À medida que avança o processo de privatização da Sabesp, o número de empresas interessadas nas ações da companhia de saneamento paulista está se afunilando. A Aegea, (que tem como acionistas Equipav, Fundo Soberano de Cingapura, e Itaúsa), e a Equatorial, que tem a concessão para operação de água no Amapá, despontam como as principais interessadas, segundo fontes do mercado.
Por fora, corre o empresário Nelson Tanure, que junto com um fundo de investimento venceu a concessão da Empresa Metropolitana de Água e Energia (Emae), primeira estatal do governo de São Paulo privatizada em abril passado.
— O modelo de privatização ficou bastante amarrado para que o acionista de referência busque a universalização dos serviços em 2029. Condições como o non compete (em que o vencedor não poderá participar de novas concessões em São Paulo) e a poison pill (mecanismo usado para impedir que um sócio adquira a maior parte das ações de uma empresa) acabaram afastando alguns investidores. Além disso, o momento negativo do mercado e outras prioridades das empresas interessadas podem ter reduzido o interesse por Sabesp — explica Percy Soares Neto, da Transparent Consultoria.
A novidade na disputa é a possibilidade de Tanure entrar no leilão. No mercado, circula a informação de que o empresário estaria alinhavando um consórcio de investidores, inclusive com a participação da BNDESPar (braço de investimento do BNDES). Procurada, a BNDESPAR informou “que não celebrou e nem está em vias de negociar qualquer acordo, convênio ou parceria com terceiros para participação na oferta pública da Sabesp”.
Segundo especialistas, a vitória de Tanure na Emae, com uma oferta de R$ 1,04 bilhão através do fundo Phoenix, do qual é cotista, trouxe um cenário de sinergia com a Sabesp. Um dos papéis importantes da Emae, além de geração de energia, é o de regulação das cheias dos rios Pinheiros e Tietê, por meio da Usina Elevatória São Paulo e da Usina Elevatória Pedreira.
A questão é saber as contas que foram feitas por Tanure com essa sinergia para saber se ela se transformará numa oferta pelas ações da Sabesp.
Tanure já é acionista de referência da Light e tem participações também na Gafisa, Alliança Saúde e Prio, de petróleo e gás. Ele tentou comprar uma participação na Dasa, mas a empresa fechou acordo para uma fusão de sua rede de hospitais com a Amil, companhia que empresário também quis adquirir em 2023.
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Já a Aegea sempre se mostrou interessada na Sabesp. A operadora, uma das maiores empresas de saneamento do país, já tem um acordo com a Yvy, gestora que busca investimentos verdes e tem como sócios o ex-ministro da Economia Paulo Guedes e o ex-presidente do BNDES, Gustavo Montezano. Procurada, a empresa não comentou o assunto Sabesp já que o processo de privatização entrou em período de silêncio.
Procurado, Tanure não se manifestou até a publicação desta reportagem.
![Estação de tratamento da Sabesp — Foto: Divulgação/Sabesp](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/0Pia4kydRzA1nLNM5pIlEUEVUrE=/0x0:3748x2213/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/A/c/5OHIPcTH6oyg1xFeA5YQ/estacao-de-tratamento-de-agua-guarau-sp-capital.jpg)
Percy Soares, da Transparent Consultoria, lembra que a Aegea não tem capital aberto (ações na Bolsa), mas tem se aproximado do mercado de capitais com financiamentos via equities, debêntures. Já a Equatorial não tem a mesma expertise que a Aegea em saneamento, mas tem ações na B3 e vem se aprimorando nesse segmento com a concessão de águas no Amapá.
E também, no caso de vitória, poderá contar com o corpo técnico da própria Sabesp, diz Soares. A Equatorial também não comentou o assunto Sabesp.
Entre as empresas que desistiram da privatizaão da Sabesp, estão a IG4 Capital, uma das maiores gestoras de ativos independentes, que controla a Iguá Saneamento, através de um fundo. A informação é que a IG4 entraria em consórcio coma francesa Veolia, de saneamento, mas as condições adversas de mercado pesaram negativamente.
A IG4 confirmou que desistiu da privatização, mas não informou o motivo. Procurada pela agência Bloomberg para explicar os motivos da desistência, a Veolia não comentou.
A Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de São Paulo informou que no último dia 7 de junho encerrou o período de oferta prévia, em que os interessados a participar da etapa de 'acionista de referência' da Sabesp fizeram uma pré-inscrição. A próxima etapa (fato relevante) será publicada nos próximos dias, com o prospecto e abertura da etapa da tranche do acionista de referência.
O modelo de privatização definido pelo governo de São Paulo, prevê que a oferta de ações da Sabesp terá um investidor estratégico, com o acionista de referência ficando com ao menos 15% das ações. O governo do estado de São Paulo pretende reduzir sua participação na empresa para cerca de 20%, dos atuais 50,3%. A expectativa é finalizar a privatização no terceiro trimestre deste ano.