Se os Simpsons, a famosa família de desenho animado americana, morasse na Argentina, o salário de Homer, o pai, seria suficiente para pagar só 40% das despesas da família. Ou, como dizia o escritor brasileiro Millôr Fernandes, "sobraria mês no fim do salário". No caso, mais da metade do mês.
Essa foi a conclusão de um trabalho realizado pela consultoria Focus Market, na data em que é comemorada o Dia Internacional dos Simpsons (19 de abril). Se nos Estados Unidos os Simpson são retratados como a típica família americana de classe média, na Argentina estariam em sérios apuros econômicos. Como, aliás, está a imensa maioria da classe média argentina, cada dia mais empobrecida.
Na série, a única renda da família é o salário de Homer, que trabalha como inspetor de segurança numa usina nuclear. Na Argentina, de acordo com a Focus Market, o salário do pai de Bart seria atualmente de 1 milhão de pesos (em torno de R$ 5.200). É o que ganha um trabalhador qualificado num emprego de alto risco, com exposição à radiação. Marge é dona de casa, e não tem renda.
A empresa de consultoria considerou despesas como serviços domésticos e seguros, nas quais incluiu uma residência geriátrica para o pai de Homer, que custaria 520 mil pesos (R$ 2.736), e a parcela de financiamento da casa, estimada em 362.480 pesos (R$ 1.907).
Também foram somados gastos em seguros do automóvel, residencial, contas de luz, água e gás, assinaturas de celular e internet. O gasto total com serviços domésticos e seguros ficou em 1,18 milhões de pesos mensais, ou seja, mais do que o dobro do que seria a renda de Homer no país.
Isso sem contar despesas com alimentação e saúde, entre outras. Na Argentina, os Simpson, acrescentou o trabalho da Focus Market, não poderiam tirar férias, nem gastar em qualquer tipo de entretenimento familiar. Na série, Homer frequenta o bar de sua cidade várias vezes por semana, hábito que deveria eliminar se fosse um argentino de classe média baixa, como, de fato, está acontecendo com milhões de pessoas no país. Para um argentino de classe média comer fora virou luxo.
Qualquer atividade familiar fora de casa que inclua alimentação custa, pelo menos, 40 mil pesos (R$ 210). Para ter uma vida de classe média na Argentina, finaliza o trabalho da Focus Market, os Simpson precisariam ter uma renda de 2.64 milhões de pesos (R$ 13.900). Deste total, 44% correspondem a despesas com serviços domésticos e seguros; 39% alimentação, educação e saúde; 17% entretenimento, lazer e férias. O salário que Homer teria na Argentina cobriria apenas 39,7% dessas despesas, deixando um déficit familiar em torno de 60%.
“O equilíbrio das contas públicas no nível macro (ou seja, o ajuste feito pelo presidente Javier Milei) nesta primeira etapa gerou uma redução do salário e da renda real dos argentinos que impacta na classe média. O equilíbrio macro gera um custo no nível micro que em algum momento seria pago. A conta chegou para a classe média que a paga há décadas na Argentina ”, escreveu Damián Di Pace, diretor da Focus Market Consulting, nas conclusões do estudo.