Economia
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Por e — Rio e São Paulo

Em meio à onda de calor que assola o país, com temperaturas superiores a 40ºC em algumas cidades, quem trabalha debaixo do sol conta que o segredo é aproveitar a sombra durante os intervalos, além de beber bastante água e usar protetor solar. Sem camisa, os trabalhadores esperam uma brecha no dia a dia para jogar água na cabeça e encarar o calor intenso. A maior dificuldade, porém, é a volta para casa: transporte lotado, sem ar-condicionado, durante horas no trânsito.

Morador de Campo Grande, na Zona Oeste, Antônio Carlos Adão, de 60 anos, trabalha como zelador em um condomínio em Irajá, na Zona Norte da cidade. Seu dia se passa em uma pequena cabine, da qual controla a entrada dos moradores. Lá dentro, guarda garrafas de água dentro da minigeladeira e tem um ventilador, o grande aliado dos últimos dias.

muito pior do que no ano passado. bebendo bastante água, usando uma roupinha mais leve. Não tem como. Se não for assim, não tem como a gente trabalhar — conta.

Antônio Carlos Adão trabalha como zelador em um condomínio em Irajá: água e ventilador na cabine — Foto: Hermes de Paula
Antônio Carlos Adão trabalha como zelador em um condomínio em Irajá: água e ventilador na cabine — Foto: Hermes de Paula

Com o fim do expediente, às 19h, Adão ainda pega um ônibus até Coelho Neto. Depois, salta e pega outra condução até Campo Grande, totalizando cerca de uma hora e meia de transporte.

Para o funcionário da Águas do Rio Igor Freitas, de 25 anos, a saída é passar bastante protetor solar, reforçar a hidratação e refrescar a cabeça com água para suavizar o calor:

— O calor está muito, muito puxado. Não tem comparação. me hidratando e passando protetor solar — conta Freitas, que vai para casa em um carro fornecido pela empresa.

O calor extremo a que muitos trabalhadores estão expostos nos últimos dias têm levado companhias a ampliarem ou colocarem em prática medidas para trazer conforto térmico. Na empresa de saúde ocupacional 4Life Prime, foram instalados stands com águas e sucos à disposição dos trabalhadores.

A companhia costuma comprar salgadinhos para os funcionários uma vez por semana. Mas, quando a temperatura sobe, eles são trocados por frutas, mais leves.

Segundo o CEO Alex Araújo, é recomendável que as empresas monitorem a saúde dos funcionários, sobretudo aqueles que estão mais expostos ao sol. É o caso, por exemplo, de colocar uma enfermeira no ambiente de trabalho em dias de calor mais intenso e medir a pressão dos colaboradores regularmente.

— Treinar os funcionários sobre atos que podem causar um mal súbito, ou até mesmo desencadear o aumento da pressão, também é importante — explica.

Com investimento maior, seria possível colocar cabines para diminuir a temperatura corporal dos funcionários. Araújo conta que multinacionais costumam adotar essas cabines ou salas climatizadas, onde a temperatura é diminuída aos poucos para dar mais conforto durante as pausas. Além disso, as companhias podem disponibilizar reservatórios de isotônicos gelados, sem um custo muito alto.

Com 63 anos, Jorge Felipe trabalha dando acabamento em chapas de aço em uma empresa de Tomás Coelho, também na Zona Norte. O setor em que atua já é muito quente e cheio de poeira, mas o avental e a luva, ambos de couro, tornam o dia a dia ainda mais puxado. A pressão, algumas vezes, vai lá embaixo.

— Mas a empresa tem máquinas de refresco e ventiladores instalados, além de purificadores de água em todos os setores. Meu maior problema é dentro das conduções mesmo. É apertado, um calor danado, sem ar-condicionado. O corpo não aguenta — conta Felipe, que leva cerca de 40 minutos no ônibus até Costa Barros, onde mora.

'Quanto mais natural, melhor'

Por conta do calor, a construtora MRV conta com bebedouros em todos os seus canteiros de obra e os trabalhadores responsáveis pela montagem das formas metálicas, que estão mais expostos ao calor, têm duas pausas ao dia, quando recebem garrafas de isotônico.

De acordo com o engenheiro de segurança do trabalho da MRV no Rio, Maicon Henrique Eugênio, a companhia também busca conscientizar sobre a importância da hidratação durante o trabalho e o reforço do uso do protetor solar.

— Realizamos diálogos diários de segurança, abordando temas como a importância da hidratação, do protetor solar e da comunicação em caso de qualquer mal-estar — afirma.

