Rogério Furquim Werneck
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Rogério Furquim Werneck
Informações da coluna


Salta aos olhos que o presidente não está em um bom momento. E que tem razões de sobra para estar preocupado. Não lhe bastassem a popularidade em queda e sua crescente apreensão com o desempenho que poderão vir a ter o PT e seus aliados mais próximos nas eleições municipais, Lula da Silva já não tem mais como se iludir quanto ao apoio efetivo com que o governo pode contar no Congresso.

O problema é que, angustiado como está, o presidente vem-se permitindo reações impensadas de todo tipo, com consequências altamente desestabilizadoras, que acabam por agravar ainda mais as razões pelas quais já estava atormentado, dando-lhe motivos redobrados para novas reações irrefletidas. A cada volta desse malfadado círculo vicioso, o quadro se torna mais problemático.

As reações impensadas do presidente não têm ficado restritas à esfera puramente política, como arriscar-se a partir para um conflito aberto com o Congresso ou apressar-se a comparecer à comemoração do 1º de Maio, em Itaquera, perante um público de gatos-pingados, para (ilegalmente) pedir voto para seu candidato a prefeito de São Paulo. Envolvem sobretudo reações com repercussões importantes na esfera econômica.

O presidente voltou a insistir em um discurso fiscal irresponsável, a promover relaxamento de metas fiscais e a se dedicar a sua malhação de Judas preferida, com novos ataques ao Banco Central, agora, já a poucos meses da tão aguardada indicação do novo presidente da instituição.

Não chegou a ser uma surpresa que tais desatinos tenham contribuído para a depreciação do câmbio, a exacerbação da percepção de risco fiscal e a consolidação de expectativas mais pessimistas sobre a queda factível de taxas de juros e o crescimento viável da economia.

O que deixou o presidente com razões ainda mais sérias para se preocupar. E, claro, mais propenso ainda a novas reações impensadas.

Em que medida as preocupações do presidente fazem sentido?

No que tange à popularidade, não há por que esperar que a queda até agora observada seja irreversível. Mas o que parece angustiar Lula é que, por passageira que venha a ser, uma queda de popularidade neste momento lhe dá mais razão ainda para se preocupar com as eleições municipais e a precariedade de seu apoio no Congresso.

O presidente tem, sim, boas razões para estar seriamente preocupado com o desempenho do PT e seus aliados mais próximos nas eleições municipais. A questão é quão longe ele ainda pretende ir em sua interferência na condução da política econômica e em sua insistência num discurso abertamente populista, para tentar evitar, em cima do laço, o temido desempenho eleitoral medíocre do PT, em outubro.

A precariedade do apoio parlamentar do governo é, de longe, o problema estrutural mais sério com que o presidente se defronta. Lula tem toda razão ao se mostrar extremamente preocupado com isso. Na esteira do empoderamento do Congresso, o presidente já percebeu que já não dispõe dos instrumentos de que dispunha, nos seus dois primeiros mandatos, para assegurar apoio parlamentar sem um verdadeiro governo de coalizão.

Mas, mesmo que Lula consiga sustar o círculo vicioso em que se meteu e passe a atuar de forma menos desestabilizadora, é difícil que deixe de lado sua resistência a compartilhar o poder e parta para um governo de coalizão de verdade.

Por enquanto, ainda não há razões para crer que a insistência de Lula em governar sem um apoio parlamentar confiável acabará redundando, necessariamente, em uma paralisia decisória de grandes proporções.

O que se teme é uma sucessão interminável de paralisias decisórias menos dramáticas, nas quais o governo se veja reiteradamente obrigado a aceitar acordos que lhe sejam desfavoráveis. E, nesse caso, claro, o risco de deterioração adicional do quadro fiscal tenderá a permanecer muito elevado até o fim do atual mandato presidencial.

Fácil não será.

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