muito enraizada'  — Foto: Jorge Bispo
Alessandra Negrini afirma que a opressão feminina é muito antiga, 'muito profunda e está muito enraizada' — Foto: Jorge Bispo

Ainda faz sentido perguntar se você é feminista?
Claro que faz, tem gente que não é. Ainda temos inúmeras dificuldades, tem muita coisa que a gente não percebe, há muito machismo velado até em nós (mulheres). Às vezes, nem sabemos quando estamos sendo machistas, não sabemos que o que estamos sofrendo pode ser fruto do machismo estrutural. A opressão feminina é muito antiga, muito profunda e está muito enraizada. A gente se pega sendo machista várias vezes na frente do homem, na frente do seu parceiro e só depois se dá conta. Essa questão ainda vai longe.

Em quais ocasiões o machismo afetou sua vida?
Inúmeras vezes. Até hoje, ganhamos menos do que os homens. Lutei pela minha vida, sempre fui independente. Mas, até assim, a gente tem vergonha de ser independente. Vem a dúvida: “Puxa, será que não sou independente demais?”. Aí vem aquele papo de “nenhum homem dá conta”. Ah, vá tomar banho! Foda-se que se assustam, quero nem saber. O homem brasileiro também não é fácil, a sociedade é muito machista.

Você é considerada uma mulher muito sexy. Como lida com isso?
Hoje eu me sinto mais livre para exercer isso do que antigamente. Antes tinha medo, agora eu “tô” cagando. Cansei. Minha linha de raciocínio sobre fazer ou não fazer, ser ou não ser, é aquilo que me faz estar dentro de mim mesma, do meu corpo. A medida do prazer. Tá gostoso? Tá prazeroso? Então, é isso que farei. Às vezes, não me sinto confortável com o meu corpo, aí quero ficar em casa de pijamão. Aí meu prazer estará em ver uma série na TV.

E o sexo melhorou com a idade?
Eu sempre fui sexualmente feliz. Se bem que depois dos 30 você é sexualmente mais feliz, você vai entendendo melhor o seu corpo. Sexo é muito recompensador, é algo que faz você se reconectar com a vida na terra e a vida no céu, é uma ponte. Taí, as pessoas devem cultivar o sexo.

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