Elias George Âmbar é um dos donos do Armarinhos Âmbar, loja que existe há 70 anos na rua 25 de Março, em São Paulo. O local, de corredores estreitos, estava apinhado de clientes na terça-feira. Mas não há ar-condicionado, apenas ventiladores de teto.

— É difícil para todo mundo, não temos para onde correr porque a temperatura está fora do normal. Mas como tudo na vida, a gente tem que passar. Não somos muito a favor de ar-condicionado, quanto mais natural, melhor — diz Âmbar.

Onda de calor: trabalho externo — Foto: Hyndara Freitas
Onda de calor: trabalho externo — Foto: Hyndara Freitas

Dureza para os autônomos

Já quem é autônomo não tem bebedouro nem ventilador. Ivann Monteiro, de 70 anos, trabalha três anos vendendo água, refrigerante, salgadinhos e até pano de chão na rua. Ele conta que a demanda dos motoristas que param no sinal, na Avenida Meriti, na Zona Norte do Rio, está maior nessas duas últimas semanas. Das 30 garrafinhas que coloca no cooler em cada dia, consegue vender cerca de 25:

— Melhor trabalhar no calor do que não trabalhar. Em casa está quente, aqui pelo menos está batendo um ventinho.

Ivann Monteiro vende água nas ruas da Zona Norte: "Em casa está quente, aqui pelo menos está batendo um ventinho" — Foto: Hermes de Paula
Ivann Monteiro vende água nas ruas da Zona Norte: "Em casa está quente, aqui pelo menos está batendo um ventinho" — Foto: Hermes de Paula

Há 20 anos trabalhando em uma barraca de calçados e roupas nos arredores da Rua 25 de Março, principal via comercial de São Paulo, Luciene Ferreira de Lima diz que nunca sentiu tanto calor como agora. Ela fica das 8h às 17h no local, e a única sombra onde consegue se abrigar é embaixo da lona da barraca — mas, a depender do horário, não há sombra alguma.

— É muito ruim trabalhar nesse calor. fora do comum. E o pior é que não bate nenhum vento, não refresca nenhum pouco. Só tomando muita água, o dia inteiro, nunca tinha bebido tanta água — conta Luciene, sob um sol de 35ºC na manhã de terça-feira.

Luciene Ferreira de Lima trabalha em uma barraca na região da Rua 25 de Março: "Tá fora do comum" — Foto: Hyndara Freitas
Luciene Ferreira de Lima trabalha em uma barraca na região da Rua 25 de Março: "Tá fora do comum" — Foto: Hyndara Freitas

Empresas têm de fornecer material

Segundo o advogado trabalhista Alexandre Fragoso, sócio do Briganti Advogados, os custos com equipamentos de proteção são sempre do empregador, que deve ainda fiscalizar o uso e substituir em caso de estrago. Protetor solar, roupa térmica, óculos escuros e bonés entram nessa categoria.

Em alguns casos, protetores de braços, mãos e pernas também podem ser necessários para minimizar os efeitos do calor. O treinamento quanto ao uso também é responsabilidade da empresa.

— E o protetor solar deve ser disponibilizado em quantidade suficiente para o uso regular e em todas as partes expostas ao sol pelo empregado — diz Fragoso.

A CET-SP informou que oferece a seus agentes protetor solar e óculos de proteção com lente cinza, além de um boné e capa de chuva, mas não há mudanças no uniforme. A Polícia Militar de São Paulo foi perguntada sobre as medidas que toma para aliviar o desconforto térmico dos agentes em dias de muito calor, mas não respondeu.

Na terça-feira, O GLOBO viu que agentes que ficam fazendo a ronda em ruas do Centro de São Paulo usavam camiseta de manga curta e um colete da PM por cima, além de calça e coturno. Já policiais do Batalhão de Choque estavam usando o uniforme tradicional, uma farda de manga longa.

Enquanto isso, vigilantes de empresas de segurança privada costumam passar o dia na porta de prédios comerciais e residenciais de terno, mesmo que os termômetros passem dos 30ºC.

Um segurança que trabalha em um condomínio residencial de luxo na região do Paraíso, que preferiu não ser identificado, conta que os últimos dias têm sido “muito difíceis” por causa do calor. Segundo ele, a saída é "buscar uma sombra e tomar muita água."

Na terça-feira, os seguranças foram autorizados a tirar o terno e trabalhar de camisa de manga longa e gravata.

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