A população da China diminuiu em um ritmo mais rápido em 2023, uma vez que os nascimentos caíram para uma baixa recorde, acelerando uma mudança demográfica que representa desafios de longo prazo para um governo que já está enfrentando pressões de deflação e uma crise imobiliária.
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O número de pessoas na segunda maior economia do mundo caiu pelo segundo ano em mais de dois milhões, chegando a 1,41 bilhão no ano passado, 2,08 milhões de pessoas a menos do que no ano anterior, de acordo com dados divulgados pelo Escritório Nacional de Estatísticas da China (NBS) nesta quarta-feira. A queda foi mais do que o dobro da registrada em 2022, quando a população chinesa diminuiu pela primeira vez desde 1961.
Quanto à taxa de natalidade, o país registrou 6,39 nascimentos por 1.000 pessoas, abaixo dos 6,77 do ano anterior. Segundo o NBS, esta é a mais baixa taxa de natalidade desde a fundação da China comunista em 1949. Nasceram cerca de 9,02 milhões de bebês, em comparação com os 9,56 milhões em 2022
Por sua vez, as mortes aumentaram para 11,1 milhões, quase 700 mil a mais do que no ano anterior e o maior número desde 1960. A agência não divide as mortes por causa, mas as mortes relacionadas à Covid provavelmente contribuíram para o aumento depois que as autoridades encerraram abruptamente as estritas restrições à pandemia em dezembro de 2022 e levaram a uma explosão de infecções.
Com a aceleração do declínio populacional, a segunda maior economia do mundo foi superada no ano passado pela Índia como a nação mais populosa do planeta.
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A queda nos nascimentos pode representar mais desafios para a economia da China, que registrou um crescimento de 5,2% em 2023, um dos mais baixos em mais de três décadas, segundo dados oficiais publicados nesta quarta-feira, refletindo um país que enfrenta uma grave crise imobiliária, um consumo fraco e uma turbulência global. Na terça-feira, em Davos, o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, anunciou que o PIB chinês havia superado a meta oficial de crescimento do governo para o ano sem depender de "estímulos maciços".
O Produto Interno Bruto (PIB) da segunda maior economia do mundo aumentou 5,2%, para 126 trilhões de yuans (R$ 87,06 trilhões), informou o Departamento Nacional de Estatísticas. O número melhora os 3% registrados em 2022, quando a atividade foi severamente afetada por rigorosas restrições anti-Covid. No entanto, é o pior resultado para a economia chinesa desde 1990 sem levar em conta os anos da pandemia.
Embora o valor esteja em linha com as expectativas e dentro da meta oficial de crescimento para o ano passado definido por Pequim, provavelmente aumentará a pressão sobre as autoridades para introduzirem mais medidas de estímulo para reativar a atividade empresarial e o consumo.
Depois de suspender as medidas sanitárias rigorosas no fim de 2022, Pequim estabeleceu uma meta de crescimento de “cerca de 5%” para o ano anterior. O regresso à normalidade pós-Covid levou a uma recuperação inicial da economia, que depois perdeu dinamismo à medida que a desconfiança recaiu sobre as famílias e as empresas e pesou sobre o consumo.
Uma crise generalizada no setor imobiliário, o elevado desemprego entre jovens e o abrandamento econômico global também pesam sobre o crescimento da China. As exportações do país, um pilar histórico da sua economia, caíram no ano passado pela primeira vez desde 2016, segundo dados divulgados sexta-feira pelos serviços alfandegários.
As tensões geopolíticas com os Estados Unidos e os esforços de alguns países ocidentais para reduzir a sua dependência da China e diversificar as suas cadeias de abastecimento também prejudicaram o crescimento. Só em março as autoridades deverão anunciar a sua meta de crescimento para 2024.
“A recuperação pós-covid mais decepcionante”
O comissário do órgão estatístico Kang Yi disse nesta quarta-feira que a recuperação foi “uma tarefa árdua” em 2023, como demonstram outros indicadores publicados na quarta-feira. As vendas no comércio, principal indicador do consumo das famílias, desaceleraram em dezembro com um aumento homólogo de 7,4%, contra os 10,1% registados no mês anterior.
A produção industrial acelerou ligeiramente para 6,8% em termos homólogos, contra 6,6% em novembro, e a taxa de desemprego aumentou para 5,1% neste mesmo período. Este último indicador está incompleto, uma vez que se baseia apenas em dados dos centros urbanos e exclui milhões de trabalhadores em zonas rurais particularmente vulneráveis ao abrandamento econômico.
Também não inclui a taxa detalhada para pessoas entre os 16 e os 24 anos, que deixou de ser publicada em maio depois de atingir um recorde de mais de 20% de jovens desempregados.
- O que a China viu no ano passado foi possivelmente a recuperação pós-Covid mais decepcionante que se possa imaginar - disse Shehzad Qazi, diretor da consultoria China Beige Book, à AFP. - A economia mancou no fim do ano. Qualquer verdadeira aceleração no próximo ano exigirá uma grande surpresa global positiva ou uma política governamental mais ativa - acrescentou.
"Uma oportunidade"
Ferida pela falta de confiança empresarial e pelo consumo lento, a China está tentando seduzir investidores internacionais. No Fórum de Davos, na terça-feira, o primeiro-ministro Li Qiang apresentou uma imagem optimista da sua economia.
- Não importa como a situação mundial mude, a China aderirá à sua política nacional básica de abertura ao mundo exterior. Escolher o mercado chinês não é um risco, mas sim uma oportunidade - acrescentou.
Mas os riscos são abundantes, especialmente no setor imobiliário que, após duas décadas de expansão frenética, representa um quarto do PIB. O elevado endividamento e a diminuição da compra de imóveis deixaram grandes empresas como Evergrande ou Country Garden em risco de falência.