Ela Gente

Mãe de Gloria Groove diz que filho fica lindo como drag queen

'Fiquei impactada com o resultado, ele muda bastante', diz Gina Garcia
Gloria Groove e Gina Garcia Foto: Leandro Balbino
Gloria Groove e Gina Garcia Foto: Leandro Balbino

Fui mãe aos 33 anos, depois de inúmeras tentativas. Daniel, meu único filho, foi muito esperado. Acho que Deus imaginou: “essa mulher teve tanta paciência, que eu vou dar ‘o cara’ para ela”. E meu menino é realmente “o cara”. A mina também. Tenho tudo numa só pessoa.

Percebi que o Dani era especial, uma criança diferenciada, quando ele tinha 6 anos. Não vou dizer que ele era delicado. Era quieto, na dele. Aos 13 anos, meu filho me chamou para conversar e contou que era homossexual. Na mesma hora eu disse: “Já sabia disso, mas estava esperando você se encontrar como pessoa”. Dani deixou claro que não era uma opção, e sim uma condição; que ele havia nascido assim. No fim, afirmei que estaríamos juntos 200% e que sempre o apoiaria.

O tempo foi passando e segui viajando com a banda Raça Negra, da qual faço backing vocal desde 1993. Certo dia, meu filho veio com um papo:

— É mãe, sou uma drag queen.

— Como assim? E como ela se chama?

— Gloria Groove.

— Gostei do nome.

Dani discorreu sobre o tema, explicou que o nome tinha a ver com a Gloria Gaynor, com quem eu cantei no Brasil, e com o “Glória a Deus”, louvação comum nas igrejas evangélicas — dos 6 aos 13, ele frequentou uma denominação. Também tinha algo da minha antiga banda, a Groove Machine. Enfim, meu filho juntou todas essas informações.

Pedi para vê-lo montado. O menino tinha arrumado até peruca, mas estava sem pincel. Peguei meu estojo e o presenteei. Fiquei impactada com o resultado, ele muda bastante, mas fica lindo como Gloria.

Dei blusa, saia e sapato (calçamos 41). O Dani me maquia direto e me mostrou a técnica do contorno.

De repente, a coisa tomou outro vulto: Gloria Groove começou a colecionar milhões de visualizações na internet com seus clipes e lançou o álbum “O proceder”, que é maravilhoso.

Pensando bem, o Dani, agora com 23, veio pronto. Apesar de ser cantora, nunca parei para ensinar-lhe notas e afins. Descobri sua vocação quando ele estava com 4 anos. Incentivei e parei, inclusive, de trabalhar durante um período para acompanhá-lo em sua carreira de artista mirim. Ele sou eu, porém muitos porcentos melhor. Me enxergo e me realizo nele. É foda — é exatamente essa a palavra — ver o lugar em que meu filho, Pabllo Vittar, Aretuza Lovi e tantos outros estão. Eles estão com o facão na mão, abrindo mata fechada.

Desejo que seja daí para mais, mas que o sucesso não seja só pelo sucesso. Que tudo isso sirva para mostrar ao mundo que é possível mudar a atitude dos indivíduos. E que meu filho seja, de fato, respeitado.

Ainda não gravamos um dueto, mas sei que vai acontecer no futuro. Me sinto no dever de cantar algo que passe a mensagem do amor universal, do não ao preconceito. Recebo mensagens no Facebook de fãs gays da Gloria pedindo para eu conversar com seus pais. Falo que eles precisam ter força e resistir. Temos obrigação de fazer algo.