Economia
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Por e — Rio de Janeiro

A economia brasileira voltou a acelerar nos primeiros três meses do ano, após dois trimestres seguidos no campo da estabilidade. O Produto Interno Bruto (PIB, o valor de tudo o que é produzido na economia) cresceu 0,8% no primeiro trimestre ante o último de 2023, segundo dados divulgados pelo IBGE nesta terça-feira.

A alta dos investimentos e do consumo das famílias puxaram o crescimento pelo lado da demanda. Pelo lado da oferta, o crescimento do setor de serviços — que responde por pouco menos de 70% do PIB — e a agropecuária impulsionaram a atividade econômica nos três primeiros meses de 2024.

Estimativas apontavam para aumento de 0,7%, segundo projeções compiladas pela Bloomberg.

Conjunção de fatores positivos no consumo

A combinação de queda dos juros, mercado de trabalho pujante, pagamentos de precatórios e reajuste de benefícios vinculados ao salário mínimo e continuidade de programas de transferência de renda ajudou a impulsionar a renda e, consequentemente, o consumo das famílias.

A alta foi de 1,5% no primeiro trimestre, ante os últimos três meses de 2023. Ante o primeiro trimestre do ano passado, o crescimento foi de 4,4%.

Houve uma "conjunção" de fatores positivos para o consumo no primeiro trimestre, segundo Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.

— Além dos juros mais baixos e da inflação (em queda), o crédito para as famílias está crescendo acima da inflação. Você está com toda uma conjuntura favorecendo a despesa das famílias.

Construção puxa investimentos — Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Construção puxa investimentos — Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

Investimentos puxam construção civil

Já os investimentos (a formação bruta de capital fixo, a FCBF) cresceram 4,1% em relação aos três últimos meses de 2023, com o aumento na importação de bens de capital (máquinas e equipamentos), do desenvolvimento de software e da construção civil.

Foi a maior alta nessa base de comparação desde o primeiro trimestre de 2021, de acordo com o IBGE. Naquela ocasião, quando a economia ainda estava em plena retomada após o fundo do poço da crise causada pela Covid-19, o componente subiu 6,4% em relação ao último trimestre de 2020.

Segundo o IBGE, foi um movimento de recuperação. Na comparação com o primeiro trimestre de 2023, os investimentos cresceram 2,7%, primeira alta após três trimestres de queda.

A taxa de investimento foi de 16,9% do PIB, ligeiramente abaixo dos 17,1% registrados no primeiro trimestre de 2023 — segundo Rebeca, do IBGE, a pequena queda se explica pelas diferenças entre valores nominais e reais, tanto do PIB quanto da FBCF.

Já a taxa de poupança foi de 16,2%, ante 17,5% no mesmo trimestre de 2023. Segundo Rebeca, essa queda foi mais importante e se deu porque as famílias direcionaram uma parte maior da renda extra disponível para o consumo das famílias, que cresceu bem acima do PIB.

Demanda doméstica é o motor

O crescimento econômico do primeiro trimestre se deu numa conjuntura “bem diferente” da verificada nos últimos dois anos, segundo Rebeca. Até o ano passado, a economia foi puxada tanto pela demanda doméstica quanto pela externa. Agora, o setor externo teve contribuição negativa, disse a pesquisadora do IBGE.

— O setor externo está puxando a economia para baixo. Esse crescimento de 0,8% é todo por causa da demanda interna — afirmou Rebeca, citando o consumo das famílias e os investimentos como os motores da economia.

No primeiro trimestre, as exportações cresceram apenas 0,2% em relação ao quarto trimestre de 2023, perdendo fôlego em relação aos ritmos do ano passado. Já as importações saltaram 6,5% na mesma base de comparação, puxada pela retomada dos investimentos, em parte direcionados para a compra de maquinário no exterior.

Quando as importações crescem mais do que as exportações, a demanda externa tem contribuição negativa para o PIB.

Serviços sobem 1,4% e puxam PIB

Pelo lado da oferta, a indústria patinou, com uma leve queda de 0,1%, enquanto os serviços puxaram a economia. A alta de 1,4% ante o quarto trimestre de 2023 foi a maior nessa base de comparação desde o quarto trimestre de 2020.

No fim do primeiro ano da pandemia, os serviços saltaram 3,1% em relação ao terceiro trimestre daquele ano, quando o início do restabelecimento do funcionamento das atividades cotidianas, ainda que com restrições ao contato social, provocou um efeito estilingue na economia, com forte recuperação após cair no fundo do posso no segundo trimestre.

Agora, segundo o IBGE, os serviços reagiram à demanda do consumo das famílias. O comércio avançou 3% — tanto sobre o quarto trimestre de 2023 quanto em relação ao primeiro trimestre do ano passado. Na comparação com um ano antes, os outros serviços, atividades que incluem bares, restaurantes, hotéis, salões de beleza, demandados pelas famílias, saltaram 4,7%.

