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A solidão da mulher negra em espaços de liderança é “cruel”, pontua Nina Silva, fundadora e CEO do Movimento Black Money e do D’Black Bank. Ter uma posição no topo das organizações — onde é nítida a sub-representação feminina — exige da mulher negra, além de sua entrega profissional, o ativismo pela igualdade de gênero e racial, explica ela. A executiva defende que as mulheres reservem momentos para o descanso e, em caso de sinais de burnout, saibam pedir ajuda, sem abrir mão de planejar suas carreiras e ter metas de crescimento profissional.

Administradora, com décadas de experiência no setor de Tecnologia e hoje conselheira e CEO, Nina dá dicas para mulheres negras progredirem profissionalmente e na hierarquia das organizações.

A solidão na liderança

É extremamente cruel. Ela precisa permanecer naquele espaço e ainda defender todas as causas que vêm com ela. Eu, no fim do dia, sou especialista em tecnologia. Tenho 22 na área. Eu não era especialista em diversidade. Mas a representação da diversidade está em mim e vai estar em tudo o que eu for fazer.

Agora, e a pessoa que não tem essa visão do seu lugar de representante? É cruel porque os outros esperam que aquela única representante faça a cura da luta antirracista e feminista naquele ambiente empresarial. Isso tudo, além dela continuar fazendo o trabalho que já tem. Que horas essa mulher negra descansa?

Risco do ‘burnout’

Aconteceu comigo. Eu estava em um cargo de direção, em 2013, numa empresa internacional. Tinha deixado de ser CLT para ser PJ (pessoa jurídica). E trabalhava dia e noite, até porque sempre fui a pessoa da família que teve uma mobilidade social mais cedo.

Também tinha que lutar para mostrar os meus resultados em um ambiente extremamente tóxico, em que minha hora trabalhada valia menos que a de colegas homens brancos.

Saber procurar ajuda

O burnout veio aos poucos. Tinha dias que eu estava em uma reunião e parecia que estava flutuando. Em outros, eu não entendia o que as pessoas falavam. Eu ia para o banheiro chorar e não tinha com quem desabafar. Até que um dia eu não consegui ir trabalhar. Não consegui mais estar naquele ambiente e nem com outras pessoas. Foi quando eu decidi sair. O que eu aprendi é que não dá para fugir dos meus problemas sem levantar a mão e procurar ajuda. Você não precisa lidar sozinha com tudo, e eu não sabia disso.

Janelas de descanso

A literatura é o meu lugar de descanso. Eu também adoro séries policiais, e tento não ter os atravessamentos de raça e gênero a todo momento. Já li a coletânea de Harry Potter, por exemplo, para poder estimular o meu olhar ficcional. Lógico que as minhas prateleiras são, em sua maioria, de livros de pessoas pretas. Eu me alimento disso. Mas também preciso me alimentar de fantasia para descansar.

Atenção ao autocuidado

A gente não dá jeito em tudo? Não tem tempo para todo mundo? Então precisamos ter tempo para a gente. É verdade que o lugar da mulher negra é a base da pirâmide, mas essa pirâmide é extremamente pesada, e é preciso olhar para a base dela. Ter tempo para si é fundamental. Essa mulher precisa do espaço para a subjetividade. Eu fui entender agora, com 40 anos, que preciso do meu skincare também para aliviar a tensão, e não só para ter uma pele bonita.

Eu não tinha tempo de me olhar no espelho. Como eu ia ser espelho para outras se eu não me olhava? E esse olhar no espelho não necessariamente está ligado à beleza, mas à nossa necessidade de autocuidado.

Tempo livre

Essa é a busca de nós mulheres hoje: como se reencontrar todos os dias e poder se ver no espelho com a generosidade de que, se você não tiver tempo para si, não há como mudar a base e a pirâmide inteira. O baobá não faz sombra se está seco e sem alimento interno. E isso eu falo também para internalizar para mim mesma.

Entender limites

Gostaria de ter escutado: “Você não está errada e é muito f.”. Eu sempre reclamei quando um salário me parecia injusto e apontei claramente o dedo quando um projeto era meu e não do outro. Sempre fui muito fria nesse sentido. Então o que eu falaria para essa Nina do passado é: “Você não está errada”. Mas também falaria para olhar mais para dentro e entender os limites, porque ela não é imparável.

‘Gostaria de ter escutado que eu não estava errada’, diz fundadora e CEO do Movimento Black Money — Foto: Maria Isabel Oliveira / Agência O Globo
‘Gostaria de ter escutado que eu não estava errada’, diz fundadora e CEO do Movimento Black Money — Foto: Maria Isabel Oliveira / Agência O Globo

Ocupar espaços

Em todas as iniciativas do Black Money, a gente tem 100% de pessoas pretas e pelo menos 70% de mulheres. É sinal de engajamento delas na pauta de coletivismo e, ao mesmo tempo, diz muito sobre o lugar solitário da mulher negra no empreendedorismo. Essa mulher em geral é o baobá dos negócios, mas é a que mais sofre com a falta de financiamento, desde um capital inicial até uma rodada de fundos de risco. Também não vemos mulheres negras na liderança de negócios que estão na pauta de hoje, como a transição energética ou as healthtechs. A gente precisa que essa mulher esteja em todos os espaços e em todos os segmentos.

Ciência e tecnologia na mira

A desigualdade de gênero e raça é maior onde se demanda conhecimento técnico em Ciência e Tecnologia, porque esses espaços de poder são construídos para serem lugares de privilégio, onde um único grupo se fortalece sobre os demais. E isso não é à toa. Eles foram alicerçados sobre a estrutura do racismo estrutural e do patriarcado. Sabendo disso, a gente entende que não há diversidade justamente onde está o dinheiro. As mulheres negras precisam sentar nas cadeiras que discutem dinheiro e desenvolvimento econômico com responsabilidade. Essa é a solução: ter mais mulheres nos espaços de poder que ditam quais serão as áreas e carreiras do futuro. Se a gente não discutir alternância de poder, não tem como discutir equilíbrio e acessibilidade para todas as pessoas.

Foco em posições de poder

Hoje sou conselheira de instituições (Fiesp e United Way Brasil) e dou aula para formação de conselheiros no Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. Mas não estou no conselho de nenhuma empresa de capital aberto. Parece que essas empresas se sentem ameaçadas em ter conselheiras como eu. Falam que não há pessoas negras especialistas. Bom, eu dou aula para conselheiros de administração, e mesmo assim não sou chamada para conselhos. E sabemos o motivo.

Esse é um ponto importante: é preciso olhar para a falta de mulheres nos conselhos e na alta administração das empresas. Queremos ocupar espaços de poder, mas essas limitações são impostas.

Por isso, nós construímos os nossos próprios espaços, no caso do Movimento Black Money. É por isso também que temos tantas áreas e frentes: porque preciso que essas pessoas pretas sejam visibilizadas em diferentes áreas e estejam nas posições de poder.

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