Colheita de soja: agro impulsiona PIB no primeiro trimestre — Foto: Andressa Anholete/Bloomberg
Colheita de soja: agro impulsiona PIB no primeiro trimestre — Foto: Andressa Anholete/Bloomberg

Agricultura tem salto de 11,3%

Na comparação do primeiro trimestre com os três últimos meses de 2023, chamou a atenção um salto de 11,3% no PIB da agropecuária. Embora o desempenho tenha ajudado a impulsionar a economia no início do ano,

Rebeca, do IBGE, prefere chamar a atenção para as variações interanuais. Isso porque o desempenho da agropecuária é muito marcado pelo tipo de cultura que é colhida em cada época do ano — a colheita da soja, maior destaque da safra de grãos, se dá majoritariamente no início de cada ano, com algum efeito nos segundos trimestres.

E nessa base de comparação, a agropecuária recuou 3,0% em relação ao primeiro trimestre de 2023. Rebeca lembrou que já é esperado que o setor tenha uma queda no PIB este ano, após uma supersafra recorde de grãos em 2023:

— Pelas questões climáticas, principalmente do El Niño, já se sabia que não seria um bom ano para a agropecuária, especialmente pela queda das lavouras de milho e soja, que têm maior peso. (...) E óbvio que nos próximos trimestres terá a questão do Rio Grande do Sul afetando também.

A pesquisadora do IBGE explicou que, por causa da concentração das colheitas mais importantes no início do ano, é comum mesmo o PIB do agronegócio saltar nos primeiros trimestres de cada ano. Este ano, o efeito foi amplificado pelo fato de que duas culturas tradicionalmente colhidas no fim de cada ano — laranja e trigo — terem tido desempenho ruim em 2023, o que reduziu a base de comparação para o desempenho deste início de 2024.

Impacto das enchentes no RS no PIB

Economistas estão atentos, contudo, aos impactos das enchentes no Rio Grande do Sul sobre a atividade econômica — e eles vão além das colheitas de soja e arroz, citadas por Rebeca. Já são esperados efeitos negativos no segundo trimestre, embora a perspectiva seja de um "rebote" parcial no terceiro trimestre, com a reconstrução da região até o final do ano.

De forma imediata, as enchentes impedem as pessoas de consumir, interrompem a produção de fábricas e a prestação de serviços, provocam a perda de maquinário e estoques e inviabilizam a produção agrícola.

Numa segunda onda de efeitos, afeta a produção de empresas de outros estados, que dependem de insumos fabricados no Rio Grande do Sul. É o caso do setor automotivo, com destaque para peças e componentes, da indústria moveleira e das confecções.

O estado do Rio Grande do Sul pesa cerca de 6,5% na economia nacional, segundo o IBGE. Nas contas da equipe de Rebeca, metade do PIB gaúcho está em cidades que tiveram a situação classificada como calamidade pública.

— Temos que ver (os dados de) maio e junho e ver como vai ser esse espalhamento. Tiveram cidades que ficaram isoladas, mas não alagadas. Vamos ter que analisar isso melhor quando tivermos os dados — disse a pesquisadora do IBGE.

Juros elevados por mais tempo

Outro ponto no radar dos analistas é a perspectiva de uma política monetária mais restritiva por mais tempo do que o previsto, o que deve restringir parte do consumo nos trimestres seguintes.

Para Luís Otávio Leal, economista-chefe da gestora G5 Partners, embora as estimativas iniciais apontem um impacto negativo de poucos décimos de pontos percentuais das enchentes no Rio Grande do Sul no crescimento econômico de 2024, a tragédia climática contribuiu para uma mudança nas perspectivas para a economia este ano.

Nos primeiros meses, após sucessivas revisões para cima nas projeções de crescimento ao longo do ano passado, o cenário de boa parte dos economistas era de uma atividade econômica em ascensão, que poderia crescer até em torno de 2,5%, puxado pelo consumo das famílias.

Segundo Leal, parte desse cenário incluía a perspectiva de que, no segundo semestre deste ano, juros menores impulsionaram o crédito para o consumo e investimentos. Nas últimas semanas, porém, essa visão sobre o impulso vindo de juros menores mudou.

– Até março, a perspectiva era de Selic (a taxa básica de juros, definida pelo Banco Central, hoje em 10,5% ao ano) a 9% no fim do ano. Agora, (a projeção) está em 10,25%. Haverá menos impulso para a demanda via crédito – afirmou Leal.

Economistas vêm explicando que a mudança sobre o que esperam da política monetária passa tanto por uma alteração nos próximos passos do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), que vem indicando que adiará uma queda nos juros por lá, quanto por novos sinais de desequilíbrio nas contas do governo. Os dois fatores atuam na mesma direção, de impedir uma queda maior nos juros por aqui, disse Leal.

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